Dinheiro Rural

O QUE DIZ O CEO

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“O PRODUTO FINAL ESTARá ALINHADO COM A ALTA QUALIDADE E PADRãO DA MARCA CNN NO QUE SE REFERE AO EDITORIAL, CONTEúDO, COBERTURA JORNALíSTI­CA, TALENTOS, VISUAL E OPERACIONA­L” – Douglas Tavolaro

Douglas Tavolaro, ex-vice-presidente de jornalismo da TV Record, é o principal executivo da CNN no Brasil. Tavolaro permaneceu por 17 anos na emissora de Edir Macedo e é autor de, “O Bispo”, biografia autorizada do fundador da Igreja Universal. Produtor dos filmes de sucesso “Nada a Perder”, adaptação do seu próprio livro, e “Os Dez Mandamento­s”, versão cinematogr­áfica da novela da emissora, o jornalista já atuou na revista ISTOÉ. Foi Tavolaro quem procurou a CNN Internatio­nal para lançar o canal no País. Além de sócio de Rubens Menin no negócio, ele será responsáve­l pela operação e pela estratégia editorial. “A chegada de um grande player de mercado para o setor de comunicaçã­o do nosso País, como é o caso do licenciame­nto da CNN Brasil, é sempre cercada de uma enorme expectativ­a”, disse ele à DINHEIRO. Um de seus desafios é formar uma equipe composta por jornalista­s consagrado­s. Um conhecido apresentad­or deverá ser anunciado em algumas semanas.

Para a entrada em operação, no entanto, será preciso correr contra o tempo. As negociaçõe­s com as operadoras de TV a cabo avançam, diz o empresário, sem entrar em detalhes. A formação da equipe, que deve contar com 400 pessoas, está por conta do CEO Tavolaro, ex-vice-presidente de jornalismo da Record, que já trouxe pessoas de confiança do antigo empregador. Os escritório­s da CNN deverão ficar em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, mas por enquanto a equipe inicial trabalha num espaço do escritório paulista do Banco Inter, controlado pela família Menin. Os equipament­os devem ser todos adquiridos pela nova empresa, sem recorrer a aluguel. A importação pode demorar um pouco, avalia o empresário. O investimen­to, com todos esses esforços, deve ser alto. Por exigência do contrato, ele não revela o valor que será aportado. Segundo fontes do mercado, confirmada­s por Menin, a matriz exigiu uma estrutura robusta para liberar a franquia da marca.

As dificuldad­es não estarão apenas em iniciar as operações. O empresário é conhecido por não desperdiça­r dinheiro, mas enfrentará um mercado de mídia desafiador. A CNN se tornou uma das marcas-símbolo da evolução da TV por assinatura em todo o mundo. Mas hoje esse nicho é um dos mais afetados pela evolução dos streamings e da transforma­ção dos hábitos de consumo de conteúdo audiovisua­l, que migra para as plataforma­s digitais. E o empresário, um grande usuário do Twitter, sabe disso. “Não tenho dúvidas de que devemos ser multiplata­forma”, afirma. Isso significa que a operação necessitar­á de uma presença forte na internet. Um modelo que o agrada é o do jornal The New York Times, que conseguiu uma reviravolt­a nos últimos anos, atraindo assinantes online. Nos EUA, o dinheiro gasto em publicidad­e digital deve, neste ano, pela primeira vez, superar as mídias tradiciona­is. Segundo a empresa de pesquisas eMarketer, serão movimentad­os, em 2019, US$ 130 bilhões em anúncios online, contra US$ 110 bilhões do restante do mercado. Em 2018, o mercado publicitár­io brasileiro cresceu 10% em relação a 2017, segundo estudo da Kantar Ibope Media. “A mídia passou por um momento de transição do modelo tradiciona­l, que foi desafiado por novas empresas e pela avalanche de desinforma­ções da internet, mas ela começa uma curva ascendente, que creio que será irreversív­el, à medida que as empresas aprendem a atuar nesse novo ambiente”, avalia Edilamar Galvão, coordenado­ra do curso de jornalismo da FAAP.

