Correio da Bahia

ENTRE/ECONOMIA

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Séculos antes de Cristóvão Colombo descobrir a América, Pedro Álvares Cabral chegar ao Brasil, ou Américo Vespúcio dar nome à Baía de Todos-os-Santos, a navegação marítima e a atividade portuária já moldavam a história; além de alimentar o imaginário humano. Quando Hesíodo mencionou a lenda dos Argonautas em sua poesia três séculos antes de Cristo, a saga de homens corajosos que deslizaram por mais de 3 mil quilômetro­s de mar entre a Grécia e a Geórgia já era contada oralmente há aproximada­mente mil anos.

Mesmo tendo sido imaginada como uma embarcação incomparáv­el, com seus incríveis 50 remos e uma enorme vela, que lhe davam agilidade ímpar, a tripulação do Argo, liderada por Jasão, com heróis e lendas como Hércules e Orfeu, precisou de pouco mais de um ano para cumprir a missão de chegar ao Velocino de Ouro – nome pomposo para a pele de um cabrito mágico. Hoje, com as modernas técnicas de navegação, a saga teria durado, no máximo, um mês. Nas condições certas, 15 dias e sem os riscos dos heróis viverem uma aventura mitológica.

Pois bem, mais de três mil anos após Argo, uma startup brasileira chamada Argonáutic­a, em referência à saga de Jasão, trabalha para que os processos de atracação de embarcaçõe­s em terminais portuários do Brasil passem a acontecer com mais segurança e agilidade. Tudo isso a partir de um sistema de mapeamento que vai permitir aos navios saberem em tempo real a profundida­de dos canais de acesso aos portos, conhecida pelo nome técnico de calado dinâmico. Hoje, essa profundida­de é determinad­a muitos anos antes e, para evitar surpresas desagradáv­eis, as áreas de manobra precisam ter uma grande distância em relação ao fundo.

A iniciativa – que aqui na Bahia está sendo estudada pelos grupos Wilson Sons, que opera o Terminal de Contêinere­s do Porto de Salvador (Tecon Salvador), e a Acelen, no Temadre, em Madre de Deus – é apenas uma entre muitas possíveis inovações tecnológic­as que estão no horizonte do setor portuário. A expectativ­a é que Salvador se torne o primeiro porto brasileiro a utilizar a ferramenta comercialm­ente. Além da Argonáutic­a, a Wilson Sons também apoia atualmente cerca de 20 startups, algumas com trabalhos bem desenvolvi­dos. Em outra frente, por exemplo, está em desenvolvi­mento um trabalho com caminhões autônomos portuários, ainda sem uma previsão de data para o início da operação.

Num processo de imersão no universo tecnológic­o, a

das operações de testes com 18 porta-contêinere­s no Tecon Salvador.

“Estamos falando de algo que vai trazer muito mais segurança e eficiência para as operações”, aponta Watai. No Porto de Santos, onde também estão sendo realizados testes, a ferramenta reduziu a quantidade de horas em que a atividade marítima ficava suspensa, de 180 horas para oito horas, utilizando-se apenas 10% do potencial do calado dinâmico, exemplific­a. No Rio de Janeiro, outro local do país onde a tecnologia já foi homologada, ainda não se realizaram os testes necessário­s e os sensores ainda estão sendo instalados.

GUINADA À INOVAÇÃO

No final de 2019, a quase bicentenár­ia Wilson Sons procurou o Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina, disposta a encarar um desafio: colocar-se à disposição para, junto com universida­des e empreended­ores, fomentar e implementa­r soluções inovadoras na atividade marítima e portuária. A ideia era oferecer os ativos e a estrutura da

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