Escuridão constante em bairros da orla
Moradores de Stella, Praia do Flamengo, Ipitanga e Vilas fazem queixas da falta de luz; Coelba culpa furtos de cabos
A casa de Demeval Nascimento, 65, era conhecida em Stella Maris por ter uma grande lagoa em que o empresário criava peixes. Há pouco mais de um ano, ele desativou o atrativo por conta das constantes quedas de energia que prejudicavam a bomba responsável por oxigenar a água. As interrupções não são novidade para quem vive em Salvador, mas o furto de equipamentos da rede elétrica tornou o problema ainda mais grave no último final de semana. Moradores relatam até seis quedas do serviço em 20 minutos.
Desde a sexta-feira passada, Stella Maris, Ipitanga, Praia do Flamengo e Vilas do Atlântico registraram interrupções no fornecimento de energia - que só foi restabelecido completamente ontem. Moradores se queixam do “vai e vem”, que tem potencial para danificar aparelhos eletrônicos e causar transtornos no cotidiano. O furto de cabos de um equipamento chamado de “casa de manobra”, na Paralela, foi a razão para as oscilações, segundo informou a Neoenergia Coelba.
Morador de Stella Maris há 27 anos, Demeval foi um dos impactados pelo problema.
“No domingo foi terrível. Um dos piores dias. A energia ficou caindo e voltando muitas vezes”, conta. Além do desconforto causado, a máquina de lavar roupas da casa apresentou defeitos logo após o ocorrido no final de semana.
Nas redes sociais, muitas pessoas também fizeram reclamações e relataram os problemas. “Vilas do Atlântico num vai e vem de luz com menos de um minuto. (...) Minha vizinha perdeu a geladeira e eu o aparelho de som”, postou um homem.
VANDALISMO
Se de um lado moradores reclamam das condições do serviço, do outro, a Neoenergia Coelba culpa o vandalismo. Entre 2020 e 2023, houve um aumento de 600% na quantidade de furtos de cabos em Salvador. Foram 56 ocorrências registradas nos dois primeiros meses deste ano, contra oito no mesmo período em 2020. Barbalho, Pituba, Parque Bela Vista, Pernambués e Nazaré são as localidades em que mais acontecem furtos.
“Os furtos colocam em risco toda a população porque algum fio energizado pode ficar no chão e eletrocutar alguém, inclusive quem realiza o furto. O outro problema é o comprometimento da qualidade do abastecimento”, explica Tales Itaborai, gerente de Operações
Domingo foi terrível. Um dos piores dias. A energia ficou caindo e voltando Demeval Nascimento Morador de Stella Maris
da Neoenergia Coelba. A distribuidora realizou manobras remotas na rede enquanto a máquina danificada passava por manutenção, o que causou as oscilações.
Os fios de materiais metálicos são os grandes alvos dos bandidos, que repassam o material após o crime. Em julho do ano passado, uma operação conjunta da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Civil apreendeu 4,5 toneladas de fios de cobre e alumínio. Os produtos, avaliados em R$ 500 mil, foram encontrados em cinco empresas nos bairros de Pirajá e Valéria. Procurada, a Polícia Civil disse que investiga os receptadores através da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos.
Além do vandalismo, outros fatores podem desencadear interrupções no fornecimento de energia, como aponta uma pesquisa realizada em 2021 pela Generac, empresa que produz geradores residenciais. Segundo o levantamento, 59% das quedas ocorrem por problemas nas próprias instalações elétricas, como defeitos materiais, sobrecargas e falta de equipamentos.
Apenas 11% das 250 mil interrupções registradas em todo o país foram causadas por ações externas, como vandalismos. A Agência Nacional de Energia Elétrica foi procurada para comentar a questão, mas não retornou aos questionamentos da reportagem.
PROBLEMAS COTIDIANOS
Apesar da Coelba considerar que as quedas de energia são questões isoladas, quem convive com o problema não se satisfaz com a explicação. O estudante Bernardo Machado, 18, é um dos moradores de Stella Maris que critica o serviço. “A queda de energia acontece constantemente em Stella Maris, mais especificamente na região do Petromar. Atrapalha muito o nosso dia”.
O jornalista Rodrigo Portela, 22, que vive em Lauro de Freitas, tanto se acostumou com o problema que nem busca saber mais qual a razão para as oscilações no serviço. “O bairro todo ficou sem energia há umas duas semanas. Não entrei em contato com a Coelba porque é algo que sempre acontece por aqui”, critica.
Os furtos colocam em risco toda a população. (...) O outro problema é o comprometimento da qualidade do abastecimento Tales Itaborai Gerente de Operações da Neoenergia Coelba