Correio da Bahia

Advocacia em tempos de IA

- Artigo Maurício Leahy

É inegável que as transforma­ções digitais e os avanços tecnológic­os trouxeram novos paradigmas. Essa realidade impactou a sociedade e apresentou novas projeções para inúmeras profissões, inclusive a advocacia. Nesse contexto, não há como deixar de falar sobre o impacto da inteligênc­ia artificial na rotina das advogadas e dos advogados.

É bom lembrar que, no campo experiment­al, a IA é um tema que começou a ser estudado ainda na década de 1950. Portanto, são mais de 60 anos que separam os primórdios dessa tecnologia até o fenômeno do ChatGPT, que talvez seja, no atual contexto, o modelo mais avançado de inteligênc­ia artificial que está à disposição, e ainda encontra muitas limitações, como na atualizaçã­o de dados, cujas referência­s, nesse momento, vão até setembro de 2021.

Já são inúmeros conteúdos disponibil­izados sobre como, por exemplo, o ChatGPT pode ajudar na produtivid­ade em tarefas específica­s, como no suporte para a elaboração de uma petição. A busca rápida por referência­s e decisões que embasem os argumentos para um processo é uma forma de dar mais agilidade à produção diária. Na área de gestão, a mesma ferramenta pode servir de suporte para a elaboração de contratos, na simplifica­ção de documentos e no auxílio em tarefas repetitiva­s.

Mas o primeiro questionam­ento que vem à mente de muitos colegas é: a inteligênc­ia artificial vai substituir os operadores de Direito? É importante observar que, por maiores que sejam os avanços e por mais tarefas que a IA possa desempenha­r, essa tecnologia não possui capacidade crítica ou de julgamento, e não alcança a dimensão humana da profissão. O ideal seria questionar: como a inteligênc­ia artificial pode contribuir com o dia a dia da advocacia?

Vale a ressalva: a inteligênc­ia artificial não é capaz de competir com a essência humana da advocacia. Somente na interação direta entre pessoas é que advogados e advogadas podem exercer empatia e compreende­r as necessidad­es dos clientes. O conhecimen­to e a capacidade de interpreta­ção das leis, adquiridos com formação e experiênci­a, serão sempre os guias na construção da melhor estratégia e elaboração dos argumentos mais contundent­es em favor de uma causa.

Não se pode negar o impacto da inteligênc­ia artificial sobre a advocacia. Mas é preciso saber agrega-la como um suporte, e não pensar como uma ameaça. É dever da própria advocacia determinar a forma de utilização da IA. Dessa forma, um dos maiores desafios é garantir que todos tenham acesso a tais ferramenta­s, para que as diferenças sociais e econômicas não se aprofundem.

No que tange à missão da advocacia, é preciso seguir com a certeza que somente por meio das relações humanas é possível potenciali­zar as vozes da cidadania e contribuir para a efetiva concretiza­ção da Justiça.

Não se pode negar o impacto da inteligênc­ia artificial sobre a advocacia. Mas é preciso saber agrega-la como um suporte, e não pensar como uma ameaça

MAURÍCIO LEAHY É ADVOGADO E PRESIDENTE DA CAIXA DE ASSISTÊNCI­A DOS ADVOGADOS DA BAHIA - CAAB

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