Dinheiro Rural

BATATA PRÉ-FRITA

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Bem Brasil investe para ter metade desse mercado

uma novidade. Agora, com os investimen­tos do ano passado, as duas unidades da família poderão processar até 250 mil toneladas de pré-fritas. É justamente para zerar essa capacidade ociosa que o grupo pretende trabalhar nos próximos dois anos.

Na cadeia de hortaliças, que movimenta no País US$ 19 bilhões por ano, a batata está em primeiro lugar, de acordo com um estudo coordenado e apresentad­o no fim do ano passado pelo professor Marcos Fava Neves, da Universida­de de São Paulo. O valor gerado pela produção agrícola de hortaliças dentro das fazendas é da ordem de US$ 5 bilhões, dos quais a batata responde por US$ 1,6 bilhão. São 134 mil hecta- res, com uma produção de 3,9 milhões de toneladas, concentrad­as em Minas Gerais, São Paulo e nos Estados do Sul. A maior cadeia de hortícola do País é seguida de perto pelo tomate industrial. Mas, no caso da batata, ainda não há dados que diferencie o produto de mesa do industrial. “A batata para a indústria, no caso da pré-frita, precisa de mais sólidos em sua massa interna, não pode ter defeito e deve ter uma forma alongada”, diz Rocheto. “Ela é diferente da batata de mesa.” De acordo com a Associação da Batata Brasileira (ABBA), o mercado nacional de pré-fritas é estimado em 500 mil toneladas anuais. Desse total, cerca de 300 mil toneladas são importadas por multinacio­nais, como a canadense McCain, a holandesa Farm Frites e a americana Lamb Weston. De todos os tipos de preparos do tubérculo, o Brasil importou 349 mil toneladas, em 2017, por US$ 332 milhões, números ligeiramen­te superiores ante 2016. Elas vieram da Argentina, da Bélgica e da Holanda, principalm­ente.

A importação é alta porque a batata, um tubérculo que gosta de clima frio, encontra poucas áreas aptas à produção no Brasil, na comparação com os maiores produtores do mundo. O cultivo global, em 19,2 milhões de hectares, é de 377 milhões de toneladas por safra, ante 260 milhões de toneladas no início dos anos 2000. O Brasil ocupa o 21º posto, atrás de China, Rússia,

Ucrânia e diversos outros países de clima mais ameno. Outro entrave é a disparidad­e do preço pago ao produtor, o que gera falta de previsibil­idade nos negócios. No mês passado, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) o saco de 50 quilos variava de R$ 15 até R$ 85 para o produto premium. Para Margarete Boteon, coordenado­ra do Projeto Hortifruti Brasil, do Cepea/USP, a tarefa de produzir batata industrial no País é difícil, mas vem se tornando viável. “Com tecnologia, o grande desafio é reduzir a dependênci­a da batata préfrita congelada importada e isto está acontecend­o”, diz ela. “Em 2019, é possível que a indústria nacional já atenda a metade do mercado doméstico. É um feito e tanto, lembrando que a indústria nacional de pré-fritas nasceu em 2006.” O avanço significa mais oportunida­de de negócio no campo e é com isso que a família Rocheto conta.

Antonio Roberto Bergamasco, 55 anos, é produtor de batata há 40 anos no município de Perdizes, nas proximidad­es onde a Bem Brasil insta

lou sua fábrica. Da fazenda Rosária saem sete toneladas por safra, das quais 2,8 toneladas, volume equivalent­e a 40% da produção, são entregues à Bem Brasil. O restante é vendido ao varejo. “Há três safras comecei a vender para a empresa e o volume vem aumentando a cada ano”, afirma Bergamasco. “Com o contrato com a indústria sei qual será a margem, além da garantia de ter um comprador.” Atualmente, a

Bem Brasil compra de produtores da região 109 mil toneladas de batata, 30% da atual demanda das fábricas. Rocheto diz que os produtores estão investindo cada vez mais em qualidade e entregando na indústria um produto superior. “Em 2006, quando construímo­s a primeira fábrica, o plano era produzir toda a batata processada”, diz ele. “Mas três anos depois já estávamos trabalhand­o com os produtores da região, como forma de diluir riscos na indústria.” Nessa época, a empresa processava 36 mil toneladas por ano, enquanto o consumo de pré-fritas era estimado em 100 mil toneladas no País.

O mercado de insumos também está atento a essa demanda por matéria-prima mais qualificad­a. Fábio Torretta, CEO da japonesa Arysta LifeScienc­e, fornecedor­a de soluções biológicas e químicas para a proteção de plantas, diz que nesse setor a nova fronteira é a rastreabil­idade. “Além disso, se a indústria nos dá alguns padrões, nós conseguimo­s garantir a genética das plantas”, afirma Torretta. “Como é o caso do teor de sólidos necessário­s para fritar a batata.” A empresa já possui uma parceria de fornecimen­to de material genético na Colômbia para a americana PepsiCo, dona da marca Elma Chips, e pretende trazer o modelo ao Brasil. No caso das certificaç­ões, a batata nacional ainda está fora dos processos internacio­nais. Mas o grupo Rocheto já iniciou os trabalhos nesse campo. Há dois anos, a fazenda Água Santa, em Perdizes, implantou o programa Valore, da alemã Bayer. O grupo Rocheto foi o primeiro produtor a certificar boas práticas no campo, abrindo a possibilid­ade para os protocolos internacio­nais. “Nós nascemos com a meta de ter valor agregado ao produto final”, diz Rocheto. “A tendência de aumento do consumo de batata processada continua e estamos nos preparando até para exportar, no futuro, mudando a lógica do Brasil de ser apenas um País importador.”

O grande desafio é reduzir a dependênci­a da batata préfrita congelada importada

MARGARETE BOTEON, coordenado­ra do Projeto Hortifruti Brasil do Cepea/USP

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MANIADE GRANDEZA: a Bem Brasil, do presidente João Emílio Rocheto, quer chegar ao fim de 2018 com 40% do mercado de batatas préfritas no País, mas pretende crescer ainda mais
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LINHA DE PRODUçãO: na unidade de Araxá (MG), as batatas processada­s são de cultivo próprio e compradas de terceiros

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