Moro reage e pede ‘decência’ a Lula
Presidente diz que plano para matar senador seria outra ‘armação’ e vira alvo de críticas
O senador Sérgio Moro (Podemos-PR) rebateu na tarde de ontem a acusação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que o plano do PCC para assassiná-lo seria “armação”. “Se acontecer algo, a responsabilidade é de Lula”, afirmou.
A resposta do ex-juiz federal foi dada em entrevista à CNN. Moro disse também que espera “no mínimo, uma retratação” e que, até o momento, não foi procurado por membros do PT ou parlamentares da base do governo com uma mensagem de desagravo por parte de Lula. “Vejo o presidente dando risada de uma família ameaçada pelo crime organizado. Essas declarações me causaram muita revolta”, disse, antes de seguir: "Então, quero perguntar ao senhor presidente da República: O senhor não tem decência?"
Na manhã de ontem, durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro, Lula afirmou “ser visível” que o plano do PCC para assassinar Moro é “armação”. “Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Acho que é mais uma armação e, se for, ele (Moro) vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei mais o que ele vai fazer da vida se continuar mentindo como está. Mas Moro não é minha preocupação”, afirmou.
O presidente disse também, em meio a apoiadores, que irá “pesquisar e saber o ‘porquê’ da sentença. “Até porque fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer pra ele (Moro)”, emendou.
OPERAÇÃO
Onze pessoas foram presas na manhã de quarta-feira pela
Operação Sequaz, que descobriu um plano do PCC para assassinar o ex-juiz federal e o promotor de Justiça de São Paulo Lincoln Gakiya, além de outras autoridades. A motivação seria a transferência de lideranças da facção para presídios federais quando Moro foi ministro da Justiça.
O caso tomou grandes proporções e se tornou uma disputa de narrativas nas esferas da polarização política do país. Às vésperas da Operação Sequaz, Lula disse em entrevista que, quando estava preso em Curitiba, queria se vingar do senador, que, atuando como juiz, assinou a sentença condenatória contra o petista. No dia seguinte à entrevista, quando a Sequaz foi deflagrada, membros da oposição tentaram associar Lula tanto ao PCC quanto ao plano para matar Sérgio Moro.
Já aliados do governo e ministros vieram a público defender o presidente Lula. O argumento foi que a vida de Moro estava sendo salva pela Polícia Federal, corporação ligada à pasta da Justiça.
Flávio Dino, ministro da Justiça, defendeu, na quarta, ser um "disparate", uma "violência", vincular uma fala do presidente Lula sobre Sergio Moro à organização criminosa que planejava um ataque ao senador. “Eu fico espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria, tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo”, disparou Dino.
Durante a entrevista na tarde de ontem, Moro também comentou sobre o projeto de lei apresentado ao Senado na quarta-feira, horas depois de a Sequaz ser deflagrada, cujo objeto é punir a elaboração de atentados contra autoridades. O senador paranaense negou que a proposta é uma tentativa de politização e reiterou que espera o “apoio expresso do presidente da República”.
Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro. Eu vou pesquisar e saber o ‘porquê’ da sentença Luiz Inácio Lula da Silva presidente do Brasil
Vejo o presidente dando risada de uma família ameaçada pelo crime organizado. Essas declarações me causaram muita revolta Sérgio Moro senador (UB-PR)
Fim de sigilo releva que lista do PCC incluía plano de matar Alckmin
FALTA DE EQUILÍBRIO
Ex-coordenador da extinta Lava Jato, o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) também criticou o petista: “Em vez de se colocar ao lado da lei, das forças de segurança e das vítimas, Lula se colocou ao lado do PCC”. "Lula ataca a credibilidade de seu ministro da Justiça, dos presidentes da Câmara e do Senado, da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, do Gaeco do MPSP e da Justiça, como se fossem farsantes e mentirosos", escreveu o ex-procurador em uma rede social.
Também nas redes sociais, o ex-vice-presidente e atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que sugere que o plano de integrantes do PCC para atacar Moro poderia ser uma armação. “O presidente da República demonstra que está lhe faltando o devido equilíbrio emocional para lidar com as responsabilidades do cargo que ocupa”, afirma o texto do ex-vice-presidente.
Interlocutores de Lula atribuem as falas desastradas à instabilidade emocional provocada toda vez que ele se lembra dos 580 dias em que esteve preso. Pessoas próximas dizem que o petista sempre chora ao comentar a passagem pelo cárcere. Em conversas reservadas, aliados reconhecem o dano causado pelas últimas declarações.
A acusação sem provas feitas por Lula de que o plano do PCC para matar o senador Sérgio Moro (UB-PR) seria uma farsa levou a juíza Gabriela Hardt, da 9.ª Vara Federal de Curitiba, que autorizou a operação da Polícia Federal que prendeu 11 suspeitos de envolvimento com o plano de atacar o ex-juiz e outras autoridades, a suspender o sigilo das investigações. Com isso, detalhes das investigações foram reveladas e mostram que o ataque a Moro era iminente.
A apuração da PF começou a partir do relato de uma testemunha protegida, um ex-integrante do PCC, que revelou o plano da facção. Segundo a magistrada, foi cogitada uma ação no segundo turno da eleição de 2022. Ela justificou os mandatos de prisão e de busca e apreensão citando a "notoriedade" que Moro ganhou à época da Operação Lava Jato e lembrou que, enquanto ministro, ele restringiu visitas em presídios federais, causando "grande dificuldade aos líderes de grupos criminosos para comandar seus negócios ilícitos de dentro da prisão".
"Desse modo, é possível aventar que um atentado contra a integridade do senador Sérgio Moro está sendo preparado pelo PCC a fim de demonstrar poder e causar temor ao Estado", escreveu Gabriela.
Ao pedir autorização para as diligências, a PF detalhou o plano do grupo. "Após o recebimento dos dados telefônicos e telemáticos verificamos que as ações para a concretização do ataque ao senador Sérgio Moro iniciaram-se, efetivamente, em setembro do ano passado, justamente no período eleitoral", relatou o delegado Martin Bottario Purper. "Vale lembrar que Sérgio Moro permaneceu com escolta por 180 dias, que expirou em 24 de outubro de 2021, motivo pelo qual ocorreu uma janela de oportunidade interessante para os criminosos", complementou. A PF espera descobrir por que o plano não executado interrogando os presos da operação.
Além de Moro, autoridades como o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB); o ex-secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes; o deputado federal Coronel Telhada (PL-SP) e o diretor de presídios de São Paulo, Roberto Medina, também foram jurados pelo PCC. A informação foi revelada pelo jornalista Marcelo Godoy, do Estado de S. Paulo.