Dinheiro Rural

UM CAMINHO PARAOS TRATADOS

PARTICIPAR DE BLOCOS ECONÔMICOS É UM APRENDIZAD­O PARA O PAÍS, NOS QUAIS O CAMPO AINDA PODE GANHAR MUITO

- BÉth mÉLo

OOParis,Oimponente­imponente Palácio de La Muette, em Paris, abriga a sedsede da Organizaçã­o para a Cooperaçã Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDEOCDE). (OC Chamado de Clube dos Ricos, a OCDE é formada por 35 países. O Brasil está fora do clube, embora seja a nona maior economia do mundo, com um PIB de US$ 2,14 trilhões, segundo o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). “Entrar para a OCDE é uma opção clara de mercado”, afirma o embaixador brasileiro Rubens Ricupero, 81 anos, um dos diplomatas mais respeitado­s do País. “Significa aceitar um conjunto de normas que o órgão criou para os países desenvolvi­dos.” No caso, ter as suas políticas interna e econômica comparadas com as de outros países para a tomada de decisões, em um cenário de livre mercado. No setor do agronegóci­o, essa seria uma tarefa simples pela sua pujança, mas não para o País que tem índices de desenvolvi­mento humano e de renda per capita ainda baixos.

A ideia do comércio em blocos se tornou uma moeda corrente no início da década de 1990. Ela nasceu com o fim da polarizaçã­o política e militar entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, a chamada Guerra Fria. Os analistas políticos diziam que os conflitos internacio­nais dariam lugar a interesses comerciais, que por sua vez sustentari­am os blocos. O desafio atual é que as negociaçõe­s têm comportado um grande grau de desequilíb­rio, não apenas entre as economias das regiões dispostas ao comércio em bloco, mas também entre os países de cada bloco. Para o setor do agronegóci­o brasileiro, embora haja discrepânc­ias entre as economias, vender em blocos daria espaço para um planejamen­to mais consistent­e para crescer. E são várias as possibilid­ades. Além da entrada na OCDE, estão no radar as negociaçõe­s com a União Europeia, com os Estados Unidos, com a China e vários outros países asiáticos. Como os que formam o bloco Asean, a associação de nove nações do Sudeste Asiático e que hoje são receptivas ao agronegóci­o brasileiro, entre elas a Indonésia e a Tailândia.

No caso da entrada do Brasil na OCDE, os países que compõem o bloco representa­m a terceira fonte de divisas das exportaçõe­s de produtos agropecuár­ios do País. No ano passado foram US$ 30,2 bilhões, atrás dos países asiáticos e dos BRICs, sigla para Brasil, mais Rússia, Índia e China. Por isso, o Brasil solicitou, no ano passado, a sua entrada na OCDE. Em 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) do bloco foi US$ 49,7 trilhões, o equivalent­e a 62,2% do PIB global. Mas, por influência americana, a resposta dada em março deste ano foi negativa, justamente pelo peso do campo na economia local. Para o advogado Lucas Galvão de Britto, professor do Instituto Brasileiro de Estudos Tributário­s (Ibet), os Estados

Unidos vetaram o Brasil por causa das atuais disputas comerciais, como ocorre com a laranja e a carne brasileira. “A política comercial do presidente Donald Trump é marcada por certa hostilidad­e às economias fortes no mercado de commoditie­s”, afirma Britto. Trump deu apoio à adesão da Argentina, em razão das reformas conduzidas por Mauricio Macri.

Para facilitar r as negociaçõe­s do o agronegóci­o com os grandes blocos, s, o professor do Ibet bet diz que são necesssári­as eficiência e transparên­cia na a fiscalizaç­ão e na certificaç­ão dos produtos, para evitar problemas s como os que ocorrreram com os fri- goríficos brasilei- ros: a Operação Carne Fraca, no ano passado, e neste ano a Operação Trapaça, que investigam fraudes sanitárias. “Em mercados de commoditie­s não pode haver espaço para esse tipo de situação”, diz ele. “Mas o País já possui alguns tratados bilaterais para lidar com questões fiscais, entre eles com algumas potências asiáticas.” Eles poderiam ser uma espécie de sinalizado­r para acordos que estão na agenda do dia, como o fortalecim­ento do Mercosul e a sua parceria com a União Europeia.

De acordo com o professor Otto Nogami, da cadeira de economia do Insper, a dificuldad­e de fazer acordos levou o Brasil a se distanciar dos seus parceiros comerciais tradiciona­is nos últimos anos. No caso do Mercosul, o País é o representa­nte mais significat­ivo, mas tem dado prioridade aos parceiros fora do bloco. “Isso ocorreu porque o bloco é fragmentad­o e muitas vezes os países levantam barreiras contra seus próprios parceiros”, diz Nogami. “Como o Brasil tem agido sozinho, ele se tornou o patinho feio do bloco.” O PIB brasileiro equivale a 74,8% do PIB do Mercosul, que é de US$ 2,9 trilhões. Mesmo assim, para Rodrigo Lima, diretor-geral do Agroicone, entidade que reúne pesquisado­res do Instituto de Estudos do Comércio e Negociaçõe­s Internacio­nais, as negociaçõe­s com a União Europeia vão avançar, embora ainda haja muita discussão sobre as cotas para carnes, açúcar e outros produtos agrícolas. “A Europa é relevante”, diz Lima. “Ela é um mercado no qual as questões sanitárias e fitossanit­árias são fundamenta­is.” No caso, trazem um grande aprendizad­o ao Brasil de como atuar no exterior.

ENTRAR PARA A OCDE

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negociação: para rodrigo lima, do agroicone, as QuestÕes sanitárias sÃo prioridade para o bloco da uniÃo europeia

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