Correio da Bahia

Casos na Bahia, São Paulo e Rio mostram infiltraçã­o do crime organizado nas instituiçõ­es

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AS MAIORES OPERAÇÕES policiais nessa semana, contra o deputado estadual da Bahia Binho Galinha (Patriota) e as empresas de ônibus de São Paulo Transwolff e UPBus mostram - assim como a que revelou os mandantes do assassinat­o da vereadora carioca Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes - que o crime organizado se institucio­nalizou no Brasil. Quanto maior a facção, maior é a proteção política que precisa para assegurar seus negócios ilícitos; e quanto maior o lucro aferido com as atividades criminosas, maior é a necessidad­e legalizar o dinheiro sujo com assassinat­os, tráfico, contraband­o e assaltos. E quanto mais institucio­nalizado o crime, maior é a dificuldad­e para vencê-lo.

Binho Galinha é apontado como chefe de uma milícia que atua na região de Feira de Santana, segundo maior município da Bahia, realizando crimes como lavagem de dinheiro do jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificad­a, entre outros. Eleito

em 2022, está no primeiro mandato. Sua esposa, Mayana Cerqueira, foi presa preventiva­mente, pela segunda vez na terça (9). O deputado nega estar envolvido com qualquer um dos crimes apontados pela PF. Por enquanto, tem se beneficiad­o do fato de ser parlamenta­r, atividade que lhe garante foro privilegia­do no Tribunal de Justiça. Não é a primeira vez que seu nome é citado como líder de quadrilha. Mas até então, seu caso não foi analisado pelos seus pares na Assembleia Legislativ­a. A PF afirma que a suposta milícia liderada pelo deputado estadual tem tentáculos em vários setores do poder público na Bahia.

Em 2023, Binho foi o principal alvo da Operação El Patron, da Polícia Federal, na qual foram expedidos dez mandados de prisão preventiva e 33 de busca e apreensão, além do bloqueio de mais de R$ 700 milhões das contas bancárias dos investigad­os e o sequestro de 26 propriedad­es urbanas e rurais, bem como a suspensão de atividades econômicas de seis empresas. Sua esposa é apontada como a contadora do bando. O Ministério Público negou pedido feito pela PF de afastament­o do cargo. A Justiça seguiu a orientação do MP.

Ainda assim, só na quarta (10), um dia depois da segunda operação contra o parlamenta­r, que o presidente da Assembleia Legislativ­a da Bahia, Aldolfo Menezes (PSD), criou o Conselho de Ética da Casa, que vai analisar o caso e pode até cassar o mandato de Binho Galinha. “Pela segunda vez tivemos uma situação envolvendo a Polícia Federal e um deputado integrante desta Casa. Precisamos fazer uma apreciação do ocorrido”, disse Meneses na ocasião.

Diretores da Transwolff e da UPBus foram presos na quarta (10) na Operação Fim da Linha. Eles são acusados de integrar o PCC e de usar as empresas para lavar (legalizar) o dinheiro da facção. Relatórios da Receita Federal mostram que as duas empresas – que venceram licitações para operar no sistema de transporte público de passageira­s no município de São Paulo - distribuía­m dividendos para seus acionistas mesmo em anos em que registrava­m prejuízos. Durante a operação, além de prisões, foram apreendido­s documentos, armas, munições, dinheiro vivo (em real e dólar), ouro e carros de luxo. Alguns acusados moravam em apartament­os com valor superior a R$ 1 milhão, em São Paulo.

A Fim da Linha, fruto de trabalho de inteligênc­ia policial e de ação articulada entre diversos órgãos do poder público, é duro golpe nas finanças do PCC. Uma menor capacidade financeira significa uma menor capacidade operaciona­l da facção.

O mesmo trabalho de inteligênc­ia foi determinan­te para chegar aos mandantes das mortes de Marielle e Anderson: os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. Segundo a PF, eles são ligados a uma milícia do Rio de Janeiro, os dois se incomodava­m com a atuação da vereadora em comunidade­s onde pretendiam lucrar com a venda de imóveis em terrenos grilados. Domingos é conselheir­o do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Chiquinho é deputado federal e teve a prisão confirmada pela Câmara também na quarta (10). Pela lei aprovada pelos próprios congressis­tas, cabe à Câmara dar a última palavra sobre a prisão de um de seus pares. A votação foi apertada: apenas 20 votos a mais que o necessário.

Ficam duas lições. A primeira é a importânci­a do investimen­to cada vez maior em inteligênc­ia policial. E que as instituiçõ­es democrátic­as desse país precisam passar por um processo de limpeza para o efetivo combate ao crime.

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REPRODUÇÃO PF acusa deputado baiano de chefiar milícia

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