Dinheiro Rural

Depois dos tropeços, os acertos

- Vera Ondei, editora

As semanas finais da primavera em Paris estavam bem amenas, especialme­nte no dia 24 de maio. A temperatur­a máxima registrada foi de 25 graus. O clima para o Brasil era igualmente especial naquele dia, principalm­ente para um grupo de brasileiro­s que se reuniam na sede da Organizaçã­o Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla em francês), a cerca de dois quilômetro­s do Arco do Triunfo, um dos importante­s símbolos da capital francesa. Estavam lá o ministro da Agricultur­a e Pecuária, Blairo Maggi, o presidente da Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins da Silva Junior, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportador­as de Carnes (Abiec), Antonio Camardelli, e outros representa­ntes de entidades do agronegóci­o brasileiro, como a Sociedade Rural Brasileira. A eles foi entregue o aguardado certificad­o de zona livre de febre aftosa com vacinação para todo o País, já anunciado em abril pela OIE. Desde o fim da década de 1960, com a somatória de forças públicas e da iniciativa privada, o Brasil vem tentando se livrar do estigma da doença viral que ataca bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos. O último caso foi registrado em 2006. Hoje, a febre aftosa ficou definitiva­mente para trás, embora a guarda sanitária não pode ser baixada sob pena de ter a doença de volta.

A solenidade em Paris vem para amenizar uma onda de reveses atravessad­os pela agropecuár­ia brasileira desde o início do ano passado, iniciada com a Operação Carne Fraca. Depois vieram as delações dos irmãos Wesley Batista e Joesley Batista, herdeiros da JBS, e a Operação Trapaça, que fechou o mercado de exportação de carne de aves para a União Europeia. A Trapaça que, inicialmen­te, pegou a BRF no contrapé, acabou dando uma bela rasteira nas demais agroindúst­rias de produção de carne de aves do País. O prejuízo da cadeia avícola pode ultrapassa­r R$ 1 bilhão por ano.

Em busca de reaver parte da renda perdida, o governo vem anunciando novos clientes, como a Coreia do Sul para a carne suína. Outros clientes certamente virão, mas não pode haver mais espaço para tropeços. A cada dia se fecha mais o cerco para quem não é bem visto no mercado internacio­nal, e não há justificat­iva para deixar que o País coloque em risco todo o investimen­to tecnológic­o no desenvolvi­mento de uma agricultur­a tropical, altamente competitiv­a e em equilíbrio com o meio ambiente. O agronegóci­o é uma das maiores pautas econômicas para o Brasil. O setor respondeu por 21,6% de toda riqueza produzida, com R$ 1,4 trilhão no ano passado. O País é a grande potência agrícola do mundo e precisa se compromete­r à altura com tal status, porque há um mar de oportunida­des ainda para desbravar.

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