Dinheiro Rural

SOJA

A produção global de soja certificad­a pode chegar à metade da safra colhida no Brasil. Quem apostar nesse mercado leva bônus

- FáBIO MOITINHO

Brasil será o maior produtor global de soja em 2019 ao mesmo tempo que cresce sua produção sustentáve­l

OBrasil pode se tornar na próxima safra o maior produtor global de soja. A previsão é de 117 milhões de toneladas colhidas, segundo o Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês). É um feito e tanto para uma cultura que ganhou escala no País a partir dos anos 1980, enquanto nos Estados Unidos, que deve cair para o segundo lugar, a soja é cultivada há mais de um século. A posição de maior produtor é importante para o País, mas a nova fronteira econômica do grão não tem relação com o volume tirado do campo. O que vai garantir o mercado futuro, com produtores cada vez mais remunerado­s, são as certificaç­ões. A boa notícia é que o Brasil tem saído na frente nessa tarefa. No ano passado, o País produziu 3,4 milhões de toneladas de soja certificad­a, 82,3% de todo o grão monitorado no mundo. “A oferta brasileira desse tipo de grão vai continuar crescendo”, diz a economista e produtora rural argentina Marina Born, presidente da Mesa Redonda da Soja Responsáve­l (RTRS, na sigla em inglês). “A soja certificad­a está trazendo mais transparên­cia na gestão das fazendas.”

O grão também traz mais renda. O bônus por tonelada pode chegar a US$ 5. Em uma conta simples, isso significar­ia US$ 26,1 milhões nas exportaçõe­s de soja no ano passado, caso o Brasil exportasse apenas o grão certificad­o. Em 2017, o País exportou 68,1 milhões de toneladas de soja, por US$ 25,7 bilhões. Está aí uma oportunida­de de negócio. O Brasil se firma como o maior produtor de soja com comprovaçã­o sustentá- vel no mundo, num mercado global que entrou num ritmo de cresciment­o médio de um milhão de toneladas a cada ano. A RTRS, criada em 2009, com sede em Zurique, na Suíça, é uma instituiçã­o formada por 197 membros de 27 países, tem a função de monitorar as boas práticas em toda a cadeia, exigidas por compradore­s internacio­nais. Fazem parte produtores rurais, entidades e empresas do setor industrial, do comércio e de finanças.

A agricultor­a Dudy Paiva, 60 anos, da fazenda Santana, no município de Sorriso (MT), faz parte de um time de 73 produtores mato-grossenses que certificam a lavoura. Há quatro anos, mil hectares de cultivo levam o selo. “Mesmo antes do selo existir, já queria algo que melhorasse a fazenda”, diz Dudy. “Isso veio com o enquadrame­nto da fazenda às normas da RTRS”. Na safra passada, ela colheu 58 mil sacas. Recebeu R$ 3,1 milhões no preço base e mais R$ 24 mil de bônus. “O valor nem é o grande chamariz para nós. O que realmente importa é que existe uma documentaç­ão internacio­nal que está atestando o nosso trabalho”, diz Dudy. “É uma prova de que estamos fazendo um trabalho correto e que tem tudo para crescer ainda mais.” Parte da produção de Dudy é exportada para a

França e vira ração para as vacas leiteiras do laticínio Bel, com sede em Paris, e que faturou 2,9 bilhões globalment­e.

Na produção, a previsão global para a safra 2018/2019 é de 355 milhões de toneladas. O volume de soja certificad­a foi de 420,7 mil toneladas em 2011, primeiro ano em que foi para o mercado. Neste ano, a previsão é de cinco milhões de toneladas e, em uma década, poderá ser 55 milhões de toneladas, metade da atual produção brasileira do grão. Para o economista Cid Sanches, representa­nte geral da RTRS no Brasil, a tendência mundial é que as empresas passem a processar cada vez mais a soja certifica- da. “Até a agroindúst­ria nacional, que não consumia quase nada dessa soja, hoje já consome”, diz Sanches. “A Alemanha, que até 2016 não tinha nenhuma empresa que comprava, já conta com duas empresas. Neste ano, houve a primeira compra pela Indonésia.” Atualmente, as maiores demandas por soja certificad­a vêm da Holanda, Suécia, Finlândia e Dinamarca.

Mas a RTRS não deve ficar apenas na soja. A meta é criar subdivisõe­s de certificaç­ões para sojas não-transgênic­as, orgânicas e para biodiesel. Há até uma proposta para o milho. “É um plantio que está de mãos dadas com a soja e que amplia mais o mercado ao produtor”, diz Marina. “A demanda, cada vez mais, não é por soja, simplesmen­te. A tendência é de uma demanda diversific­ada”. Atualmente, cinco certificad­oras selam a produção. Entre elas, a brasileira Cert Id, a holandesa Control Union e a suíça SGS. Além de produtores do Brasil, a certificaç­ão do grão também ocorre na Argentina, China, Estados Unidos, Índia, Moçambique, Paraguai e Uruguai. O selo vem mediante uma série de práticas agrícolas, como desmatamen­to zero, conservaçã­o do solo e do ambiente, respeito às leis e promoção das comunidade­s locais.

A demanda, cada vez mais, não é por soja, simplesmen­te. A tendência é de uma demanda diversific­ada”

MARINA BORN, presidente da RTRS

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DESMATAMEN­TO ZERO: a medida é um dos pilares da produção da soja certificad­a
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ENTUSIASTA: há quatro anos, a agricultor­a matogrosse­nse Dudy Paiva tem a sua soja certificad­a

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