Justiça mantém empresário preso
Audiência Marcelo Araújo Pinto pagava para ter acesso a vídeos com atos libidinosos
Após audiência de custódia realizada na manhã de ontem, o representante comercial Marcelo Araújo Pinto, de 58 anos, teve a prisão preventiva mantida pela Justiça e seguiu para um presídio de Salvador - a localização exata não foi divulgada. O homem é investigado pelos crimes de estupro de vulnerável por meio virtual e armazenamento de pornografia infantil. Ele foi detido em seu apartamento, na Barra, na terça-feira (21), quando aparelhos eletrônicos foram apreendidos pela polícia.
O suspeito chegou para a audiência de custódia algemado, tentando esconder o rosto e não quis falar com a imprensa. Depois de ouvir o preso, o juiz Arlindo Alves dos Santos Junior decidiu pela manutenção da prisão preventiva de Marcelo Araújo.
O juiz considerou que há indícios suficientes sobre a autoria dos crimes a partir do depoimento de policiais, testemunhas e material apreendido. Durante toda a tarde dessa quinta-feira (23), a reportagem tentou entrar em contato com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ), que não forneceu qualquer informação sobre o assunto.
O empresário permanecerá preso enquanto as investigações estiverem em curso. A prisão preventiva não possui prazo pré-definido e é decretada quando há indicadores que liguem o suspeito ao delito. Questionada, a Polícia Civil informou que os desdobramentos das investigações não serão divulgados porque estão sob segredo de justiça devido ao envolvimento de uma menina de 13 anos.
Marcelo Araújo é suspeito de pagar entre R$ 50 e R$ 80 para ter acesso à transmissão de vídeos de uma mulher cometendo atos libidinosos contra a filha menor de idade. A venda era feita pela própria mãe, que estuprava a menina desde que ela tinha 11 anos. O caso aconteceu em São Mateus, no interior do Paraná, e a mulher suspeita de envolvimento continua presa lá.
Em entrevista coletiva, Simone Moutinho, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra Crianças e Adolescentes, confirmou que os policiais encontraram material pornográfico de outras crianças em dois celulares e um notebook apreendidos na casa do representante comercial.
Há, inclusive, imagens em que o suspeito aparece se relacionando com outras vítimas. Apesar disso, Marcelo negou ter cometido os crimes. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do empresário.
“A mãe explorava sexualmente, inclusive praticando estupro contra a filha, e, mediante pagamento, exibia as imagens contracenando em cenas de sexo com a vitima", afirmou a delegada.
VIZINHOS SURPRESOS
Os vizinhos da Rua Augusto Frederico Schmith foram pegos de surpresa quando o empresário foi preso durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão realizados pelos agentes da Dercca. Visto pelos moradores do prédio como um homem simpático, porém reservado, ele, que é subsíndico, não causava desconfiança.
Um homem que não mora no prédio, mas visita a mãe diariamente no local, se decepcionou quando soube da prisão do empresário pela televisão. “Pegou toda a vizinhança de surpresa. Ele e a esposa eram bem reservados, mas muito simpáticos. Era uma das pessoas que eu mais gostava no prédio”, relata.
Enquanto isso, os funcionários foram alertados para não falarem sobre a prisão de Marcelo Araújo.
Na rua, quase todo mundo sabe do acontecido, seja pela comunicação entre vizinhos ou pelas notícias nos meios de comunicação, mas poucos querem comentar. “Eu não o conhecia pessoalmente, mas é um morador antigo da região. Os vizinhos ficaram bem surpresos quando vieram prendê-lo”, disse um morador, sem se identificar.
Além do suposto crime de estupro, as investigações apontam que Marcelo Araújo mantinha uma relação com a mãe da vítima há seis anos. A esposa do empresário se surpreendeu quando o marido foi detido na residência do casal. “Um homem comum, que não levantava qualquer suspeita. A mulher do suspeito passou mal e disse não saber que o marido tinha um relacionamento, tampouco que cometia o crime”, disse a delegada Simone Moutinho.
Caso Marcelo Araújo seja condenado pelos crimes de estupro de vulnerável e armazenamento e compartilhamento de conteúdo pornográfico envolvendo menores de idade, a pena pode chegar a 14 anos de prisão.
A Lei 12.015/09, que alterou o artigo 213 do Código Penal,
prevê reclusão de seis a dez anos pelo crime de estupro. Já o crime de aquisição de pornografia infantil é definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e prevê reclusão de um a quatro anos, além de multa. Adquirir, possuir ou armazenar material que contenha qualquer forma de registro sexual envolvendo crianças ou adolescentes é crime.
A prisão preventiva dele é fruto de investigações iniciadas em fevereiro, após a prisão da mãe da menina de 13 anos. A vítima teria relatado o crime na escola, o que deu início ao trabalho da polícia.
Em 2017, outro caso de estupro virtual foi registrado no Piauí, onde um técnico de informática de 35 anos, obrigava a ex-namorada a se masturbar com o uso de vibradores e a introduzir outros objetos na vagina e, no mesmo instante, registrava tudo do outro lado, além de ameaçar divulgar as imagens para amigos e familiares da vítima. O caso é tratado pelo Ministério Público do Piauí como o primeiro do tipo no Brasil. No ano passado, um homem foi indiciado pela Polícia Civil do Ceará pelos crimes de estupro virtual, falsa identificação e extorsão. Ayrton de Andrade Pereira da Silva, 27 anos, manteve um relacionamento com um jovem de 24 anos fingindo ser mulher pela Internet.
Material pornográfico foi apreendido em aparelhos celulares e no notebook do suspeito