Advocacia em tempos de IA
É inegável que as transformações digitais e os avanços tecnológicos trouxeram novos paradigmas. Essa realidade impactou a sociedade e apresentou novas projeções para inúmeras profissões, inclusive a advocacia. Nesse contexto, não há como deixar de falar sobre o impacto da inteligência artificial na rotina das advogadas e dos advogados.
É bom lembrar que, no campo experimental, a IA é um tema que começou a ser estudado ainda na década de 1950. Portanto, são mais de 60 anos que separam os primórdios dessa tecnologia até o fenômeno do ChatGPT, que talvez seja, no atual contexto, o modelo mais avançado de inteligência artificial que está à disposição, e ainda encontra muitas limitações, como na atualização de dados, cujas referências, nesse momento, vão até setembro de 2021.
Já são inúmeros conteúdos disponibilizados sobre como, por exemplo, o ChatGPT pode ajudar na produtividade em tarefas específicas, como no suporte para a elaboração de uma petição. A busca rápida por referências e decisões que embasem os argumentos para um processo é uma forma de dar mais agilidade à produção diária. Na área de gestão, a mesma ferramenta pode servir de suporte para a elaboração de contratos, na simplificação de documentos e no auxílio em tarefas repetitivas.
Mas o primeiro questionamento que vem à mente de muitos colegas é: a inteligência artificial vai substituir os operadores de Direito? É importante observar que, por maiores que sejam os avanços e por mais tarefas que a IA possa desempenhar, essa tecnologia não possui capacidade crítica ou de julgamento, e não alcança a dimensão humana da profissão. O ideal seria questionar: como a inteligência artificial pode contribuir com o dia a dia da advocacia?
Vale a ressalva: a inteligência artificial não é capaz de competir com a essência humana da advocacia. Somente na interação direta entre pessoas é que advogados e advogadas podem exercer empatia e compreender as necessidades dos clientes. O conhecimento e a capacidade de interpretação das leis, adquiridos com formação e experiência, serão sempre os guias na construção da melhor estratégia e elaboração dos argumentos mais contundentes em favor de uma causa.
Não se pode negar o impacto da inteligência artificial sobre a advocacia. Mas é preciso saber agrega-la como um suporte, e não pensar como uma ameaça. É dever da própria advocacia determinar a forma de utilização da IA. Dessa forma, um dos maiores desafios é garantir que todos tenham acesso a tais ferramentas, para que as diferenças sociais e econômicas não se aprofundem.
No que tange à missão da advocacia, é preciso seguir com a certeza que somente por meio das relações humanas é possível potencializar as vozes da cidadania e contribuir para a efetiva concretização da Justiça.
Não se pode negar o impacto da inteligência artificial sobre a advocacia. Mas é preciso saber agrega-la como um suporte, e não pensar como uma ameaça
MAURÍCIO LEAHY É ADVOGADO E PRESIDENTE DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DA BAHIA - CAAB