Cultura do Automóvel

ANTONIO CARLOS AVALLONE

-

Piloto, advogado, jornalista, construtor, político, organizado­r de provas e, até, nas horas vagas, ator de cinema, Antonio Carlos Avallone foi uma figura sem igual no nosso automobili­smo. Difícil falar sobre ele, para quem não o conheceu. Dono de um temperamen­to explosivo, estava sempre discutindo com alguém e às vezes fazia coisas incríveis. Presenciei algumas dessas cenas, mas as histórias que se contavam eram sempre bem mais emocionant­es. Grande cara, eu gostava muito dele, mesmo sendo tão nervosinho. Fez grandes coisas pelo automobili­smo brasileiro, entre elas essas três provas das 25 Horas de Interlagos. Sempre incentivou as corridas com carros originais, para ter grandes grids e dar oportunida­de a todos. Sua personalid­ade foi retratada no cinema, no filme “Roberto Carlos a 300 km/h”, de 1970. Ele fez o papel dele mesmo, só que com o nome de Pietro Antonioni, o “rival” do rei na prova na qual Roberto Carlos entra sem ser piloto e vence. Em uma disputa “de cinema”, eles brigam pela primeira posição até que o carro do italiano para, com muita fumaça. Ele sai do carro, joga o capacete e chuta o pneu. Certa vez, na sala do administra­dor do Autódromo de Interlagos, estávamos discutindo alguma coisa sobre o automobili­smo e ele ficou zangado. De repente, de cima de seus 1,65 m de altura, ele saltou com as duas pernas ao mesmo tempo e pousou em cima da mesa do diretor. Poderia também ser atleta de olimpíada. Como construtor, fez o “Avalolla”, sua réplica do Lolla, algumas limusines alongadas, um Fusca cabriolet e, o mais bacana de tudo, a réplica do MG TF, com mecânica de Chevette. Ao lado do bem sucedido MP Lafer, que pretendia ser um MG TD mas com motor VW traseiro, o MG do Avallone era maravilhos­o. Uma cena que jamais esqueço na Mil Milhas de 1993: eu tinha dois Passats inscritos e dividi o box com o Avallone. Ele encheu o lugar com enormes pneus velhos e ressecados, e eu então sabia o que ele faria: apenas largaria com seu Divisão 4 e pararia logo depois. Só que, nessa mesma prova, outros dois protótipos Avallone estavam inscritos, o do Diniz e o do meu amigo Chupetinha. Eu estava achando aquilo muito legal, três Avallones na mesma prova, vinte anos depois de sua

fase glória. Só que o carro do próprio Avallone quebrou nos treinos e ele pediu ao Chupetinha para ser o terceiro piloto. Ele veio me perguntar o que eu achava, e eu disse que poderia, mas que jamais deixasse Avallone largar. Dono de um grande poder de persuasão, Avallone consegui ser o primeiro a correr. E aconteceu o que eu havia previsto: depois de dez voltas, ele entrou nos boxes com o carro sem condições de continuar. Pena fiquei do Chupetinha e seu parceiro, se não me falha a memória, meu aluno Ângelo Leuzzi. Não deram sequer uma volta na corrida. Ainda nessa época, um desses dias o Avallone me procurou, sabendo que eu também estava tentando organizar provas com carros originais de pouca potência (cheguei a testar o Uno Mille para pista), e me propôs unir forças para isso. Achei a ideia ótima, mas, infelizmen­te, não levamos adiante. Antonio Carlos Avallone faleceu em 2002 e, coincident­emente, eu estava nos boxes de Interlagos com o filho dele, quando recebemos a notícia. Eu estava correndo de Chevrolet Montana e ele também participar­ia da prova, mas saiu no meio dos treinos face à triste notícia que havíamos recebido. Antonio Carlos Avallone foi um cara polêmico, mas que me deixou boas recordaçõe­s.

 ??  ?? O Alfa Romeo 2300 cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, mas também foi desclassif­icado e passou a posição a outro Alfa Romeo
O Alfa Romeo 2300 cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, mas também foi desclassif­icado e passou a posição a outro Alfa Romeo
 ??  ?? O trio vencedor, Wilson Fittipaldi, Reinaldo Campello e Ingo Hoffmann
O trio vencedor, Wilson Fittipaldi, Reinaldo Campello e Ingo Hoffmann
 ??  ?? Antonio Carlos Avallone em ação, em duas cenas do filme Roberto Carlos a 300 km/h
Antonio Carlos Avallone em ação, em duas cenas do filme Roberto Carlos a 300 km/h

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil