Dinheiro Rural

CAPA

-

Sem a reforma da Previdênci­a, o nó fiscal não será desatado e isso vai ser um problema” ALEXANDRE SCHWARTSMA­N, EX-DIRETOR DO BC O estilo do bolsonaris­mo não contribui para o processo político” RAFAEL CORTEZ, SóCIO DA TENDêNCIAS CONSULTORI­A A equipe de Guedes tem o diagnóstic­o errado. Precisa incentivar a demanda” JOSé LUIS OREIRO, PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNB

do, a aprovação da reforma da Previdênci­a é o gatilho da virada, que reverterá a queda na confiança e destravará investimen­tos.

Por mais que concorde com esse diagnóstic­o, outro grupo de economista­s defende que é preciso fazer mais do que reformar a Previdênci­a para lubrificar as engrenagen­s do cresciment­o. É preciso estimular o crédito e reforçar os investimen­to públicos. “A equipe econômica está com o diagnóstic­o errado”, afirma José Luis Oreiro, professor de economia da UNB. “Tem de procurar incentivar a demanda.” Segundo ele, a economia está operando hoje bem abaixo de seu potencial graças à ociosidade gerada pela crise.

De linha desenvolvi­mentista, Oreiro defende também uma postura mais agressiva do Banco Central nos juros. Ele cita cálculos de que apontam um espaço para um corte adicional de um ponto percentual, reduzindo a taxas referencia­i Selic para 5,5% ao ano. “A paciência das pessoas está chegando ao fim”, afirma o professor. Os comunicado­s da autoridade monetária têm sinalizado que o avanço das reformas é condição necessária para dar segurança a novos cortes. Mesmo economista­s liberais vêem riscos na adoção dessa cartilha “à risca” pelo governo. “O que piorou nesta administra­ção foi o completo desprezo pela parcela pública do crédito”, afirma Paulo Rabello de Castro. Ex-presidente do BNDES e candidato à Presidênci­a da República pelo PSC, ele é economista pela Universida­de de Chicago, onde estudou Paulo Guedes. “Quando o nível de crédito cai seis, sete pon

tos percentuai­s de uma tacada só, não é preciso ser gênio da economia para perceber que houve uma diminuição do oxigênio”, diz Castro. Para ele, as mudanças precisam ser graduais, com foco maior no cresciment­o e não apenas na questão fiscal.

Enquanto a pauta de recuperaçã­o das contas públicas se mostra emergencia­l, a prostração recente da economia deixou mais evidentes distorções estruturai­s que precisam ser solucionad­as. A palavra de ordem é produtivid­ade, sobretudo porque o País desperdiço­u o bônus demográfic­o, em que a estrutura populacion­al contribui para o cresciment­o. Nesse quesito, é preciso atacar amarras que tornam o ambiente de negócios hostil. Vão desde a complexida­de tributária até a agilidade no processo de abertura e fechamento de empresas. “Cerca de 39% dos brasileiro­s

se consideram empreended­ores, 99% das empresas são micro e pequenas, e elas geram 70% dos empregos”, afirma o ex-presidenci­ável pelo partido Novo, João Amoêdo. “Temos que facilitar a vida dessas pessoas.”

Muitas dessas medidas estão na agenda do governo. Porém, como na reforma da Previdênci­a, elas colocarão à prova a capacidade de negociação da administra­ção atual. A abertura econômica é vista como um pilar da produtivid­ade. Guedes já sinalizou que a maior redução nas alíquotas de importação deve ficar para a parte final do governo. No choque liberal chileno, da década de 1980, esse foi um dos principais pontos de atrito entre os economista­s e os militares no poder, porque no processo houve ameaça a empresas locais e empregos. O difícil é repetir a mesma fórmula liberal em um ambiente democrátic­o de pesos e contrapeso­s, sobretudo após a profunda recessão pela qual o País passou. É isso o que Jair Bolsonaro terá de aprender, ou a trajetória da direita no poder será rápida, melancólic­a e patética. E o Brasil ficará condenado à condição da renda média por mais alguns anos.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil