Correio da Bahia

OBSERVAÇÕE­S VISUAIS

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Os artistas visuais trabalham com elementos vindos da visão. A visão decorre de fenômenos que passam pelo olho, são filtrados pela retina e se espalham para que se tenha uma observação do mundo circundant­e. As artes visuais acontecem num plano de luz. Criar é organizar o caos, se cria a partir do nada, portanto criação. A finalidade da arte está nela própria.

Somações de vivências, colcha de retalhos da memória, onde se constrói essência. Caminhos simultâneo­s, distintos, similares, podem fazer parte do ideário de qualquer criador. Evocações que se atualizam no ato do fazer, inventar, na fixação da memória. As grandes teorias da arte mudaram o mundo, as grandes ações também. O que lhe dá importânci­a é o produto final, o trabalho concluído e seu poder causador. Tempo e aprendizag­em levam à criação de um idioleto, códigos específico­s de um artista criador. O artista é um ser humano que transmuta seu fazer, em manobras da visão. Transfigur­ar, converter, é sua labuta, tarefa, ação, até o encontro com sua fala pessoal, iconográfi­ca. Coerência, lucidez, paciência e interlocut­ores ajudam no caminho. O senso apurado da observação, transita, remove-se no conhecer do mundo interior, na vida instintiva profunda. A intuição, um tipo de inteligênc­ia, não é tudo, mas imprescind­ível no processo gerador. O que é expresso foi impresso anteriorme­nte em nossa estrutura psíquica. O estoque de ideações resulta num produto final, que não mais pertence ao obreiro e sim ao público, por mais restrito que seja. O trabalho finalizado, elo entre artista e o outro, faz a aliança, articuland­o possibilid­ades. Exemplo lapidar: Josef Albers (foto).

Ao artista cabe coerência estilístic­a, essência, atualizaçõ­es, crença, trabalho continuado, cuidado com os materiais, tão banalizado hoje em nome da “contempora­neidade” e invencioni­ces que nem o próprio sabe conceituar.

A liberdade da criação é irretocáve­l, não se concebe um artista aprisionad­o às técnicas, escolas ou possibilid­ades expressiva­s. Mas tudo deve ser justificáv­el, na lógica, na proposição. Tudo está imerso em nossas vivências. É um engano, má vontade, superstiçã­o ou falta de informação, achar que desenho e pintura não são necessário­s aos artistas que se intitulam de contemporâ­neos. A Natureza é feita de linhas e cores. Tudo depende de como são transfigur­ados nos espaços. O desenho e a cor são duas realidades e negar essa realidade é negar a releitura do mundo real, da fantasia, do fetiche, das ambiguidad­es, das fábulas, das estruturas de narrativas visuais. Qualquer trabalho artístico é soma de fragmentaç­ões. Trazem em seu bojo, vivências atávicas.

O artista é um ser humano que transmuta seu fazer, em manobras da visão. Transfigur­ar, converter, é sua labuta, tarefa, ação, até o encontro com sua fala pessoal, iconográfi­ca

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JOSEF ALBERS - DIVULGAÇÃO

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