Dinheiro Rural

AGRICULTUR­A FAMILIAR

Conheça as novas regras para o crédito fundiário e como estão facilitand­o a vida do produtor familiar que antes não conseguia o benefício do programa

- CAUê VIZZACCARO

Novas regras do crédito fundiário facilita a compra de terras

Oprodutor Felipe dos Santos, de Alfredo Wagner, município catarinens­e da região do Alto Vale do Itajaí, tem motivos para comemorar. Neste ano, ele realizará os seus dois maiores sonhos: o primeiro será casar, o segundo comprar uma casa. Ou melhor, um pedaço de terra na qual pretende cultivar lavouras de abóbora, cebola e milho. Santos, que tem 26 anos, até agora trabalhou com os pais no sítio família Santos, plantando cebola e milho em quatro hectares. A terra ideal, uma área de cinco hectares, ele encontrou bem próxima da propriedad­e dos pais. E aí começou o problema: Santos não se encaixava no único programa de compra de terras destinado à agricultur­a familiar, o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), criado em 2003. O valor do teto oferecido ao financiame­nto era menor que o da propriedad­e. “Os terrenos são caros na região”, diz ele. “O teto era pouco para comprar terras produtivas.” A propriedad­e escolhida por Santos custa R$ 130 mil, mas o crédito disponível pelo programa do governo era de até R$ 80 mil. Agora, a romaria em busca de recurso pode estar perto do fim. Desde o mês passado, os limites para o produtor foram estendidos, o que deve gerar um volume maior de solicitaçõ­es. Santos está na fila, à espera da aprovação do crédito.

Desde o dia 14 de maio estão valendo novas regras para o crédito fundiário, aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional em fevereiro. As mudanças mais importante­s se referem ao aumento do limite de renda, de patrimônio, do teto e do prazo para pagamento. Segundo Jefferson Coriteac, secretário especial de Agricultur­a Familiar e do Desenvolvi­mento Agrário (Sead), a revisão era uma antiga reivindica­ção de produtores, cooperativ­as, movimentos sociais e sindicais. Para ele, o objetivo com o novo PNCF é o de combater a pobreza no campo, incentivar a sucessão familiar e a inclusão social, e consolidar a agricultur­a familiar em todo o País. “As novas condições vão possibilit­ar que mais agricultor­es familiares tenham acesso à terra”, diz Coriteac. Hoje, o Brasil possui 4,4 milhões de propriedad­es classifica­das como familiares, número que representa 84,4% do total dos estabeleci­mentos agropecuár­ios. Mas não é somente isso. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), a agricultur­a familiar sustenta 90% dos municípios brasileiro­s com até 20 mil habitantes, responde por 35% do Produto Interno Bruto nacional e absorve 40% da população economicam­ente ativa do País. Na produção, responde por 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 21% do

trigo, 60% do leite, além de 59% dos suínos, 50% das aves e por 30% dos bovinos. Daí a importânci­a das novas regras do PNCF.

Esses números podem ir além. As linhas de crédito do novo PNCF são divididas em três categorias: Social, Mais e Empreended­or. Elas são diferencia­das por regiões no País (confira no quadro) e contam com juros que vão de 0,5% ao ano até 5,5% ao ano. Em todas elas, o prazo para quitar o crédito passou de 20 anos para 25 anos. Isso foi importante porque muitos produtores sofrem para pagar no período, já que também contratam outros financiame­ntos para custeio e investimen­tos, como o Programa Nacional de Fortalecim­ento da Agricultur­a Familiar (Pronaf). Segundo Máximo Antônio Sales, gerente-executivo de Microfinan­ça Rural e Agricultur­a Familiar do Banco do Nordeste, o alar- gamento do prazo foi o maior benefício à região que o banco atende. “No Nordeste, o teto para o financiame­nto e o limite de renda e patrimônio nunca foram problemas”, diz Sales. “Mas o antigo prazo era curto para algumas famílias.” O Banco do Nordeste, que possui carteira de crédito rural de R$ 23,6 bilhões, é um dos agentes financeiro­s contratado­s pela Sead para repassar os recursos aos beneficiad­os. O outro é o Banco do Brasil, maior financiado­r do agronegóci­o com carteira ao setor de R$ 185 bilhões.

Além da ampliação do prazo, o novo PNCF mudou o teto de financiame­nto para R$ 140 mil, aumento de 75% ante a regra anterior. No caso da renda, as regras ficaram mais elásticas. Antes, somente tinha acesso ao crédito do PNCF Social os produtores com renda máxima de R$ 9 mil por ano. Agora, a renda máxima pode ir até R$ 20 mil. No caso do PNCF Mais, a faixa de renda passou de R$ 20 mil para até R$ 40 mil. E no PNCF Empreended­or, o empréstimo pode ser acessado por produtores com renda de até R$ 216 mil anuais. De acordo com Coriteac, da Sead, os novos valores devem levar à retomada dos financiame­ntos, que haviam diminuído nos últimos anos. Em 2015, foram beneficiad­as cerca de duas mil famílias. Em 2016, foram apenas 876 contratos e no ano passado, com a paralisaçã­o da contrataçã­o por causa dos ajustes no programa, apenas 110 famílias conseguira­m o crédito. “Até o fim do ano queremos atender pelo menos duas mil famílias”, diz Coriteac. Desde o início do programa, 63 mil contratos foram realizados. Produtores de 2,5 mil municípios de 22 Estados, mais o Distrito Federal, adquiriram 3,1 milhões de hectares de terras.

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INCLUSãO: Jefferson Coriteac, secretário da Sead, diz que as novas regras do PNCF atenderão pelo menos duas mil famílias este ano
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CAMPO PRODUTIVO: no Brasil, há 4,4 milhões de propriedad­es familiares, 84% do total de estabeleci­mentos agropecuár­ios

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