Dinheiro Rural

MODERFROTA

A mudança de normas para a concessão de empréstimo­s pelo BNDES e a expectativ­a de safra recorde têm estimulado a troca de equipament­os no campo

- LEONARDO FUHRMANN

BNDES aumenta aporte de financiame­ntos para tratores e máquinas agrícolas

No início de fevereiro, Neri Geller, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultur­a, anunciou que o governo deve destinar mais R$ 1,5 bilhão para o Programa de Modernizaç­ão da Frota de Tratores Agrícolas e Implemento­s Associados e Colheitade­iras (Moderfrota). O montante destinado atualmente para o Plano Safra 2015/2016 é de R$ 7,5 bilhões. Caso se confirme, será o segundo suplemento de valor ao programa, que chegará a R$ 9 bilhões. Em junho do ano passado, quando foi lançado, o total era de R$ 5 bilhões A intenção é atender a toda a demanda ainda neste Plano Safra, que termina em 30 de junho. Como isso será feito ainda em discussão com a equipe econômica, mas Geller garante que dinheiro não vai faltar. “Se houver demanda, poderemos aumentar os recursos ainda mais”, disse ele em uma reunião com os diretores da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), no mês passado. O adicional foi um pedido da entidade, que estima uma demanda ainda maior, de R$ 11 bilhões, para a safra 2017/2018 que começa em julho.

Os motivos para a atual demanda são vários, mas o principal é a expectativ­a de uma safra de grãos acima de 210 milhões de toneladas, um cresciment­o de 12,7% em relação à anterior. Outra causa é a elevação de 2,9% no Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola, que deve chegar a R$ 546 bilhões até dezembro. Também contribui o fato de o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) ter ele-

vado, no início deste ano, o limite de faturament­o para a inclusão de produtores nas categorias de pequeno e médio portes para a captação de empréstimo­s. Os produtores com faturament­os anuais entre R$ 90 milhões e R$ 300 milhões passaram a ser tratados como médios. Com isso, a taxa base de juros, anteriorme­nte de 10,5% ao ano, caiu para 8,5%. As facilidade­s, de acordo com a Anfavea, devem elevar as vendas de máquinas agrícolas no mercado doméstico em cerca 13% em 2017, alcançando 49,5 mil unidades. Na produção, a previsão é de alta de 10,7% no ano, para 59,6 mil unidades. Segundo dados do BNDES, de imediato, cerca de 1,5 mil empresas poderão obter financiame­ntos em condições melhores. Em 2016, o Moderfrota liberou R$ 6,68 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões foram utilizados por empresas e pessoas físicas classifica­das como pequenas e médias.

Os empresário­s do setor avaliam que a mudança na classifica­ção, pelo BNDES, deverá impactar as vendas neste primeiro semestre. Isso porque logo após a colheita da safra de soja, que termina em abril, os agricultor­es saem às compras. De acordo com Yuri Lukjanenko, gerente comercial AGCO Finance, banco das marcas Massey Ferguson e Valtra, a indústria está preparada. “Mais de 80% dos nossos financiame­ntos se servem dessa linha do BNDES”, afirma Lukjanenko. “A alteração deve elevar a participaç­ão desse segmento em nossa carteira.” No ano passado, de acordo com a Anfavea, a Massey Ferguson produziu 8 mil tratores de roda e a Valtra, 7,2 mil unidades.

No banco CNHIndustr­ial, que opera para as marcas New Holland e Case, cerca de 60% das vendas são financiada­s com recursos do BNDES. Alexandre Blasi, diretor comercial da multinacio­nal New Holland Agricultur­e, acredita em um impacto positivo nos negócios também entre os grandes produtores. “Os grandes produtores, que faturam mais de R$ 300 milhões, já tomaram quase todo o crédito disponível no BNDES”, afirma Blasi. O executivo diz que esse segmento está pronto para investir em tecnologia. CAMINHÕES Assim como no mercado de máquinas agrícolas, o setor de caminhões também tem uma expectativ­a de reação com os recursos que estarão disponívei­s via BNDES. No ano passado, foram financiado­s R$ 4,37 bilhões pelo

Fundo de Financiame­nto para Aquisição de

Máquinas e Equipament­os

Industriai­s (Finame), destinado a caminhões. Desse total, R$ 3,67 bilhões, valor equivalent­e a 84% foram destinados a produtores pequenos e médios. Segundo Alex Nucci, diretor comercial do Scania Banco, os financiame­ntos por essa linha de crédito, que representa­m 75% das aquisições caminhões da montadora, devem crescer justamente em função do agronegóci­o. Em 2016, a Scania vendeu 4,2 mil caminhões. “Cerca de 35% dos nossos clientes são ligados a esse segmento”, diz Nucci. “Por isso estamos otimistas.”

Nos últimos dois anos, o mercado de caminhões vinha patinando. O cenário foi fruto de uma ressaca da política de crédito excessivam­ente favorável do governo federal em 2013 e 2014, que fez com que os caminhonei­ros e empresas do setor antecipass­em a renovação da frota em um mercado que já estava aquecido. No ano passado, entre todas as categorias, de leves a pesado, foram licenciado­s no País 50,6 mil caminhões, a menor quantidade desde 2002. Naquele ano, foram vendidos 137 mil caminhões. Paulo Pinho, superinten­dente do Banco Volkswagen, diz que o setor deve conhecer os primeiros sinais de recuperaçã­o neste mês. “É difícil estimar agora o tamanho desse impacto, porque o início do ano é sempre mais fraco do que os demais meses”, diz Pinho. Segundo a Anfavea, a MAN vendeu 13,7 mil caminhões em 2016, ante 40,8 mil unidades em 2013 e 36,2 mil unidades em 2014. “Em função da renovação da frota ocorrida em 2013 e 2014, o nível de vendas neste ano pode não ser tão alto quanto o aumento da produção agrícola esperado”, afirma Pinho.

Os grandes produtores já tomaram quase todos empréstimo­s disponívei­s"

Alexandre Blasi, diretor comercial da New Holland Agricultur­e

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FAVORáVEL: mercado de máquinas dá sinais de reação, o de caminhões pode ser o próximo

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