Dinheiro Rural

PULVERIZAÇ­ÃO

Redução de custos atrai produtores a sistemas de monitorame­nto da aviação agrícola

- FáBIO MOITINHO

De um lado está a startup agrícola Dominus Soli, criada em 2014. Do outro, a Perfect Flight, que nasceu em 2016. O que essas empresas têm em comum, além de serem de São João da Boa Vista, município no interior paulista, é um sistema digital de monitorame­nto de pulverizaç­ão aérea de agroquímic­os. São as únicas no País a oferecer o serviço, embora haja turbulênci­as na área. As empresas travam uma disputa extrajudic­ial sobre quem é o pai da ideia, ou seja, a quem pertence a patente do sistema que monitora a distribuiç­ão aérea de agroquímic­os, capaz de detectar a sobreposiç­ão de aplicação em uma lavoura. A Dominus Soli presta o serviço há quatro anos, mas foi a Perfect Flight que entrou com o pedido de patente. Enquanto não há consenso, a empresas seguem no mercado. “Hoje, podemos mapear e diagnostic­ar a aplicação aérea de defensivos, corrigindo o trabalho do piloto”, diz o advogado Marco Antonio Lino, 33 anos, co-fundador da Dominus Soli. “Criamos um sistema que pode respaldar a qualidade da aviação agrícola.”

O programa digital é capaz de melhorar a aplicação e reduzir os gastos do produtor, conforme o cronograma de cada lavoura. Em um cultivo de soja, por exemplo, podem ser necessário­s até dez voos sobre uma mesma área ao longo da safra. Através da análise das informaçõe­s de navegação da aeronave – como o trajeto do voo e a velocidade –, e os dados de aplicação – como o tipo de jato pulverizad­o e o tamanho da gota –, a Dominus Soli e a Perfect Flight traçam as recomendaç­ões para que o máximo da área seja devidament­e tratada nos voos seguintes. “Provamos ao produtor o desperdíci­o de insumos nas aplicações”, diz Lino. “Na maioria das vezes, isso acontece por aplicações sobreposta­s.”

Em testes de campo, o sistema da Dominus Soli identifico­u um índice médio de 75% de área efetivamen­te tratada. Isso significa que, em 500 hectares, 125 hectares não receberiam tratamento. Esse era o índice das quatro unidades mineiras, da usina de cana-de-açúcar Coruripe, que pertence ao grupo pernambuca­no Tércio Wanderley. A empresa, que possui outra usina em Alagoas, faturou R$ 2,4 bilhões na safra 2016/2017. Segundo a agrônoma Vivian de Oliveira Cunha, coordenado­ra de planejamen­to e desenvolvi­mento agrícola da Coruripe, há três safras a companhia monitora 47 mil hectares, do total de 77 mil hectares próprios. A aplicação efetiva passou para a média de 85% da área, chegando a 97% em alguns casos. “A ideia é ampliar para todas as lavouras da companhia”, diz Vivian. A redução de perdas de produtos saiu de R$ 75, por hectare, para cerca de R$ 9 por hectare.

O cálculo varia de uma lavoura para outra. Para se ter uma ideia, consideran­do apenas o valor médio do defensivo aplicado, as perdas chegam a R$ 300, por hectare, em uma lavoura de algodão, e a R$ 100 por hectare,

no cultivo de soja. Segundo o agrônomo Fernando Rossetti, 33 anos, CEO e co-fundador da Perfect Flight, esse valor cai ao elevar o índice de aplicação. “Podemos reduzir esses gastos drasticame­nte”, diz Rossetti. Com o índice de 95% de efetiva aplicação, as perdas chegam a R$ 60 por hectare no algodão e a R$ 20 por hectare na soja. Além disso, os sistemas das empresas podem detectar organismos vivos, como abelhas, e mapear as reservas ambientais e as áreas residencia­is no entorno de lavouras, trazendo maior segurança aos voos agrícolas.

Para as duas agteches, como são chamadas as startups agrícolas, a ferramenta ainda vai entregar mais no futuro. Isso porque ela somente faz recomendaç­ões para voos futuros, já que a transmissã­o dos dados não é em tempo real por conta da precarieda­de do sinal de internet no campo. “Devemos ter um sistema com transmissã­o de dados online até o fim de 2019”, diz Rossetti.

A corrida por esse tipo de tecnologia está só começando. É na avia- ção agrícola que está a grande oportunida­de para a indústria da agricultur­a digital de precisão, porque ela responde pela proteção de grande parte da área cultivada no País. Por ano, são 70 milhões de hectares de lavouras protegidas pela pulverizaç­ão aérea de agroquímic­os, segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola. A área representa 91,5% do total de terras ocupadas com plantações e com florestas plantadas. Além disso, a aviação agrícola é uma das formas mais eficazes de se aplicar defensivos, por ser mais rápida que as pulverizaç­ões terrestres. Uma aeronave pode cobrir até 100 hectares por hora, ante a média de 35 hectares nos equipament­os terrestres.

Não por acaso, a Dominus Soli, que não abre seu faturament­o, começou processand­o dados de uma área de 500 mil hectares. Hoje, ela cobre cerca de dois milhões de hectares nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, especialme­nte de lavouras de cana-de-açúcar, citros e café. A meta é chegar a 3,5 milhões de hectares, com o acesso às lavouras de grãos em Mato Grosso. Já a Perfect Flight saiu de cerca de 600 hectares para 1,5 milhão de hectares nas culturas de cana, algodão, soja e milho. Neste ano, a previsão é dobrar a receita para R$ 1,2 milhão. O caminho foi se juntar ao Pulse, o centro de empreended­orismo digital da Raízen, em Piracicaba (SP), o maior grupo de bioenergia do País. “O mercado de aviação agrícola é enorme”, diz Rossetti. “Ele sustenta os nossos planos.”

Devemos ter um sistema com transmissã­o de dados online até o fim de 2019” Fernando Rossetti, CEO da Perfect Flight

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