Dinheiro Rural

O DECANO DA INTERVENçã­O ESTATAL NA ECONOMIA

João Paulo dos Reis Velloso acreditava na atuação do setor público para acelerar o desenvolvi­mento

- Cláudio Gradilone

Alonga trajetória do piauiense João Paulo dos Reis Velloso (1931-2019) pela economia brasileira ficaria marcada por uma frase mal colocada durante uma entrevista a jornalista­s internacio­nais em 1972. No auge do milagre econômico, Reis Velloso, então ministro do Planejamen­to do governo de Emilío Garrastazu Médici, disse, sem rodeios, que as empresas internacio­nais eram bem-vindas para se instalarem aqui. “Podem vir”, disse ele. “Ainda temos muito céu para poluir.”

A frase poderia fazer supor um tecnocrata gélido, mas essa é uma impressão errada. Velloso não é associado ao clima de repressão dos anos de chumbo, mas será lembrado como o planejador visionário que tentou destravar, ainda que no campo institucio­nal, a sempre encrencada infraestru­tura brasileira. “Ele era um homem muito amável, fácil no trato, e um dos economista­s mais envolvidos com o Brasil”, diz o economista Adroaldo Moura da Silva, ex-presidente da Comis- são de Valores Mobiliário­s (CVM). Reis Velloso atuaria na pasta do Planejamen­to nos governos de Médici e de Ernesto Geisel. Lá, ele coordenou as duas edições do Plano Nacional de Desenvolvi­mento ( PND), a de 1972 e a de 1974, e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea).

Após sair do governo em 1979, Velloso conseguiu apagar a frase infeliz de sua biografia. Morto na terça-feira 19, aos 87 anos, ele se reinventou como um dos principais pensadores econômicos do Brasil. Em 1988, ele realizou a primeira edição do Fórum Nacional, para discutir estratégia­s de desenvolvi­mento. Desde então, todos os anos, economista­s e pensadores se reuniam no Rio, em geral no prédio do BNDES, para discutir alternativ­as para apressar o desenvolvi­mento que, em geral, contemplav­am graus variados de intervençã­o estatal, na qual o economista jamais perdeu a fé.

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Planejador visionário não foi associado à repressão da ditadura REIS VELLOSO

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