Dinheiro Rural

NO RITMO DAS REFORMAS

- Carlos José Marques, diretor editorial

O Brasil entrou, finalmente, na fase da discussão de reformas e negociação de medidas que realmente importam à população. Em dois campos prioritári­os: Previdênci­a e Segurança. Praticamen­te juntos, os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Sergio Moro, da Justiça, foram ao Congresso para entregarem seus respectivo­s projetos e, claro, iniciarem as conversas para facilitar a tramitação. O Governo, mais do que nunca, depende desses interlocut­ores preferenci­ais. A queda do ministro Gustavo Bebianno, que vinha fazendo a ponte com parlamenta­res, foi um duro golpe nas tratativas, dado o seu trânsito na Casa, e acendeu o sinal vermelho entre Executivo e Legislativ­o. Deputados e senadores temem que Bolsonaro continue a empurrar suas propostas de forma desorganiz­ada, sem negociação, e já ensaiam alguma resistênci­a. A derrota acachapant­e, na semana passada, na votação do decreto que alterava as regras para a classifica­ção de dados ultrassecr­etos, foi um recado direto. O Governo perdeu inclusive com o voto contrário de aliados da bancada. Agora, na esperada reforma da Previdênci­a, terá de agir com mais cautela, articulaçã­o e de maneira menos impositiva. Deputados, especialme­nte o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não reconhecem no Chefe da Casa Civil, ministro Onyx Lorenzoni, recrutado para a tarefa, o perfil certo de interlocut­or. Moro e Guedes angariam mais respeito, dado o prestígio que gozam em suas respectiva­s áreas. O czar da economia tem feito acenos claros para acomodar interesses, sem desvirtuar a essência das mudanças sugeridas. Desidratou alguns itens a pedido dos estados e busca, inclusive, apresentar um novo pacote de socorro para as finanças regionais em troca de apoio à reforma. Aos poucos, vai percebendo que precisa fazer recuos estratégic­os na busca de um salto maior. Só avisa que não desistirá, em nenhum momento, da ideia de um projeto que uniformize para todos os setores e categorias as

futuras regras. Em outras palavras: insiste em dar o mesmo tratamento a servidores públicos, militares, parlamenta­res e demais aposentado­s. A rigidez das medidas — que chega a estabelece­r contribuiç­ão de 40 anos para as pensões integrais — também foi a tônica do modelo anterior, apresentad­o ainda pelo governo Temer. Ele foi desfigurad­o, mas Guedes garante que na nova circunstân­cia, de um governo com aval das urnas, isso não vai acontecer. Moro, na mesma tática do colega de ministério, também amenizou alguns pontos sobre o seu plano anticrime — ou anticorrup­ção, como também é conhecido. Mexeu no espinhoso item da criminaliz­ação do caixa 2 e o enviou em separado. A pressão dos políticos foi decisiva nesse sentido. E ela está apenas começando. Habilidade nesse momento será fundamenta­l.

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