Canivete suíço
Crise do banco Credit Suisse tem forte impacto nos mercados globais
A Bolsa de Paris perdeu 3,58%; a de Frankfurt, 3,27%; e a de Londres, 3,83%. Já a de Milão recuou 4,61%, e a de Madri, 4,37%. O Índice do Setor Bancário Europeu (Stoxx 600 Banks) caiu quase 7%.
Como se vê, a tensão foi global e começou após o Credit Suisse anunciar “debilidades significativas” nos balanços e nos controles nos últimos dois anos somada à negativa do principal acionista da instituição suíça, o Saudi National Bank (SNB), da Arábia Saudita, de oferecer mais assistência financeira suíça.
A crise no Credit Suisse ocorre dias após dois bancos norte-americanos ligados a empresas de tecnologia - Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank - falirem e terem os depósitos dos clientes garantidos pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central norte-americano). O temor dos investidores é que ocorra uma reação em cadeia de quebra de instituições financeiras em todo o mundo. Algo semelhante aconteceu em 2008, a partir da quebra do Lehman Brothers, nos EUA, teve início a uma crise econômica planetária.
Ao longo da tarde de ontem, porém, dois fatores arrefeceram a instabilidade. No cenário externo, o Banco Central suíço garantiu que pode socorrer o Credit Suisse, se necessário. No doméstico, a confirmação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que o novo conjunto de regras fiscais será anunciado antes da viagem oficial à China, prevista para a última semana deste mês.
ACOMPANHAMENTO
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que está acompanhando com sua equipe a crise no banco suíço Credit Suisse. Questionado por jornalistas se ele havia entrado em contato com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para falar sobre o assunto, ele sinalizou positivamente. Haddad, inclusive, já estava conversando com Campos Neto, desde o final de semana, sobre os desdobramentos do fechamento do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, os maiores bancos americanos a quebrarem desde a crise de 2008.
O monitoramento sobre a crise também ocorre na Europa. Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) entraram em contato com bancos que a instituição supervisiona para questioná-los sobre sua exposição financeira ao Credit Suisse. A consulta foi feita após a ação do Credit Suisse despencar 24% na Bolsa de Zurique ontem, arrastando os papéis de outros grandes bancos europeus em meio a temores de contágio financeiro.
O Credit Suisse é classificado como instituição financeira "sistemicamente importante", segundo regras bancárias internacionais criadas após a falência do Lehman Brothers. Essa designação exige que o banco detenha quantidades maiores de capital e mantenha planos para uma liquidação ordenada de suas operações caso venha a ter problemas.
Os principais reguladores do Credit Suisse estão na Suíça, mas por contar com operações na Europa, no Reino Unido, na Ásia e nos EUA, o banco suíço também é acompanhado de perto por autoridades locais.
Na visão da Capital Economics, a questão do Credit Suisse deve ser avaliada como um "problema global", sendo uma preocupação muito maior para a economia do que os bancos regionais dos EUA no começo da semana.