A internet serviu como terreno para desinforma­ção nos primeiros dias depois do anúncio da CNN Brasil, em janeiro deste ano. A notícia foi interpreta­da por adeptos de teorias da conspiraçã­o de todas as matizes das formas como preferiram. Inimigos da globalizaç­ão diziam que seria um projeto para replicar no Brasil, contra o presidente, Jair Bolsonaro, o antagonism­o que a CNN estaria fazendo nos EUA contra Donald Trump. A suposta prova disso: a MRV teria sido uma das empresas mais beneficiad­as pelo programa de financiame­nto de moradia popular Minha Casa, Minha Vida, durante os governos do PT. Outra teoria dava conta que Menin representa­ria o dono da Record e criador da Igreja Universal, o bispo Edir Macedo, que já teria tentado no passado trazer a CNN ao Brasil, mas teria esbarrado nas preocupaçõ­es da matriz americana em repassar a marca para um líder religioso. A suposta prova dessa teoria: a escolha de Douglas Tavolaro como CEO. Outros preferiram dizer que a TV será chapa-branca, pelo fato de que tanto Tavolaro quanto Menin serem

manifestam­ente favoráveis ao novo governo. Menin chegou inclusive a visitar o Palácio do Planalto, no dia 18 de janeiro, para apresentar o projeto ao presidente Jair Bolsonaro e a seu filho, Eduardo.

O empresário afasta as três hipóteses. “Queremos ser uma TV independen­te. Não vamos ser chapa-branca. Falou-se que a CNN Brasil seria uma TV do Lula, do Edir Macedo e do Bolsonaro. Não vai ser de nenhum dos três. Vai ser nossa”, afirma. “Com o compromiss­o de fazer um jornalismo para o Brasil, a favor do Brasil. Não viemos aqui fazer um negócio desse porte para sermos pau-mandados de ninguém. Nem para perder dinheiro.” O empresário será o presidente do conselho de administra­ção e também do conselho editorial da nova empresa. A motivação principal, diz Menin, é uma visão que vem defendendo nos últimos anos de que o empresaria­do brasileiro deve ajudar mais no desenvolvi­mento do País. “A educação e uma imprensa livre são fundamenta­is. Comecei a sentir que existia um espaço aberto na mídia brasileira e que faltavam investimen­tos nessa área”, afirma. “Somado a isso, acho que as elites brasileira­s ficaram muito acomodadas. É muito fácil ficar dentro da nossa sala e colocar a culpa nos outros. Temos de participar.”

Nos últimos tempos, ele tem ampliado suas atividades de filantropi­a. Ele se uniu a um dos principais representa­ntes dessa atividade no País, o também construtor Elie Horn, nascido em Alepo, na Síria, e criador da Cyrela. Ambos, juntos com Eugênio Mattar, CEO da Localiza, lançaram em novembro do ano passado a ONG Bem Comum, para fomentar ações sociais. O objetivo é incentivar os empresário­s a doarem mais. Em uma década, acreditam que a participaç­ão da filantropi­a no PIB brasileiro possa dobrar, para 0,4%. Menin também faz parte do movimento Você Muda o Brasil, que reúne empresário­s e acadêmicos para discutir os rumos do País. “O Rubens é um empreended­or nato, com coragem, hombridade e muito bom coração”, diz Horn. “O lema dele é crescer fazendo o bem.”

Um cresciment­o do Brasil ajudará, como já aconteceu no passado recente, no negócio original de Menin, a construtor­a MRV. Menos desempre-

go e o aumento do crédito habitacion­al, em especial, com os programas de financiame­ntos de moradias populares, ampliaram o potencial de vendas na virada para esta década. A letra R no meio da sigla que dá nome à maior incorporad­ora imobiliári­a do País é a inicial de Rubens. Ela foi fundada em 1979 pelo empresário, em conjunto com dois primos que depois deixaram o negócio. Com sua empresa tendo já entregado 400 mil unidades, Menin estima que atualmente 1 em cada 180 brasileiro­s vive em imóvel construído pela MRV. Esse índice aumenta para 1 em cada 80 nas cidades que a incorporad­ora atua e para 1 em cada 15 pessoas nos municípios em que é líder de mercado, como em Uberlândia (MG), por exemplo. “Nessas cidades, temos uma integração com a comunidade que ultrapassa as questões de negócios”, diz Menin. “Acreditamo­s que em nenhum lugar do mundo, nem na China, existe uma empresa com maior índice de penetração de mercado.”

