Correio da Bahia

Arte e conforto nem sempre estão de mãos dadas

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O espectador desavisado ou aquele mais acostumado à linguagem cinematogr­áfica tradiciona­l vai estranhar o filme A Paixão Segundo G.H. logo na primeira cena: o formato da tela é quadrado e assim permanece durante todo o filme, que estreou esta semana nos cinemas. Não bastasse isso, são duas horas de projeção apenas com uma personagem em cena, no que aproxima o filme de um monólogo teatral. E quase toda a ação se passa num quarto, o que dá uma sensação de claustrofo­bia, aumentada pelo uso de closes no rosto da protagonis­ta durante todo o tempo.

No filme, ambientado em 1964, a atriz Maria Fernanda Cândido vive a personagem-título, uma escultora da elite de Copacabana que decide arrumar seu apartament­o depois que a empregada pediu demissão. No quarto da empregada, G.H. se depara com uma enorme barata. Diante do inseto, a protagonis­ta vive sua via-crúcis existencia­l.

O longa-metragem de Luiz Fernando Carvalho é baseado no livro homônimo de Clarice Lispector e, assim como a autora faz com seu leitor, o diretor do longa não quer facilitar a vida de quem vai ao cinema. A experiênci­a de ler a obra da cultuada escritora, assim como assistir a este filme, está longe de ser confortáve­l.

Mas Luiz Fernando parece não estar nem aí para isso: “Levanta e vai embora!”, diz ele em entrevista à coluna, como se mandasse um recado a quem não simpatizar com sua obra. E complement­a: “O filme é uma experiênci­a: ele não responde a meia dúzia de regrinhas. Ele está lidando com a subjetivid­ade do espectador”.

Quando adaptou o livro Lavoura Arcaica para o cinema, em 2001, muitos se impression­aram com a escolha de Luiz Fernando, já que o romance de Raduan Nassar era considerad­o “infilmável”.

E ele não apenas adaptou, como conseguiu conquistar a crítica. A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), em 2015, considerou Lavoura Arcaica o 16º maior filme da história do

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DIVULGAÇÃO Maria Fernanda Cândido vive G.H.

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