Preta, baiana e global
Novela das seis, Amor Perfeito estreia segunda, com texto de Elísio Lopes Jr.
Beije sua preta em praça pública; representatividade importa; onde estão os pretos na televisão? Todas essas afirmações e questionamentos balizam pautas do movimento negro. Se ver em locais de destaque e poder é importante para construir autoestima e se sentir pertencente. A televisão é um desses espaços, mas, ao longo do tempo, pessoas negras estiveram colocadas em locais de subalternidade nas novelas.
Em Amor Perfeito, nova novela das seis, que estreia nesta segunda, há uma grande possibilidade de se construir um marco para a tevê brasileira por conta da quantidade de pessoas pretas que aparecem nos mais diversos papéis. Parte dessa história tem o dedo do baiano Elísio Lopes Jr, que estreia na teledramaturgia e é um dos nomes que assina a nova produção global. Escrevem com Elísio, Duca Rachid e Julio Fischer.
A trama é ambientada entre os anos 30 e 40, na fictícia cidade de Águas de São Jacinto, onde personagens pretos ocupam lugar de destaque na sociedade. Segundo a rede Globo, metade do elenco é composta por atores pretos. “Eu almejo poder construir na teledramaturgia personagens que amam, que são felizes, que têm objetivos próprios, que são vilões, mocinhos, pobres e ricos, com sua existência humana, com alma. Se o racismo, que faz parte da história do nosso país e que atravessa a nossa existência, tiver sentido e passar ali, na vida do personagem, ele vai ser retratado”, diz Elísio.
A história narra o amor de Maria Elisa Rubião, a Marê (Camila Queiroz), moça rica, pelo jovem médico Orlando (Diogo Almeida). Noiva de Gaspar (Thiago Lacerda), filho mais velho do prefeito Anselmo (Paulo Betti) e da primeira-dama Cândida (Zezé Polessa), Marê vai contrariar os desejos do pai, o empresário Leonel Rubião (Paulo Gorgulho), para viver esse amor por Orlando.
A morte trágica do pai, assassinado pela madrasta Gilda (Mariana Ximenes) e a ação da vilã para culpá-la faz com que Maria Elisa seja presa injustamente. O que ela não imaginava é que, naquela altura, já estava grávida de Orlando. Desiludido e enganado, o médico vai embora do país, certo de que Marê não se importa mais com ele. Condenada injustamente, ela decide fugir com duas companheiras de cela e dá à luz a Angelo. Para fugir do cerco da madrasta, ela pede a uma delas que entregue o menino a Olímpia (Analu Prestes), mas o bebê acaba sendo deixado na porta da igreja e criado pelos padres, que lhes dão o nome de Marcelino (Levi Asaf).
Oito anos depois, Marê sai da cadeia e Orlando, que nunca a esqueceu, volta ao Brasil decidido a reconquistá-la. Ela lhe comunica que eles são pais de um menino que desapareceu, e os dois se unem para resgatar o garoto.
Com esse enredo e elenco, Elísio acredita que é possível mostrar o racismo pelos olhos de quem vê, com suas brutalidades e sutilezas em um ambiente como o início do horário nobre da maior emissora de TV brasileira. “Num país como o Brasil, onde a novela forma opinião, é muito feio se você não encara esse desafio de colocar narrativas responsáveis diariamente da casa das pessoas”, pondera .
Uma das atrações da novela tem 9 anos e nasceu em Juazeiro. É o ator-mirim Levi Asaf, que dá vida ao pequeno Marcelino e já é xodó do elenco. Ele começou a atuar aos 5 anos e não parou mais. O interesse pelas artes cênicas foi percebido pelos pais, quando Levi criava filmes com seus bonecos e interpretava todos os personagens.