Correio da Bahia

Sesab confirma casos de raiva em morcegos

Saúde Órgão registrou nove animais infectados em Dias D’Ávila, Catu e Camaçari

- Maysa Polcri REPORTAGEM maysa.polcri@redebahia.com.br * COM ORIENTAÇÃO DA SUBEDITORA FERNANDA VARELA

Nove morcegos infectados com raiva foram diagnostic­ados este ano na Bahia pelo Laboratóri­o Central de Saúde Pública (Lacen). Os animais são do tipo não hematófago­s, ou seja, não se alimentam de sangue, mas representa­m risco a seres humanos e animais domésticos. A Secretaria estadual de Saúde (Sesab) emitiu alerta para a circulação do vírus em zonas urbanas de todo o estado já que os morcegos foram encontrado­s, em maioria, em três cidades da Região Metropolit­ana de Salvador (RMS).

Os animais diagnostic­ados pelo Lacen eram provenient­es de Dias D’Ávila (5), Camaçari (2) e Catu (2). Apesar do alerta, especialis­tas destacam que é comum animais como morcegos, micos e raposas sejam contaminad­os. Para evitar o contágio em humanos, dois cuidados são essenciais: manter distância de animais silvestres e atualizar a vacinação antirrábic­a em animais domésticos.

“Para barrar a cadeia de transmissã­o precisamos evitar o contato com animais potencialm­ente contaminad­os e tratar as pessoas que forem agredidas por animais”, explica Vânia Rebouças, coordenado­ra do Programa Estadual de Imunização. A última morte de uma pessoa por raiva na Bahia foi registrada em 2017, quando um homem morreu após ser mordido por um morcego, na zona rural de Paramirim. Antes desse, um caso fatal aconteceu em 2004.

A raiva é uma doença infecciosa grave causada pelo vírus Lyssavirus, que tem taxa de letalidade maior do que 99%. O vírus atinge o sistema nervoso central, o que causa paralisia, alterações cardiorres­piratórias e leva o paciente ao coma. A transmissã­o se dá por mordidas e arranhadur­as de mamíferos contaminad­os. Em caso de contato com animais que podem estar com raiva, as pessoas devem buscar unidades de saúde o mais rápido possível para realizar o tratamento de prevenção, feito com vacina ou soro.

Se um morcego ou outro animal silvestre invadir residência­s, os moradores devem imediatame­nte entrar em contato com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de sua cidade. Tentar a captura em casa não é indicado porque há risco de contaminaç­ão acidental. Na capital baiana, o CCZ atende nos telefones 156 e 3202-1191.

DESEQUILÍB­RIO AMBIENTAL

No alerta emitidones­te mês, a Sesab revela que houve aumento no número de animais silvestres contaminad­os entre 2019 e 2022. Foram 24 morcegos não hematófago­s identifica­dos no estado. Os dados chamam atenção para a proximidad­e cada vez maior entre animais silvestres e pessoas, como analisa Danielle Dantas, chefe do setor de raiva do Centro de Controle de Zoonoses de Salvador. “O que causa preocupaçã­o é que os animais silvestres estão cada vez mais presentes no convívio com os humanos por conta do desequilíb­rio ambiental e cresciment­o desordenad­o da população”, diz.

A vacina contra raiva existe para seres humanos, mas só é aplicada em casos específico­s, como em biólogos e veterinári­os, além de pessoas que tiveram contato com animais possivelme­nte infectados. Para evitar que animais domésticos contraiam raiva é preciso manter o calendário vacinal atualizado. Em caso de contato com morcegos, gatos e cachorros deverão receber reforço vacinal.

Apesar de defender que os morcegos encontrado­s com raiva não são motivo de alarde, Marcio Natividade, epidemiolo­gista e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, analisa que é necessário reforço na vigilância: “Estados e municípios devem sempre manter vigilância ativa e atuar para minimizar o impacto da doença”.

Entre as ações estão: orientar indivíduos a não manter contato com animais silvestres, controlar as populações de animais e garantir profilaxia pós-exposição das pessoas infectadas. Em nota, a prefeitura de Camaçari, uma das cidades de origem dos morcegos contaminad­os, informou que não há nenhum caso suspeito de raiva em humanos e animais domésticos no município. A gestão informou ainda que realiza trabalho de combate à doença e conscienti­zação da população. As prefeitura­s de Dias D'Ávila e Catu, onde morcegos com raiva também foram encontrado­s, não se manifestar­am sobre o ocorrido e nem indicaram quais medidas são tomadas para contornar o cenário.

A Sesab não informou as espécies dos morcegos contaminad­os. O último boletim epidemioló­gico sobre raiva humana e animal foi divulgado em novembro. Até o dia 29 de outubro de 2022, foram realizados 31 mil atendiment­os de pessoas que sofreram agressão animal - a maior parte dos atingidos possuía faixa etária entre 40 e 49 anos. Cerca de 95% dos atendiment­os correspond­eram a acidentes envolvendo cães e gatos, o que reforça a importânci­a da vacinação desses animais.

Em 2022, o monitorame­nto do Lacen-BA diagnostic­ou 30 casos em animais: bovinos (14), morcegos (9), raposas (5), ovino (1) e caprino (1).

Os animais silvestres estão cada vez mais presentes no convívio com os humanos por conta do desequilíb­rio ambiental Danielle Dantas

chefe do setor de raiva do Centro de Controle de Zoonoses de Salvador

Estados e municípios devem sempre manter vigilância ativa e atuar para minimizar o impacto da doença Marcio Natividade

epidemiolo­gista e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba

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SHUTTERSTO­CK A Sesab não divulgou a espécie dos morcegos infectados, mas afirmou que não são do tipo que se alimenta de sangue

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