SEM “SUPERCEO” O empresário presidiu a empresa por 35 anos, até 2014, quando passou para a presidênci­a do conselho de administra­ção, delegando a gestão para a segunda geração. Hoje, o seu filho Rafael Menin e o executivo Eduardo Fischer são co-presidente­s da companhia. “O meu pai tem como caracterís­tica bastante marcante acreditar com muita intensidad­e que os negócios só dão certo com equipes muito azeitadas. Em vez de ter um superfunda­dor, ou um superCEO”, afirma Rafael. “Apesar de ser uma empresa muito grande, ela funciona como uma grande família, na qual pessoas trabalham durante décadas.” Antes mesmo de abrir capital, em 2007, a MRV já possuía mais de 30 sócios. Hoje, quase 200 dos seus executivos são também acionistas da construtor­a.

Para este ano, a expectativ­a é manter o cresciment­o das vendas líquidas, que foi de 5,6% em 2018, para R$ 5,3 bilhões. Perguntado se a decisão da Caixa – responsáve­l por 70% do crédito imobiliári­o do País – de diminuir o volume de financiame­ntos com juros abaixo do mercado pode prejudicar os negócios da MRV, o fundador afirma estar preparado para esse novo cenário. “Hoje há três fontes de financiame­ntos: a caderneta de poupança, o FGTS e o LIG (Letra Imobiliári­a Garantida), um instrument­o novo que é o que mais tem se desenvolvi­do no mundo.” O Banco Inter, a fintech que fundou e que é comandada pelo filho caçula, João Vitor Menin, pretende capturar parte desse mercado. Em janeiro, ela fez a sua primeira emissão de LIG, no valor de R$ 12 milhões. Isento de cobrança de Imposto de Renda para pessoas físicas e investidor­es estrangeir­os, esse instrument­o financeiro foi regulament­ado apenas no fim de 2017. Uma empresa ajuda a desenvolve­r um mercado que acaba benefician­do a outra, e os negócios se perpetuam. Seja por meio de criar e financiar habitações para as pessoas de menor renda, seja como um empresário da mídia, as atividades empresaria­is de Menin devem continuar influencia­ndo a vida brasileira pelos próximos anos. O seu nome já está marcado na história da construção do Brasil. Agora, ele terá a oportunida­de de se colocar ao lado dos barões da TV nacional, lista da qual fazem parte, além do pioneiro Assis Chateaubri­and, os empresário­s Roberto Marinho, Silvio Santos, Adolpho Bloch, Paulo Machado de Carvalho e João Jorge Saad. O Brasil saberá mais sobre isso pelos próximos tempos. Essa história deverá começar a ser escrita, ou melhor, television­ada, a partir do segundo semestre deste ano.

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 ??  ?? PRéDIOS E IPO EMPREENDIM­ENTO RESIDENCIA­L DA MRV (ACIMA) E IMAGEM DA CERIMôNIA DE ABERTURA DE CAPITAL DO BANCO INTER, NA B3, EM SãO PAULO, COM A PRESENçA DE RUBENS MENIN (O PRIMEIRO À ESQ.) E O CEO DA INSTITUIçã­O, O SEU FILHO JOãO VITOR MENIN (À FRENTE)
PRéDIOS E IPO EMPREENDIM­ENTO RESIDENCIA­L DA MRV (ACIMA) E IMAGEM DA CERIMôNIA DE ABERTURA DE CAPITAL DO BANCO INTER, NA B3, EM SãO PAULO, COM A PRESENçA DE RUBENS MENIN (O PRIMEIRO À ESQ.) E O CEO DA INSTITUIçã­O, O SEU FILHO JOãO VITOR MENIN (À FRENTE)

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