MUNDO DOS LEILÕES
Esqueça as fazendas rudimentares. A tecnologia chegou ao campo para ficar. E melhorar a vida de produtores, empresas e consumidores
Acontagem regressiva para o fim do trabalho rudimentar na pecuária está terminando. É consenso que a genética está diretamente ligada aos resultados e à rentabilidade. Indicadores técnicos comprovam que boas práticas de manejo, nutrição e investimento em qualidade do rebanho levam à sustentabilidade do negócio, dão diferencial às fazendas de gado, trazendo vantagens econômicas, ambientais e sociais. As raças zebuínas evoluíram, e as técnicas e tecnologias brasileiras são aprovadas e adotadas em todo o mundo, por sua qualificação. Pesquisa é um dos pontos fortes no cruzamento industrial, que conseguiu, com diversas raças, ganhos em vários aspectos, como desempenho, eficiência, qualidade, rusticidade entre outros.
Para Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), entidade responsável pelo registro genealógico das raças zebuínas há 80 anos e que incentiva o
melhoramento genético, o desafio é grande. A ABCZ e a Embrapa mantêm acordos de cooperação técnica desde 1983, uma parceria que ajudou a colocar o primeiro computador na associação e a realizar o também o primeiro sumário de touros. Hoje, o trabalho é para levantar o valor genético das raças zebuínas. “Segundo estudos publicados, nos próximos 10 anos, precisaremos aumentar em 20% a produção de alimentos, para atender à demanda mundial. Essa demanda encontra terreno adequado no Brasil, o único país do mundo com capacidade para aumentar a produção em seu território. E não é pouca, são 40% mais”, diz Borges.
O melhoramento genético, que sempre foi foco da entidade, entra também numa nova fase tecnológica: a era genômica, que é a possibilidade de produzir mais em menos tempo e com menos recursos. “No processo natural, o animal nasce, cresce e se reproduz, para, só depois, sabermos a capacidade produtiva dele. Com o genoma, podemos conhecer essa capacidade do animal ainda jovem: é o manejo em equilíbrio com a genética e a preservação do meio ambiente”, afirma Borges. No País, já foram feitos levantamentos genômicos em mais de 50 mil animais e seus marcadores moleculares. Com isso, se consegue encurtar o intervalo entre as gerações. Ainda segundo o presidente da ABCZ, o Brasil entra numa fase importante para abastecer a demanda dos países da América Central e do Sul, já que o melhor material genético bovino está nas fazendas brasileiras.
Para entender a importância do genoma, hoje para um touro ser avaliado como raçador positivo para produção de leite, com informações prontas e seguras, são necessários de 5 a 6 anos. “Com a avaliação genômica, isso acontece com 1 ano de vida do animal. E com um grau de segurança bastante alto“, diz Borges. “Com 18 meses, já é possível coletar material genético. Aos 3 anos, ele já tem filhotes”. Com o trabalho, é possível ter um banco de dados robusto com bases unificadas, que vai permitir a unificação das avaliações genéticas das raças zebuínas brasileiras.
A expectativa é ter o projeto desenvolvido em um ano, com um aporte de R$ 6 milhões de recursos do Governo Federal, só para 2018. O superintendente de Melhoramento Genética da ABCZ, Henrique Torres Ventura, acompanha de perto o programa. “É uma importante contribuição para a produção da carne. Aumentamos a eficiência produtiva dos animais e a produção fica mais sustentável“, afirma Torres. “A meta é atingir 100 mil animais genotipados, até o final de 2019”. O projeto deve seguir firme, já que há a previsão de mais investimentos com a participação dos criadores. Ao longo do tempo, esse tipo de trabalho vai acelerar o ganho genético dos animais e enriquecer o banco de dados. “Já temos 13 mil informações genômicas publicadas em um sumário. É a prova acurada, antes que ele tenha filhos. Ao longo das gerações, vai acelerar o ganho genético”, diz Torres.