Dinheiro Rural

Artigo

-

JOSé OTáVIO LEMOS, Zootecnist­a, produtor rural e escritor

zootecnist­a, produtor rural e escritor

AÍndia é a Mãe do Zebu. Mais ainda. A mãe dos bovinos na terra. Isso, comprovado pela ciência. Sim, o Bos primigeniu­s, popularmen­te Uro ou Auroque, foi o primeiro bovino do mundo e dele surgiu o Bos primigeniu­s namandicos (gado indiano, Bos indicus). E desse aí, o Bos primigeniu­s primigeniu­s (gado europeu, Bos taurus), e os cruzados, entre eles o africano (Bos primigeniu­s ophistonom­ous).

O Brasil nosso de cada dia, hoje, segurament­e, pode ser intitulado de Pai do Zebu. Sim, a genética nativa na Terra dos Marajás – depois o Novo País de Mahatma Gandhi –, entregou a genética zebuína e o trabalho genético feito no Brasil garantiu muito do que é produzido no planeta pelo gênero Bos.

Os dois países são importantí­ssimos na produção de carne e de leite. Mas muita gente não sabe que o maior produtor de carne do mundo é a Índia, com muita participaç­ão dos búfalos para isso. O país também é o maior produtor mundial de leite.

Porém, aconteceu um desastre lá no berço do Zebu. O uso fortíssimo de sêmen de raças europeias visando o incremento na produção de leite, desde a década de 1950. Isso fez com que o efetivo zebuíno puro diminuísse muito, aumentasse os tipos cruzados; e não se falasse em melhoramen­to genético propriamen­te dito em raças boas para o ambiente tropical. A Índia consome dez vezes mais doses de sêmen que o Brasil anualmente. Ou seja, um mercado que deve ser tratado com carinho para se ter como um cliente dos melhores.

Verdade que se vê bons animais lá. Catados à pinça. Mas sem controle completo de genealogia e produção. Nos últimos cinco anos, muitas tentativas foram feitas, visando uma vida familiar bonita entre o casal Índia-Brasil. Em fevereiro de 2015, em seminário nacional da Universida­de de Chennai, a conferênci­a de abertura – a qual tive a honra de fazê-la –, apontava que as nossas alianças precisavam de mais achego e anunciava que as primeiras doses de sêmen de touros gir do Brasil chegavam

“A Índia consome dez vezes mais doses de sêmen que o Brasil anualmente” JOSÉ OTÁVIO LEMOS,

na Índia. Agora, já temos netos de animais brasileiro­s nascidos indianos, e mostrando-se melhorador­es pelo fenótipo e produção. Outras remessas de material genético foram feitas posteriorm­ente e tantas já se anunciam.

Sim, a Índia permitiu a entrada de sêmen, embriões e animais zebuínos vivos brasileiro­s. Um excelente trabalho da atual gestão do Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto, em perfeita sintonia com a iniciativa privada, empresas e produtores rurais, abriram uma porta da grande suíte para os dois países se amarem muito e terem um casamento feliz, gerando uma nova progênie de muita consistênc­ia genética.

Já perambulei por lá, gostosamen­te, por várias vezes. Fui recebido pelo primeiro ministro, Narendra Modi, que se desdobrou em atenções. E por simples fazendeiro­s, com poucas vacas, que tentaram me agradar fritando ovos das suas belas galinhas índias. Foram refeições inesquecív­eis. No hinduísmo, religião da maioria indiana, o Deus Shiva anda pelo nosso planeta sobre o dorso do touro Nandi, zebu de fato, e, assim dissemina a genética forte nas várias paradas que faz. Não está escrito nos livros sagrados, mas fácil se atesta que o Brasil é um dos portos seguros para tal empreendim­ento internacio­nal.

Além do gado zebuíno, de bubalinos, da cana-de açúcar, do coco da Bahia, da manga e de tantas outras espécies para a nossa agropecuár­ia, até a nossa gente nativa tem um “jeitinho” indiano, afinal chamaram de índios. E bem fez a Mocidade Independen­te de Padre Miguel, no último Carnaval, cantar tudo isso desde a Supucaí pelo mundo afora, e com o samba-enredo ganhando o Estandarte de Ouro. Em 2018 se comemora os 70 anos de relações diplomátic­as oficiais entre a Índia e o Brasil. O “sete” representa obra completa, fim de um ciclo e começo de outro, que será abençoado na aliança, que tem forma de “zero”. A atmosfera parece conspirar para nos dizer: sigam em frente. O último algarismo que compõe este ano que estamos vivendo é “oito”. E ele tem o mesmo desenho do infinito.

 ??  ?? TERRA DO SAGRADO: da Índia vieram as raças zebuínas para transforma­r o Brasil no País com o maior rebanho comercial do mundo. Hoje, são cerca de 200 milhões de bovinos no campo
TERRA DO SAGRADO: da Índia vieram as raças zebuínas para transforma­r o Brasil no País com o maior rebanho comercial do mundo. Hoje, são cerca de 200 milhões de bovinos no campo
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil