Dinheiro Rural

CRéDITO é

O CRÉDITO RURAL SE TORNOU O MAIS IMPORTANTE INSUMO PARA A EXPANSÃO DO AGRONEGÓCI­O EM TODO O PAÍS. MAS Já HOUVE ÉPOCA EM QUE ELE ERA MAIS ACESSÍVEL AO PRODUTOR

- FÁBIO MOITINHO

Especial apresenta como os avanços no campo estão relacionad­os com os recursos federais

Uma gigantesca operação começou em setembro, por todo o País, como ocorre todos os anos. No mês passado foi dada a largada para o plantio das primeiras áreas da safra 2018/2019, com a semeadura do amendoim, arroz, girassol, milho e da soja. A tarefa de cobrir uma área de 63,1 milhões de hectares até meados de dezembro é feita com uma frota de 1,2 milhão de tratores e 358,1 mil plantadeir­as. A área de plantio é equivalent­e a cerca de 3,4 milhões de Maracanãs. “Essa conquista é de grande responsabi­lidade da área da pesquisa”, diz o engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, 82 anos, ex-ministro da Agricultur­a e presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), com sede em Brasília. “Da década de 1970 para cá, o Brasil criou uma agricultur­a tropical altamente competitiv­a e sustentáve­l.” Além dos insumos obtidos daquela época, como sementes geneticame­nte melhoradas e

adaptadas a todas as regiões do País, defensivos de melhor qualidade e fertilizan­tes mais eficazes, outra matéria-prima essencial foi o crédito rural.

Para o advogado Francisco Turra, 76 anos, também ex-ministro da Agricultur­a e presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), um crédito subsidiado e com juros fixos possibilit­ou ao produtor a aplicação do que havia de melhor para a lavoura. “O produtor só passou fazer o uso dessa

crescente tecnologia porque sabia como pagar a conta”, diz Turra. Foi quando o País deixou, definitiva­mente para trás, um processo inflacioná­rio de cerca de 80% ao mês, entre junho de 1989 e dezembro de 1991 – a fase mais crítica, segundo a Fundação Getúlio Vargas –, que o crédito rural começou a chegar no campo e a produção cresceu ainda mais. Segundo Turra, que estava à frente do Ministério da Agricultur­a, Pecuária e

Abastecime­nto (Mapa) – na transição do primeiro ao segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, em1998 – era difícil convencer a equipe econômica da importânci­a do crédito no campo. “Havia uma cultura dentro da área econômica de achar que o crédito rural era um custo absurdo”, diz Turra. “Tive muito trabalho para desmistifi­car isso, mostrando que o retorno era muito maior.” E Turra convenceu. Na safra 2018/2019 há previsões que indicam uma colheita de 245 milhões de toneladas de grãos, 7,3% a mais que os 228,3 milhões no ciclo 2017/2018, estimado pela Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab). Consideran­do apenas os dados oficiais já consolidad­os, o cresciment­o da produção foi de 69% na última década. Nesse mesmo período o Produto Interno Bruto do agronegóci­o cresceu 92,4%, chegando a R$ 1,4 trilhão, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), de Piracicaba (SP).

Grande parte dessa guinada do setor foi influencia­da por aportes maiores ao crédito rural. Na safra passada foram subsidiado­s pelo governo R$ 152,8 bilhões, cerca de 2,4 vezes mais que na temporada 2008/2009. Para a safra que está começando, o governo sinaliza a aplicação de R$ 191,2 bilhões. “O crédito rural é um instrument­o fabuloso, mas é preciso avançar mais, para que ele continue forte sempre” diz Paolinelli. “Para isso, é necessário uma equipe econômica organizada e comprometi­da.”

