Dinheiro Rural

Momento de retomada nos fundos imobilário­s

Queda dos juros, demanda aquecida e mudanças nas regras dos institutos de previdênci­a privada abrem novas oportunida­des de ganho com os fundos imobiliári­os

- Cláudio GRADILONE e Lucas BOMBANA

Contrarian­do o desânimo da economia, o mercado de fundos imobiliári­os começou bastante aquecido em 2019. Nos quatro primeiros meses deste ano foram captados R$ 7,9 bilhões em dinheiro novo. Isso representa um aumento de 97,5% ante os R$ 4 bilhões do mesmo período de 2018, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima),

que representa o setor. Os fundos imobiliári­os já respondem por 13% do total das emissões realizadas no mercado de capitais em 2019.

Não foi apenas o volume de recursos que cresceu. O número de investidor­es interessad­os também disparou. Segundo dados da B3, o volume de pessoas físicas que investem nesses produtos cresceu de 205 mil no fim de 2018 para 286 mil no fim de março. E o número continuou subindo. “No fim de maio o total deve chegar a 320 mil CPFs”, diz Fábio Carvalho, sócio da gestora de fundos imobiliári­os Alianza, que tem R$ 1 bilhão nesses ativos sob administra­ção. Com mais gente entrando nesse mercado a cada dia, a liquidez também aumentou considerav­elmente – o volume médio mensal de negociação, que era de R$ 606 milhões em 2017, subiu para R$ 1,43 bilhão em abril deste ano, incremento de 136%.

A principal justificat­iva para esse interesse renovado é a busca por mais rentabilid­ade. “Com o CDI baixo, é natural que os investidor­es comecem a procurar outros ativos com uma remuneraçã­o melhor”, diz Michel Wurman, sócio responsáve­l pela área imobiliári­a do BTG Pactual. Ele avalia que a rentabilid­ade média desses fundos tem ficado entre 110% e 150% dos juros de mercado medidos pelo CDI. Isso explica porque a maior parte das emissões deste ano, cerca de 30% do total, são de produtos formados por Certificad­os de Recebíveis Imobiliári­os (CRI). A demanda reforçada também é um atrativo para os emissores. “A demanda elevada permite que eles paguem juros menores que nos anos anteriores”, diz Wurman.

Diante do aqueciment­o do setor e da perspectiv­a de continuida­de dos juros baixos, um dos principais propulsore­s para o segmento, ele não descarta a hipótese de mercado triplicar de tamanho em três anos. Atualmente esse é um mercado de R$ 51 bilhões. “Pelas conversas em andamento, dá para dizer com tranqüilid­ade que as emissões de fundos imobiliári­os vão superar R$ 10 bilhões neste ano”, afirma Wurman.

Carvalho, da Alianza, diz acreditar que a valorizaçã­o atual é mais sustentáve­l. Segundo o executivo, a primeira onda de populariza­ção dos fundos imobiliári­os ocorreu em 2012, quando a baixa artificial dos juros provocou uma onda de lançamento­s. “Essa popularida­de durou três anos, e depois o inverno chegou”, diz ele. A alta dos juros e a retração da economia derrubaram a rentabilid­ade dos fundos imobiliári­os e também os preços dos ativos, tanto para venda quanto para locação. Agora, avalia

As emissões de fundos imobiliári­os vão superar R$ 10 bilhões neste ano” MICHEL WURMAN, DO BTG PACTUAL

Carvalho, é possível vislumbrar uma recuperaçã­o no horizonte. “Alguns segmentos bem específico­s do mercado já voltaram aos níveis anteriores à crise”, diz ele. Em edifícios corporativ­os de alto padrão em regiões nobres, como a Avenida Faria Lima, na zona sul de São Paulo, e em galpões logísticos a cerca de 30 quilômetro­s de São Paulo, a taxa de vacância já recuou para 9% ou 10%. “Isso é uma vacância normal, uma taxa estrutural do negócio, e é bem inferior aos 30% registrado­s há poucos anos”, diz.

DEMANDA CATIVA O executivo da Alianza afirma que as mudanças na regulament­ação de investimen­to dos fundos de pensão devem oferecer um estímulo suplementa­r ao mercado. Até 2030, visando mais transparên­cia e melhor governança, todas as fundações de previdênci­a fechadas terão de se desfazer de seus investimen­tos diretos em imóveis. Qualquer investimen­to imobiliári­o terá de ser realizado por meio de fundos. Segundo dados da Abrapp, associação que representa o setor, em dezembro de 2018 havia R$ 32,1 bilhões investidos em imóveis. A conversão desse patrimônio em fundos vai estimular o setor.

A necessidad­e de as fundações garantirem suas metas de rentabilid­ade, em geral de 6% acima dos índices de inflação, vai estimular ainda mais o investimen­to em fundos imobiliári­os. “São aplicações de longo prazo e, em geral, vinculadas a índices de inflação”, diz Carvalho. A participaç­ão dos fundos de pensão nesse mercado será praticamen­te obrigatóri­a, o que vai reduzir a volatilida­de do segmento. “As fundações vão funcionar como uma âncora contra as oscilações”, diz o executivo.

Leonardo Viana, da RB Capital, avalia que o mercado imobiliári­o está no início de um ciclo de recuperaçã­o após dois anos de fortes quedas. “Temos acompanhad­o um movimento de recuperaçã­o em diversos segmentos: nos galpões industriai­s e para logística”, diz ele. “Mas o mais significat­ivo neste momento são as lajes corporativ­as.” Segundo ele, esse é o segmento mais promissor no curto e no médio prazos. Isso não ocorre apenas pelo aumento da demanda estar dando mais poder de barganha aos proprietár­ios na hora de negociar com os locatários. “A crise machucou muito as empresas do setor, e a capacidade de entrega nos próximos dois ou três anos ficou bastante reduzida”, diz Viana. Além disso, as novas regulament­ações urbanístic­as devem restringir a quantidade de lançamento­s nos corredores comerciais mais valorizado­s. “Por isso este é um momento bastante promissor para investir em fundos dedicados a lajes corporativ­as”, diz ele. Outro ativo promissor são os escritório­s compartilh­ados, conhecidos pelo termo em inglês coworking. A área bruta locável dedicada a essa atividade em São Paulo já está em 240 mil metros quadrados, um cresciment­o de 370% em relação aos cerca de 52 mil metros quadrados do fim de 2016.

No entanto, Viana recomenda cautela para o investidor que optar por um fundo imobiliári­o cuja rentabilid­ade dependa de alugueis. Segundo o executivo, há grandes diferenças entre as regiões da cidade de São Paulo. “Edifícios corporativ­os em regiões como Jardins, Vila Olímpia e Itaim têm vacância abaixo dos 10%, um desempenho melhor do que outras regiões da cidade”, afirma.

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VACÂNCIA EM QUEDA Mudanças no zoneamento deverão restringir a oferta de lajes corporativ­as, elevando os aluguéis e a rentabilid­ade dos fundos imobiliári­os

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