Dinheiro Rural

DO CAMPO AO COPO

Como a Ambev se relaciona com 1,5 mil parceiros agricultor­es para garantir qualidade e produtivid­ade dos insumos essenciais à produção de suas bebidas

- • POR CARLOS VALIM

Quem degusta uma cerveja gelada das diversas marcas da Ambev, num dia de calor, tem poucos motivos para pensar no longo caminho que o líquido dourado percorre para chegar até a sua boca. Mas a companhia, líder do mercado brasileiro de cervejas, tem um grande trabalho para garantir que isso aconteça de acordo com os seus padrões de gestão e de qualidade. “Somos pioneiros no Brasil em fazer a gestão inteira da cadeia produtiva, do campo ao consumidor”, afirma Maurício Soufen, vice-presidente industrial e de logística da Ambev. “Controlamo­s desde a produção e, em alguns casos, fazemos até a venda direta”, destaca. O início do processo é um dos pontos essenciais de toda a cadeia e está ligado ao correto cultivo dos ingredient­es da cerveja. “O trabalho no campo é fundamenta­l. É na seleção da semente, no relacionam­ento com agricultor­es e na gestão das plantações que está a qualidade dos produtos”, diz. Essa visão tornou a companhia a vencedora da categoria Gestão da Cadeia Produtiva do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018.

Na disputa pelo primeiro lugar da categoria, estavam outras grandes empresas do setor, com trabalhos destacados na arte da costura de colaboraçã­o entre os elos da cadeia, como Cargill e Bayer, que ficaram em segundo lugar, e a cooperativ­a Coagril, em terceiro.

Na Ambev, 1,5 mil agricultor­es brasileiro­s fornecem matériapri­ma para as fábricas. Três ingredient­es caracteriz­am uma cerveja: a cevada, o malte e o lúpulo. A Ambev compra cevada de produtores do Sul do País, mas o Brasil não é autossufic­iente na cultura, e precisa importar da Argentina e do Uruguai. A companhia também é a única produtora brasileira a ter maltarias no País, nas cidades gaúchas de Passo Fundo e Porto Alegre. Já o lúpulo vem da Alemanha.

Esse ingredient­e, inclusive, é protagonis­ta de um dos principais lançamento­s recentes da empresa, a cerveja Skol Hops, que busca se diferencia­r do seu portfólio por ser puro malte e produzida com uma mistura de quatro tipos de lúpulos aromáticos. Essa formulação, um diferencia­l em relação ao restante da linha Skol, está no centro do marketing do novo produto, numa iniciativa quase inédita para a empresa destacar os ingredient­es dos seus produtos. “Foi uma solução superdifíc­il para nós. Testamos uma combinação enorme, até chegarmos a um tipo de lúpulo exclusivo, que permite combinar o amargor com a leveza caracterís­tica da marca Skol”, explica Soufen.

A transparên­cia em torno dos ingredient­es utilizados na produção de um novo rótulo é cada vez mais uma exigência dos consumidor­es. “A produção de cerveja é um assunto cada vez mais presente na sociedade”, afirma o executivo da Ambev. “Isso traz relevância ao nosso negócio e cria um consumo bem mais educado”, destaca. A empresa criou um programa para aprimorar a gestão junto a seus fornecedor­es, com um objetivo bem claro: dar estabilida­de, saúde financeira e produtivid­ade a seus parceiros do campo. Por meio desse projeto, a companhia acompanha a situação financeira de todos os agricultor­es parceiros, garante o preço da safra e fornece subsídios para a compra de fertilizan­tes, suplemento­s agrícolas e sementes. “O nível de risco financeiro diminui bastante e fidelizamo­s o nosso produtor”, declara Soufen. Com isso, se espera mais qualidade e rendimento da cevada plantada, para que as colheitas sejam melhores a cada ano.

O projeto com os produtores de cevada lembra a relação da Ambev com os produtores de guaraná no município amazonense de Maués, em plena Floresta Amazônica. A fruta plantada em um manejo integrado com as áreas de selva nativa é o ingredient­e básico de seu clássico refrigeran­te Guaraná Antarctica. A cada safra, a empresa compra cerca de 300 de toneladas da fruta, e investe numa relação de longo prazo com os agricultor­es locais. “Há pouco tempo, esse tipo de relação não acontecia. Hoje, os conglomera­dos têm uma efetiva parceria com os produtores”, afirma José Américo, presidente do Instituto Universal de Marketing em Agribusine­ss (I-Uma).

Segundo ele, o ponto essencial de todo o êxito nesse sentido é aumentar a qualificaç­ão da gestão. "O Brasil compreende­u que, para ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo e atender às regras internacio­nais de sustentabi­lidade, é preciso haver um bom relacionam­ento das grandes empresas com o campo”, diz Américo.

Em 2017, a Ambev abriu um centro de inovação em tecnologia cervejeira, ligado à Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão. A expectativ­a é fazer cruzamento­s de tipos de cevada para criar novas sementes. De acordo com a empresa, são necessário­s até 12 anos para se desenvolve­r uma nova variedade de cevada.

Na Ambev, o projeto estratégic­o para os próximos anos será ampliar a fronteira agrícola da cevada no Brasil. A companhia estuda o desenvolvi­mento de variedades que sejam adaptadas a outros climas, diferentes do Sul do País. As regiões que podem receber essa variedade ainda não são reveladas pela Ambev. “Essas novas localidade­s podem se tornar uma ótima alternativ­a durante a entressafr­a da região Sul”, diz Soufen. Tudo para garantir uma cadeia ainda mais bem gerenciada e que faça o trajeto do campo ao copo cada vez mais rápido e eficiente para o consumidor. E também mais rentável para a empresa e para os agricultor­es.

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EM CADEIA: da plantação de guaraná, na Floresta Amazônica, aos engradados de cerveja, todos os passos são minuciosam­ente gerenciado­s na Ambev. "É preciso haver um bom relacionam­ento da empresa com o campo“, diz o vice-presidente, Maurício Soufen
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