Transporte em crise na Região Metropolitana
Empresas Costa Verde e Avanço anunciam fim das operações na RMS; passageiros se queixam do serviço
As empresas de ônibus Avanço Transportes e Costa Verde, responsáveis pelo transporte de passageiros na Grande Salvador, vão encerrar suas atividades no próximo mês. Cerca de 1.520 trabalhadores estão em aviso prévio, diz o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da Região Metropolitana de Salvador, Alagoinhas e Paulo Afonso. Inicialmente, a Avanço encerraria em 15 de abril.
Ainda de acordo com o sindicato, as 12 linhas operadas pelas empresas transportam mais de 2 milhões de passageiros por mês. Os trajetos atendem as cidades de Madre de Deus, Candeias, Camaçari e Lauro de Freitas.
A Avanço Transportes anunciou, através de um comunicado publicado nas redes sociais, no domingo (7), que as oito linhas operadas pela empresa deixarão de funcionar. O sindicato tenta prolongar o funcionamento das linhas até o final do mês.
“Ontem (anteontem), entregaram oficialmente as linhas para a Agerba [Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações]. Vamos tentar que não encerre no dia 15”, disse Mário Cleber, presidente do Sindimetro-BA.
Em nota, a Agerba informou que permanece em negociação com as duas empresas. “Com relação a Avanço Transportes, em reunião do dia 9/4/24, ficou decidido que haverá a suspensão da entrega das linhas no prazo anunciado pela empresa, garantindo que a população não sofra descontinuidade do transporte metropolitano. Da mesma forma, continuam as tratativas com a empresa Costa Verde garantindo não trazer prejuízo à população”, diz a agência reguladora.
A reportagem não conseguiu contatar a Costa Verde e a Avanço, mas apurou que os passageiros terão como opção as linhas da Expresso Vitória que já existem. Elas levam passageiros até a Estação Aeroporto e, via sistema integrado metropolitano, o usuário pagará uma única tarifa para chegar até a Lapa.
A Associação das Empresas de Transporte Coletivo Rodoviário do Estado da Bahia (Abemtro-BA) disse que só teve conhecimento do fim das 12 linhas através da imprensa e redes sociais. “Não recebemos nenhum comunicado oficial por parte das empresas nem do Poder Público de forma que não temos como nos pronunciar sobre o assunto”, pontuou.
No dia 27 de março, usuários do transporte público metropolitano foram surpreendidos com reajuste de 8,11% da tarifa. O aumento da passagem foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) somente um dia antes de entrar em vigor.
‘ABANDONADOS’
Moradores de quatro cidades da RMS afetados pelo encerramento das linhas da Costa Verde e Avanço temem a piora da mobilidade entre os municípios e Salvador, mesmo que cinco empresas ainda atendam essas localidades.
Ana Julia Sobral, 23, mora em Lauro de Freitas e estuda em uma faculdade na Avenida Tancredo Neves. Todos os dias, percorre o trajeto entre as duas cidades e, para isso, utiliza uma das três linhas da empresa Costa Verde. “O serviço já é extremamente sucateado, com uma frota pequena para uma quantidade enorme de pessoas. Sem esses ônibus, o transtorno vai ser ainda maior. Já estou ansiosa sem saber o que será da minha vida”, desabafa.
As linhas 846 (Lauro de Freitas X Lapa), 860 (Portão X Terminal Pituaçu) e 841 (Vilas do Atlântico X Campo Grande) funcionam há 26 anos. “As linhas hoje param na Estação Aeroporto e os ônibus seguem até Salvador. Mas, agora, vamos ser obrigados a parar no metrô, que vai ficar mais lotado”, completa Ana.
Três trajetos que ligam Camaçari até Águas Claras são de responsabilidade da Avanço e a extinção das linhas preocupa Anna Carollyne Vieira. “Todas as vezes que eu vou para Salvador, de lazer até emergências de saúde, eu pego o ônibus da Avanço”.
Se a locomoção entre os municípios é alvo de críticas com sete empresas que fazem o transporte, a expectativa é que, com duas a menos, seja pior. “O transporte é péssimo. Não tem rigor com horário, passa a hora que quer. É um absurdo com o trabalhador que tem compromissos. É normal ficarmos mais de uma hora esperando”, diz Anna, moradora de Camaçari.
O urbanista José Lázaro de Carvalho explica que o fim das linhas representa a tentativa de integração dos sistemas metroviário e rodoviário. “Há tentativa de racionalizar o sistema para que linhas metropolitanas não concorram com as linhas de Salvador dentro da capital”.
A reorganização do transporte público tem que ser planejada numa rede integrada ou a frequência dos ônibus é impactada José Lázaro de Carvalho Urbanista e professor da Ufba
Sem esses ônibus, o transtorno vai ser maior. Já estou ansiosa sem saber o que será da minha vida Ana Sobral Estudante