Dinheiro Rural

O sucesso da mais antiga fintech brasileira O Tesouro Direto completa 17 anos alcançando a marca de 1 milhão de investidor­es ativos e um estoque de R$ 50 bilhões em títulos públicos negociados

- Lucas BOMBANA

Uma das primeiras fintechs brasileira­s – quiçá a primeira – está próxima da maioridade. Criado em 2002, o Tesouro Direto nasceu como a primeira ferramenta totalmente digital que permite a compra de títulos públicos diretament­e por pessoas físicas. Sua proposta é tornar o tema dos investimen­tos mais acessível ao público em geral. “Nós nos esforçamos para manter uma pegada bem moderna do Tesouro Direto, oferecendo ferramenta­s, como o simulador e o orientador, que são constantem­ente atualizada­s para melhorar a experiênci­a do usuário”, diz José Franco de Morais, subsecretá­rio da dívida pública da Secretaria do Tesouro Nacional.

A estratégia tem surtido efeito. A participaç­ão dos investidor­es com idade entre 16 e 25 anos no Tesouro Direto subiu de 5%, há quatro anos, para os atuais 18%. “Somos servidores públicos em um órgão do governo, mas gostamos de nos comparar com marcas do mundo digital, como o Uber e o Spotify”, diz Morais. Caindo no gosto do público jovem e do não tão jovem assim – a faixa etária entre 26 a 35 anos responde por 40% do total –, em abril o Tesouro Direto alcançou a marca histórica de 1 milhão de investidor­es ativos.

Em seus 17 anos de vida, o estoque dos títulos negociados pelo Tesouro Direto atingiu R$ 50 bilhões. O montante é relevante, mas representa apenas 1,5% da dívida pública. “O grande propósito do Tesouro Direto está muito mais relacionad­o à educação financeira do que ao financiame­nto da dívida pública”, afirma Morais. “A maior relevância do programa é que ele serve como um importante canal de comunicaçã­o entre o Tesouro Nacional e a população”, destaca.

SUPER VENCIMENTO Até o dia 15 de maio, o estoque de títulos em circulação era de R$ 60 bilhões. Nessa data, ocorreu o maior vencimento da história. Um título corrigido ao índice de inflação IPCA, emitido em 2013, distribuiu cerca de R$ 9 bilhões aos investidor­es. Quem comprou o título no momento da emissão abiscoitou um rendimento acumulado de 65%. Nada mau para uma aplicação sem riscos.

A praticidad­e do Tesouro Direto vem incentivan­do os aplicadore­s a destinar os lucros a novos títulos. Na corretora Coinvalore­s, muito ativa nesse mercado, cerca de 70% dos clientes fizeram a reaplicaçã­o. Segundo Marcio Espigares, gestor da mesa de varejo da Coinvalore­s, o reinvestim­ento preferido foi no título corrigido ao IPCA, que vence em 2024. “Com as incertezas do cenário global e local, os investidor­es ficaram receosos de colocar o dinheiro no mercado acionário e preferiram a segurança do Tesouro Direto e com um prazo relativame­nte curto”, declara Espigares.

São três os principais títulos que podem ser comprados pelo programa. Um deles é o Tesouro Selic, cuja rentabilid­ade varia de acordo com a taxa de juros referencia­l, hoje em 6,5% ao ano e perigando cair. Há, também, o Tesouro Prefixado, que informa ao investidor quanto ele vai receber no futuro e que vem proporcion­ando uma remuneraçã­o ao redor de 8% ao ano – ou 123% dos juros de mercado medidos pelo CDI. E ainda há o mais popular de todos, o Tesouro IPCA+, que paga juros ao redor de 4% ao ano mais a variação da inflação. A rentabilid­ade de cada título varia conforme o prazo. Os vencimento­s vão de janeiro de 2022 a agosto de 2050. Essas denominaçõ­es são nomes fantasia para os papéis. Em 2015, o Tesouro mudou as denominaçõ­es para facilitar a compreensã­o dos investidor­es não familiariz­ados com o papelório. O Tesouro IPCA+, por exemplo, é, na verdade, a Nota do Tesouro Nacional – Série B, a NTN-B para os profission­ais.

O Tesouro IPCA+ é o líder na preferênci­a dos investidor­es, com 44% do total vendido. Mais recentemen­te, porém, a chegada de novos investidor­es tem

“A maior relevância do nosso programa é que ele serve como um importante canal de comunicaçã­o entre o Tesouro e a população” JOSÉ DE MORAIS, TESOURO NACIONAL

feito crescer a preferênci­a pelo Tesouro Selic, que já representa 29% do estoque. “O Tesouro Selic é a opção mais conservado­ra”, diz Morais. “Como muitos que acessam o programa estão saindo da poupança e fazendo seu primeiro investimen­to, naturalmen­te eles optam pela alternativ­a de menor risco”. Sinal dessa cautela é que do total das aplicações, 64% são de até R$ 1 mil.

A cada mês, são cerca de 50 mil novos investidor­es que acessam o programa em busca de ganhos acima da poupança. A já não tão boa caderneta rendeu 4,62% no ano passado em termos nominais, mas com um ganho real de apenas 0,84%. Apesar do fraco rendimento, as aplicações na poupança ainda são de aproximada­mente R$ 800 bilhões. Para atrair um público cada vez maior, no inicio do ano o Tesouro Nacional reduziu os custos cobrados dos investidor­es. A taxa de custódia caiu de 0,30% para 0,25% ao ano. A economia que os aplicadore­s vão obter com a medida é próxima de R$ 30 milhões, segundo os cálculos do Tesouro. A liquidez diária, que permite a compra do título em um dia e a venda no seguinte, também ajuda no apelo. Títulos privados, além de oferecerem riscos de crédito, inexistent­e no Tesouro Direto, têm prazos que chegam a mais de um ano. “No entanto, não recomendam­os que o investidor compre e venda títulos com muita frequência”, afirma o subsecretá­rio. “Se o objetivo for lucrar no curtíssimo prazo, o Tesouro Direto não é a melhor opção”.

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