Ela teve até sorte. Na sua cidade havia unidade da Defensoria. Quando percebeu o erro, tinha para onde ir
ainda tinha alguns móveis em casa. Porém, não era suficiente. O contrato estava encerrado. Ela estava por conta própria.
Foi à justiça explicar a situação e recomendaram que procurasse a Defensoria Pública. Ela não sabia que existia Defensoria Pública. Telefonou e agendou um atendimento. Compareceu sozinha. Perguntada
pela razão da ausência do filho, respondeu que ele não saía de casa desde que foi libertado, nem para estudar ou trabalhar. Achava que não podia. O advogado que acompanhou a audiência não explicou as obrigações dele? Não.
De certo modo, ela teve até sorte. Na sua cidade havia unidade da Defensoria. Quando percebeu o erro em que foi jogada, tinha para onde ir. Na maioria dos municípios não há defensores. Caso morasse em um deles, talvez fosse necessário vender a casa.
A resposta foi apresentada. A família não precisou pagar mais nada. A juíza concordou com a resposta, mas teve que encaminhar o processo para o Tribunal. Lá, o Ministério Público insistiu na prisão do menino. Lá, haverá representante da Defensoria para continuar a defesa e desembargadores para julgar. Láserádefinidoodestinodeum rapaz pobre de 18 anos.
Aquela família está sendo punida, antes mesmo do julgamento do menino. Foi induzida a erro por todos aqueles que acham ser correto, ou pior, natural manter a Defensoria Pública como o órgão que recebe menosinvestimentosnoSistemade Justiça e acham que isso não tem importância, pois poderia de algum jeitinho criar serviços de estudantes, advogados iniciantes ou simplesmente esquecer. Afinal, quem se importa?
É uma história real e há milhões de outras semelhantes. Inúmeras são muito mais graves. Mas não é uma história sobre o sistema de justiça. É um retrato da nossa sociedade. Uma sociedade que despreza e odeia pessoas pobres. Uma sociedade que é incapaz de perceber as consequências desse ódio na vida das pessoas. Uma sociedade incapaz de reconhecer que os protagonistas dessa história são gente e merecem ser tratados como tal. A liberdade e a vida de qualquer menino não deveriam ter preço.