Mais de 110 escolas sem aulas por falta d’água na capital
Desabastecimento São 30 mil alunos prejudicados pela demora da Embasa em concluir obra de manutenção
A falta de água em 102 bairros de Salvador, gerada por uma obra da Embasa, deixou ao menos 30 mil alunos de 109 escolas da cidade sem aulas, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Smed). O número de estudantes pode ser ainda maior já que, procurada pela reportagem para informar sobre o impacto na rede estadual, a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) não respondeu até o fechamento desta edição, às 23h.
Viviane Oliveira, 35, é moradora de Cajazeiras e reclama da falta de aula para o filho. "Não teve ontem [anteontem] e nem hoje [ontem]. A gente é prejudicado demais nessa história. Até mandei ele para casa da avó tomar banho, se ajeitar e ir [para a aula]. Quando chega lá, dá de cara com o portão fechado. Fica sem água e sem estudar", reclama a dona de casa, que também sofre para fazer o almoço e realizar tarefas domésticas.
Um pai que preferiu não se identificar e é morador do Bairro da Paz, afirma que além do prejuízo estudantil para a filha, a ausência das aulas significa uma perda financeira. Motorista de aplicativo, ele deixou de rodar para cuidar da criança. "Ela estuda de manhã, horário que eu e a mãe trabalhamos. Sem aula e sem ninguém para olhar, eu tive que abrir mão de rodar. A mãe não tem como parar e, querendo ou não, meu trabalho é mais flexível. O negócio é que deixo de ganhar uns R$ 250 por dia nessa situação", lamenta.
Nos dois casos, a água deixou de cair desde às 8h de segunda-feira (15). Isso porque a Embasa realizou uma obra que interliga um trecho de quatro quilômetros de duplicação de adutora, no sistema integrado de abastecimento (SIAA) de Salvador. A previsão de retorno do serviço era às 0h da terça-feira (14), o que não aconteceu até então em diversos bairros.
Presidente da Embasa, Leonardo Góes explica que "uma válvula de dois metros instalada na adutora, depois que retomamos o serviço, apresentou um problema de fábrica e não vedou como deveria. A empresa fornecedora, inclusive, virá para Salvador fazer perícia. Foi necessário esvaziar a adutora e substituir o equipamento. Concluímos o ajuste às 3h desta quarta-feira (15). O serviço volta de maneira gradual e, até o fim da noite de quinta-feira [hoje], vai estar totalmente normalizado", garante o presidente.
RESTAURANTES E BARES
Quem trabalha com alimentos também padece. Restaurantes e bares tiveram atividades prejudicadas por conta do problema. A Churrascaria Bom Prato, em Cajazeiras, resistiu na segunda-feira. Na terça, porém, precisou fechar mais cedo. "Como temos reservatório de água, na segunda conseguimos segurar as pontas e funcionar, mesmo com falta desde a manhã. Na terça, a gente precisou fechar mais cedo porque não tínhamos água suficiente para lavar pratos", conta o gerente Jailson Aragão.
Leandro Menezes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA), diz que nenhum associado ficou sem operar, mas houve adaptações. "Tive relatos de orientação para racionamento e contratação de carro pipa".
Os caminhões pipa, que ajudam na hora do desabastecimento, estão praticando preços proibitivos com a crise hídrica gerada pela obra da Embasa. "Uma compra que já fiz de R$ 300, agora o mais barato está R$ 920 e cheguei a encontrar um de R$ 2 mil", conta Emanuele Nascimento, 43, moradora de Itapuã, que está sem água desde segunda-feira.
Síndico de um condomínio na Vila Anaití, no Imbuí, Luciano Ferrão, 52, diz que contratou sete veículos para atender a demanda dos condôminos e também pagou mais caro. "Já tem empresa de caminhão pipa pedindo mais de R$ 900 pelo serviço, é um valor muito acima do comum para 10 mil litros".
A população reclama sobre o envio caminhões pipa pela Embasa. O presidente Leonardo Góes explica que não existe número suficiente para suprir a demanda da cidade e que a prioridade são as unidades de saúde.