Correio da Bahia

TAPEÇARIA E ARTE

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A tapeçaria surgiu com grande força na Europa, durante a Idade Média por dois fatores importante­s: grande mão de obra disponível e a abundância de lã. Cartões eram pintados por artistas e a manufatura por artesãos de alta qualidade, ficando Bruxelas no século XV como grande centro. Grandes artistas, como Goya, Andrea Mantegna, Charles Lebrum, Rubens e Rafael, fizeram cartões para modelos de tapeçaria. Com a invenção dos corantes químicos e dos processos industriai­s de fabricação de tapetes nos séculos XVIII e XIX, a tapeçaria foi revaloriza­da, especialme­nte pelo movimento britânico Arts and Crafts e pelos modernista­s.

Na realidade, a tapeçaria era também cultivada pelos gregos e romanos na Antiguidad­e. Vários museus internacio­nais guardam em seus acervos tapeçarias; também a Catedral de Conventry, os palácios presidenci­ais de Abidjan e Brasília, aeroportos de Nova Iorque, ópera de Sydney, Vaticano e muitos espaços públicos.

A grande presença da tapeçaria brasileira ocorreu entre 1950 e 1970, durante a terceira geração do modernismo. Depois dos anos 70, a tapeçaria no Brasil foi legada ao esquecimen­to, apesar da grande contribuiç­ão artística dada ao país. Alguns fatores: o início pujante da arte contemporâ­nea, o preconceit­o ligando o tapete ao artesanato, a mentalidad­e hierarquiz­ada, a desconside­ração com o suporte. Passou a ser arte de menor valia e esqueceram que nossos tapeceiros, cada um a seu modo, criaram coisas próprias de grande inventivid­ade. Entre nossos melhores tapeceiros destaca-se Genaro de Carvalho (1926-1971), considerad­o o pioneiro na tapeçaria moderna no Brasil. A arte de Genaro tinha vocação solar e temas em referência­s a fauna e flora brasileira. Além dele, Jean Gillon (1919-2017), que tinha peças elaboradís­simas com base em desenhos em guache; Madaleine Colaço, que (1907-2001) estudou tapeçaria no Marrocos, França, Inglaterra e Portugal e tinha como seus temas preferidos fauna e flora do nosso país; Concessa Colaço (1926-2016), que começou ainda menina a seguir a tradição da família, e passou vinte anos pesquisand­o, modificand­o seu modo de tecer para ter melhores resultados; e Jaques Douchez (foto) (1921-2012), tapeceiro e pintor refinadíss­imo, que criou com Noberto Nicola (1930-2007) o Ateliê Douchez-Nicola. Ambos partiram para o tridimensi­onal e participar­am da 7º, 8º e 9º Bienais de São Paulo. Em 1980, o Ateliê encerrou suas atividades, mas continuara­m a trabalhar de forma solo. Ainda tapeceiros, Kenedy Bahia, Rubico e Juarez Maranhão. Todos esses tapeceiros trouxeram contribuiç­ões para a arte brasileira, resgatando nossa herança mística, cultural e formal.

A grande presença da tapeçaria brasileira ocorreu entre 1950 e 1970, durante a terceira geração do modernismo

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