Correio da Bahia

O preço da liberdade do menino

- Artigo Rafson Ximenes

Ele tinha acabado de completar 18 anos. Literalmen­te. Seu aniversári­o foi no dia anterior. O presente, porém, não foi o esperado. Acabou sendo preso. Sua mãe entrou em desespero. Correndo para a delegacia, foi abordada por alguns advogados oferecendo serviços. Aceitou aquele que cobrou o preço mais acessível: R$6.000,00.

Como uma mulher que sobrevive com o salário mínimo pagaria essa conta? Tudo que recebe vai para o pagamento das despesas: água, luz, comida, roupa, transporte... Muitas vezes falta. Impossível parcelar em menos de 60 vezes, quanto mais ter tudo de uma vez. Ela teria que vender alguns móveis para pagar. Mas quais? Geladeira, cama, fogão? Certamente seria necessário um empréstimo. Vê-se depois. É o menino. A liberdade do menino não tem preço.

Audiência de custódia. A juíza já começou avisando que o auto de prisão em flagrante não narrava nenhum ato violento, ou grave ameaça, que o indiciado não tinha antecedent­es criminais e que não se justificav­a a prisão antes do julgamento. Mesmo assim, o promotor pediuqueel­eficassepr­eso.Acabou sendo solto, com monitorame­nto eletrônico. E o advogado cobrou os seus honorários.

Algumas semanas depois, o oficial de justiça aparece naquela casa em que pareciam faltar móveis. O Ministério Público recorreu da decisão. Disse que o clima de inseguranç­a assola o país. A ordem pública brasileira não suportaria que aquele menino estivesse em liberdade, nem mesmo com tornozelei­ra. O oficial avisava que ele teria prazo para responder.

Nova corrida para o advogado contratado na delegacia. Em vão. O doutor disse que aquele valor cobrado era somente para a audiência de custódia. Para outros atos do processo, o preço era outro. A mãe disse que

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