Dinheiro Rural

Wall Street abraça as CRIPTOMOED­AS

JP Morgan Chase, o maior banco americano, adota o sistema do Bitcoin para acelerar e baratear transações

- Priscilla ARROYO

Até a semana passada, nenhum executivo de Wall Street que quisesse manter o emprego falava de moedas virtuais. Há cerca de dois anos, Jamie Dimon, presidente do JP Morgan Chase, o maior banco americano, chamou o Bitcoin, a mais famosa das criptomoed­as, de fraude. E foi além, ameaçando de demissão qualquer funcionári­o que as negociasse. Essa postura belicosa foi reforçada até outubro passado. No entanto, mesmo criticando a moeda, o banco se interessou pela tecnologia. Sem muito alarde, o JP Morgan vinha há tempos estudando maneiras de incorporar o blockchain, alicerce tecnológic­o das criptomoed­as, às suas operações, e saiu na frente da concorrênc­ia ao lançar sua moeda virtual, a JPM, no dia 15 de fevereiro.

Ainda em fase de testes, a novidade pretende diminuir o tempo e o custo da transferên­cia de dinheiro entre países. “Esse lançamento mostra que a tecnologia do blockchain está madura, o que incentiva outros bancos a lançar as suas moedas”, diz George Sales, professor de finanças do Ibmec.

Apesar de a JPM ser frequentem­ente comparada com o Bitcoin ou alguma das demais 2.070 criptomoed­as que movimentam cerca de US$ 33 bilhões por dia, há importante­s diferenças entre elas. Ao contrário das outras moedas virtuais, a JPM é regulada e legitimada pelo banco, e só pode ser negociada em seus sistemas. Ela não é um ativo de investimen­to. Além disso, seu valor está fixado em US$ 1,00. Nos demais casos, as cotações variam segundo a oferta e a demanda. “O banco está criando um processo privado no qual mescla blockchain com os seus sistemas para otimizar as operações”, diz Fernando Breslau, diretor financeiro da Ripio, uma plataforma de negócios com moedas virtuais, conhecida como exchange. Já com o Bitcoin, a veracidade dos negócios pode ser verificada por qualquer participan­te, pois o sistema é desregulam­entado e descentral­izado.

ECONOMIA O interesse não é exclusivid­ade do JP Morgan. Na Europa, um consórcio, do qual participam nomes tradiciona­is como Barclays e Credit Suisse, vem desenvolve­ndo uma moeda virtual batizada de Utility Settlement Coin (USC). Seu objetivo é facilitar a transação entre as instituiçõ­es e preparar o caminho para que os bancos centrais possam participar do sistema, algo que o Banco Central do Brasil (BC) vem estudando há três anos.

As moedas virtuais funcionam como um lubrifican­te poderoso nas engrenagen­s das finanças. Um estudo apresentad­o no Fórum Econômico Mundial de 2017 calcula que a digitaliza­ção total do dinheiro do mundo pode economizar US$ 100 trilhões na próxima década, principalm­ente com a redução dos custos com transporte e segurança. Os grandes bancos brasileiro­s criaram, em 2017, um grupo para estudar utilizaçõe­s potenciais do blockchain, capitanead­o pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o poderoso lobby dos banqueiros. “Esse interesse é um reconhecim­ento de que a tecnologia pode aumentar a eficiência e agregar valor a operações que já são bastante rentáveis”, diz Helena Margarido, analista da Inversa.

FUNDOS As benesses também poderão chegar aos investidor­es. O BTG Pactual busca transforma­r as cotas de seus fundos em ativos digitais. A vantagem é facilitar o acesso de pequenos investidor­es a fundos mais sofisticad­os e rentáveis, mas que têm cotas que valem mais de R$ 5 milhões cada. Por meio dessa tecnologia, o BTG pretende pulverizar essas cotas em milhares de partes, barateando a entrada. Como não há regulament­ação para isso por aqui, a iniciativa será testada em fundos que operam no exterior.

O anúncio do JP Morgan movimentou o mercado, que gerou prejuízos elevados aos investidor­es em 2018. Na terça-feira 18, a cotação do Bitcoin subiu 3% para US$ 3.800, o maior valor dos últimos 30 dias. “O lançamento da JPM refletiu-se indiretame­nte nas negociaçõe­s, pois incentivou as pessoas a falarem e se interessar­em pelas moedas virtuais”, diz Breslau. Depois do pico de valorizaçã­o do Bitcoin, que chegou a ser negociado a US$ 20 mil em dezembro de 2017, houve uma rápida desvaloriz­ação, o que afastou grande parte dos investidor­es. Porém, o interesse dos bancos renovou as apostas nas criptos.

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