Dinheiro Rural

Safra sob pressão

- Vera Ondei, editora

As notícias de que o Brasil caminha para uma superprodu­ção de soja estavam sendo brindadas como um marco do agronegóci­o nacional, um recorde histórico que representa­ria uma virada espetacula­r. Pelas estimativa­s da Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab), pela primeira vez, a barreira de dois dígitos pode ser quebrada. São esperadas 105,6 milhões de toneladas colhidas, volume 10,7% superior aos 95,4 milhões de toneladas do ciclo 2015/2016. Pois bem, as comemoraçõ­es parecem ter sido precipitad­as. Motivo: os produtores americanos planejam aumentar a área de cultivo de soja na safra 2017/2018, ciclo que está prestes a começar. A previsão é de 35,61 milhões de hectares, 5,7% a mais ante a safra 2016/2017. A pesquisa de intenção foi feita pelo Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês) e já levou o mercado ao óbvio: os preços devem cair. A pressão na Bolsa de Chicago tem sido forte. Em um único dia de pregão, contratos para maio foram fechados com queda de US$ 0,11 por buschel, a US$ 22 a saca de 60 quilos.

Para completar o cenário que está sendo encarado como uma ducha de água fria, os fazendeiro­s argentinos já avisaram que não haverá queda de produção, pressionan­do ainda mais os agricultor­es brasileiro­s e o preço da commodity no mundo. E, como se não bastasse só isso, o Brasil ainda tem de lidar com um problema recorrente: a falta de infraestru­tura. A superprodu­ção brasileira de soja já começa a patinar pelas rodovias, com a péssima qualidade da malha logística para o escoamento da safra. O problema é tão comum que beira o clichê. No mês passado, mais uma vez o lamaçal provocado por chuvas no Estado do Pará tomou conta da BR-163 e o trânsito foi interrompi­do. As filas de caminhões passaram de cinco quilômetro­s.

Até o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi tem lamentado a situação. Ele chegou a dizer que a supersafra corria o risco de “micar” no País, sem conseguir chegar nos portos. O fato é que esta é uma herança maldita de obras inacabadas, previstas pelos programas de Aceleração do Cresciment­o (PAC), de 2007, do governo Lula, e do Programa de Investimen­to em Logística (PIL), de 2012, de Dilma Rousseff. No Brasil, esse nó tem impedido que o agronegóci­o cresça de maneira sustentáve­l. A pergunta é: até quando o produtor terá de se contorcer para cumprir contratos, rezando para que não chova no período de escoamento dos grãos? Os problemas externos o País não tem como controlar, mas a questão da infraestru­tura já passou da hora de ser resolvida.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil