Bolsonaro vai devolver joias, diz advogado
Presente do regime da Arábia Saudita entrou de forma irregular no Brasil
Brasil pelas mãos da comitiva do então ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque. No estojo estavam uma série de peças em ouro, com relógio, par de abotoaduras, caneta, anel e um masbaha (uma espécie de rosário islâmico), todos da marca suíça Chopard. O site da loja vende peças similares que juntas somam, no mínimo, R$ 400 mil.
Ao mesmo jornal, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ajudante de ordens e "faz-tudo" do ex-presidente, disse que o estojo está com Bolsonaro, no "acervo privado" dele, no Brasil. A entrada das peças no país sem declarar à Receita e a apropriação pelo presidente estão irregulares. O entendimento do TCU é que ex-presidentes só podem ficar com lembranças de "caráter personalíssimo", como roupas e perfumes.
A decisão de Bolsonaro de entregar os presentes ocorre após o próprio presidente ter dito que desconhecia as peças que entraram ou que ficaram retidas na alfândega, em Guarulhos, apesar de o Estadão já ter demonstrado que, em diversos momentos, houve ordem expressa do então presidente para reaver o item apreendido, além de ter ficado com o segundo pacote.
RECIBO
encerrar seu mandato e deixar o Brasil rumo aos Estados Unidos, onde se refugiou desde 30 de dezembro.
Antes, as joias ficaram por mais de um ano nos cofres do Ministério de Minas e Energia. Elas chegaram ao Brasil trazidas pelo então ministro Bento Albuquerque em outubro de 2021. Ele não declarou o ingresso do estojo, o que pela legislação é um crime. No mesmo voo, estava um assessor do ministro com outro estojo da marca Chopard, contendo um colar, um par de brincos, relógio e anel estimados em 3 milhões de euros (R$ 16,5 milhões) Essas últimas peças, porém, foram apreendidas pela Receita Federal quando o assessor do ministro também tentou entrar com elas ilegalmente no país. Foi o próprio ex-ministro de Bolsonaro quem revelou que as joias eram para o ex-presidente.
Em entrevista ao Estadão, Bento Albuquerque contou detalhes. Disse que ele e sua comitiva estavam deixando a Arábia Saudita, onde participaram de um evento representando Bolsonaro, quando um representante do regime os encontrou no hotel e entregou dois pacotes. Segundo ele, o conjunto de brilhantes avaliado em R$ 16,5 milhões era um presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O outro pacote era para o presidente.
Ao desembarcar em São Paulo, a comitiva pegou um voo para Brasília e trouxe o segundo estojo, sem passar pela alfândega, como o próprio ex-ministro admitiu. "Quando nós chegamos em Brasília, nós abrimos o outro pacote. Nós pegamos, fizemos um documento, encaminhamos para a Receita ou para o Serviço de Patrimônio da União... não sei, quem fez isso foi o gabinete (do MME). E foi isso", afirmou.