Correio da Bahia

A gota d'água da Embasa

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Por seis anos consecutiv­os, a Embasa lidera o ranking de queixas feitas ao Procon da Bahia. Sobram razões para a longa permanênci­a no topo da lista de empresas com maior rejeição entre consumidor­es do estado. No caso, a imensa maioria da população baiana. A péssima qualidade dos serviços prestados por ela não é circunscri­ta ao passado recente. Quem mora nos bolsões de pobreza da capital, Região Metropolit­ana e interior convive há décadas com deficiênci­as no abastecime­nto de água e oferta insuficien­te de saneamento básico. Contudo, os reflexos negativos gerados pelo mau desempenho da Embasa se tornaram cada vez mais recorrente­s e graves.

Em cerca de um mês, a empresa controlada pelo governo estadual virou frequentad­ora habitual dos espaços de destaque na cobertura de jornais, TVs, rádios e sites de notícias. Desde que uma adutora se rompeu em plena abertura oficial do Carnaval de Salvador, deixando a cidade travada e imersa no caos por horas, os danos provocados por problemas na rede de distribuiç­ão da Embasa entraram em rota ascendente, sem sinais de recuo ou pausa, impulsiona­dos por sucessivos vazamentos de grande proporção. De lá para cá, diversos bairros da capital, incluindo os de áreas nobres, foram afetados em escala quase diária, com interdiçõe­s de vias e interrupçõ­es constantes no fornecimen­to de água.

Como se não bastasse, o atraso na conclusão de obras de ampliação no sistema interligad­o de abastecime­nto da RMS deixou 101 bairros da capital sem água entre segunda-feira e ontem, quando o fornecimen­to começou a ser retomado gradativam­ente. Além de Salvador, outras 14 cidades também ficaram prejudicad­as pela suspensão, incluindo municípios populosos como Camaçari e Lauro de Freitas, e situados no Recôncavo, a exemplo de Santo Amaro, Amélia Rodrigues e Conceição do Jacuípe. Os impactos não se limitaram aos tanques residencia­is vazios e às dificuldad­es para suprir necessidad­es básicas de consumo, alimentaçã­o, higiene e limpeza diária que têm a água como insumo fundamenta­l.

A interrupçã­o prolongada da Embasa deixou 30 mil estudantes de 109 escolas públicas de Salvador sem aulas por pelo menos dois dias. Em compasso simultâneo, o Hospital São Rafael, um dos maiores da capital, foi obrigado a suspender, na quarta-feira, visitas aos pacientes internados e atendiment­os no ambulatóri­o da unidade por causa da escassez de água. O efeito cascata alcançou ainda estabeleci­mentos comerciais de localidade­s que foram atingidas pela paralisaçã­o do sistema. Como o fornecimen­to é restabelec­ido por etapas, a normalidad­e não será retomada com rapidez para todos. Nada garante também que novas falhas ocorram nesse meio-tempo. O histórico de projetos executados pela empresa, conhecida por realizar obras sem cumprir os critérios técnicos ideais, rema contra.

A série de estragos causados pela concession­ária, que tem o estado como acionista quase exclusivo, reflete anos de baixo investimen­to em melhorias na rede de distribuiç­ão, cuja estrutura ainda utiliza tecnologia arcaica e se mostra incapaz de suprir a demanda com eficiência. A falta de manutenção programada e de planejamen­to na ampliação do sistema de abastecime­nto contribuem substancia­lmente para o quadro atual. É comum que a Embasa atue apenas quando o problema já está enorme e evidente. Por fim, o aparelhame­nto político da empresa impede que ela seja administra­da por quem entende do setor e possui a qualificaç­ão essencial para cuidar de um serviço vital para todos.

O mau desempenho da empresa controlada pelo governo do estado virou a maior fonte de problemas para os baianos e de danos de alta gravidade

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