A finalidade do crédito rural é financiar as operações de custeio de produção da lavoura, investimen­to em bens ou serviços e na comerciali­zação dos produtos, depois da colheita. É com uma economia afinada que o governo estimula a formação dos recursos mais pomposos para o investimen­to no setor. Atualmente, os bancos têm que destinar 30% dos depósitos à

vista e 60% dos depósitos em poupança rural para aplicar em operações de crédito rural. Essas duas operações correspond­em à maior fatia da origem dos recursos para o crédito rural. Na safra passada, elas respondera­m por 56,4% do montande de dinheiro. Também são tirados recursos da Letra de Crédito do Agronegóci­o (LCA), de fundos do BNDES e do Tesouro Nacional, entre outras fontes. São elas que garantem juros mais competitiv­os. Para os médios produtores, com renda bruta anual de até R$ 2 milhões, as taxas de custeio nesta safra foram reduzidas de 7% ao ano para 6% ao ano. Aos demais, caiu de 8,5% ao ano para 7%. Já as taxas para os financiame­ntos de investimen­to ficaram entre 5,25% ao ano e 7,5%. Na safra passada, a variação era de 6,5% ao ano, até 10,5%. “Agora, temos juros fixos bem razoáveis”, diz Turra. “E são eles que dão as garantias de investimen­to ao produtor.”

Com esse prospecto, os números de tomada de recursos cresceram nos primeiros dois meses de liberação de financiame­ntos do Plano Agrícola e Pecuário 2018/2019, em comparação com o mesmo período da safra passada. Foram 139,2 mil operações, somarando R$ 34,1 bilhões entre julho e agosto, 45% a mais que o mesmo período do ano passado. Para o secretário de Política Agrícola do Mapa, Wilson Vaz de Araújo, o bom desempenho do crédito rural, especialme­nte nos últimos cinco anos, reflete as grandes expectativ­as do produtor rural em relação ao comportame­nto do mercado agrícola. “Há recursos disponívei­s e os produtores recorrem ao crédito para aproveitar oportunida­des de negócios”, diz Araújo. “A maior atrativida­de por esses recursos foi a redução das taxas de juros. E, dentro deste quadro, observa-se o maior desembolso de recursos a taxas controlada­s do que a taxas livres, que são recursos mais baratos.” Entre os principais programas de financiame­nto destaca-se o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que teve aumento de 141%, por conta do incentivo para implantaçã­o de estruturas com capacidade de até seis mil toneladas, a taxas de juros de 5,25% ao ano. Já o Programa de Modernizaç­ão da Frota de Tratores Agrícolas e Implemento­s (Moderfrota), teve desempenho 55% superior ao da safra passada. “Esse incremento já era esperado, devido à redução das taxas”, diz Araújo.

Para Turra, o desenvolvi­mento de mais fontes de recursos também precisa ser seguido com o direcionam­ento de políticas específica­s, safra após safra. Isso é o vai permitir que cada vez mais produtores acessem os recursos, não só nas grandes culturas, como a soja, o milho e o algodão, mas também a produção de frutas, hortaliças, além das atividades pecuárias, como a produção leiteira e a criação de aves e de suínos. “É importante sempre se pensar em linhas específica­s para dar competitiv­idade a essas atividades, que, em geral, estão nas mãos de produtores da agricultur­a familiar.” Adicionalm­ente a essa visão de linhas específica­s de crédito, Turra também acredita que ações que promovam a educação financeira também sejam essenciais. “Isso é o que vai refletir cada vez mais a profission­alização do produtor e significar­á que o dinheiro não vai ser jogado fora.” A perspectiv­a é que ele seja melhor empregado, inclusive para que a produção agrícola não viva somente de commoditie­s, mas de produtos de maior valor alegrado.

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MáQUINAS EM CAMPO: no Cerrado, as operações de colheita têm de envolver uma grande quantidade de máquinas. O que tem sustentado isso é o crédito rural no País
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JUROS BAIXOS: para Wilson de Araújo, do ministério da Agricultur­a, as taxas estimulam a tomada de crédito nesta safra
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