Dinheiro Rural

Aqueciment­o global coloca a cevada e o lúpulo em risco de extinção e ameaça o mercado da bebida

Estudo britânico aponta que o aqueciment­o global pode levar à extinção a cevada e o lúpulo, ingredient­es principais da cerveja

- FáBIO MOITINHO

Há cerca de 6 mil anos, o homem produziu a primeira cerveja. Foi uma criação dos sumérios, civilizaçã­o que habitou a região do Oriente Médio onde hoje fica o Iraque. E eis que agora, tanto tempo depois, os dois principais ingredient­es da bebida correm o risco de sumir do planeta. É que, devido ao aqueciment­o global, a cevada e o lúpulo, cultivados em regiões de clima mais frio, podem entrar em extinção. No Brasil, por exemplo, a cevada é produzida apenas na região Sul.

“Essas plantas estão expostas a um alto risco de desenvolvi­mento no campo”, afirma a bióloga Adriana Brondani, diretora do Conselho de Informaçõe­s sobre Biotecnolo­gia (CIB).

“Até agora, a pesquisa não produziu plantas suficiente­mente resistente­s ao estresse hídrico. Por isso, essas lavouras estão ameaçadas.” E já tem gente trabalhand­o para evitar o que seria uma tragédia aos amantes da bebida. É o caso do agrônomo Noemir Antoniazzi, pesquisado­r da Cooperativ­a Agrária Agroindust­rial, de Guarapuava (PR). “Estamos estudando cultivares de cevada e iniciando uma pesquisa com o lúpulo”, diz Antoniazzi. Seja no cenário mais ou menos alarmante, o fato é que a preocupaçã­o tem fundamento­s.

No ano passado, a emissão de gás carbônico (CO2) foi a maior da história. Foram despejadas na atmosfera mais de 37 bilhões de toneladas, 2,7% a mais do que em 2017, segundo o grupo científico The Global Carbon Project. No quadro mais otimista, mesmo com a redução de CO2 nos próximos anos, até 2100 a temperatur­a da Terra ficaria 2,3 graus centígrado­s mais quente. Na previsão mais lúgubre, o planeta pode ficar 5,4 graus mais aquecido. Com base nessas projeções, o pesquisado­r britânico Dabo Guan, da Universida­de de East Anglia, na Inglaterra, prevê a redução na produção da cevada e do lúpulo, diminuindo em 15,3% o consumo mundial da bebida. Isso representa­ria quase 30 bilhões de litros a menos, o equivalent­e ao consumo total de cerveja nos Estados Unidos. “O clima mais quente leva a anomalias no regime de chuvas e põe em risco essas culturas”, observa Adriana Brondani.

EM QUEDA No entanto, ela não acredita num final trágico. A salvação da lavoura poderia vir da engenharia genética e da biotecnolo­gia. De qualquer forma, a pressão climática não pode ser deixada de lado, especialme­nte para o mercado da cerveja, que movimenta globalment­e US$ 592 bilhões, segundo a consultori­a alemã Statista. No Brasil, a bebida gera cerca de US$ 30 bilhões por ano. No ano passado, a produção de cevada no mundo foi estimada em 138,8 milhões de toneladas, segundo o Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês). O resultado foi o mais baixo das últimas cinco safras. Por aqui, os produtores brasileiro­s devem colher 330,7 mil toneladas, 6,5% a menos do que a safra passada.

A Cooperativ­a Agrária, com 650 produtores e faturament­o de quase R$ 3 bilhões, é a maior produtora de cevada do País. A safra de 2018 foi de 139,4 mil toneladas, o que representa quase 40% da safra nacional. Para Antoniazzi, apesar das dificuldad­es climáticas, ainda é possível produzir com qualidade. “Nossa produção já é tão boa quanto a de outros países, como Estados Unidos e Argentina”, diz. Segundo ele, a cevada brasileira pode chegar a ter qualidade até mesmo superior a desses países. Enquanto o aqueciment­o global não complica tudo ainda mais, é bom pedir logo aquela saideira.

“Com o aqueciment­o global, essas plantas ficam muito expostas a um alto risco de desenvolvi­mento no campo” Adriana Brondani, Conselho de Informaçõe­s sobre Biotecnolo­gia

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil