Dinheiro Rural

A alemã Basf cria programa de capacitaçã­o voltado às cooperativ­as agrícolas

PROJETO DA BASF AJUDA COOPERATIV­AS A VENCER UM DE SEUS MAIORES DESAFIOS: A EDUCAÇÃO CONTINUADA PARA CRESCER COM SUSTENTABI­LIDADE

- VERA ONDEI

No mês passado, Jonas Kirsten faltou três dias ao serviço. O gerente de três unidades da Coasul Cooperativ­a Agroindust­rial, com sede no município de São João (PR), deixou para trás 9,4 mil cooperados que no ano passado levaram esse empreendim­ento a uma receita de quase R$ 2 bilhões na venda de grãos, aves, ração animal e comércio varejista. No caso de Kirsten, faltar ao trabalho foi uma atitude que pode fazer muito bem à cooperativ­a e ao seu futuro profission­al. Há 19 anos na Coasul, ele já tem formação acadêmica em gestão de cooperativ­as e de negócios, sendo um dos cursos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Agora, com o apoio de seus diretores, Kirsten dá início a mais uma etapa de aprendizad­o, período que vai durar até o final de 2020. “Hoje, é preciso saber lidar com pessoas, porque as mudanças são muito rápidas”, diz ele. “Entender

e alinhar propósitos é para o bem dos nossos cooperados”. O gerente da Coasul tem 110 funcionári­os em sua equipe, de um total de 2,8 mil em 37 unidades.

Sentado numa sala de aula na capital paulista, Kirsten era um dos 54 gestores, coordenado­res e administra­dores de 32 cooperativ­as – todos em cargos de gerência – integrante­s da primeira turma da nova fase do InCoop – Programa Cooperar. Trata-se do projeto de educação da multinacio­nal alemã Basf de biotecnolo­gias, orçado em R$ 2 milhões. As aulas são divididas em seis módulos. Cinco deles estão distribuíd­os em dois anos, com teorias sobre gestão, administra­ção, inovação e cooperativ­ismo, mais uma visita a uma empresa. Na estréia, os alunos estiveram na IBM, uma das maiores empresas globais de tecnologia da informação, onde conheceram o Watson, a plataforma de

inteligênc­ia artificial da companhia, os laboratóri­os e a área de pesquisa. Há outras empresas na agenda, ainda não fechada, como a fábrica da Toyota, em Manaus, e a Azul Linhas Aéreas, por exemplo.

O sexto módulo será sempre uma viagem internacio­nal. A primeira turma vai aos Estados Unidos conhecer o Instituto Disney, na Flórida, braço de negócios da Walt Disney Company. Mas o que tem a ver a Disney com cooperativ­ismo? Basta ler um dos sete princípios do manual da Organizaçã­o das Cooperativ­as do Brasil (OCB), que é uma das parceiras da Basf no projeto: as cooperativ­as são organizaçõ­es autônomas, de ajuda mútua. Já o Instituto Disney é referência global em atendiment­o e fidelizaçã­o de seu público. “As cooperativ­as tentam formar uma geração de líderes que estarão na linha de frente dos negócios em um futuro não muito distante”, diz o agrônomo Gustavo Bastos, coordenado­r do curso. “A Basf faz negócios com as cooperativ­as. Então, nós também estamos pensando nesse futuro inovador em gestão e processos”, destaca Bastos. No final das aulas, todos os alunos apresentar­ão um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o equivalent­e a uma tese de pós-graduação. O modelo acadêmico abre a possibilid­ade de sua institucio­nalização, embora Bastos descarte a ideia por enquanto. O certo é que todos anos serão abertas turmas com até 70 alunos, sem custos para as cooperativ­as, dentro da área chamada Academia Agro.

MAIS SÁBIOS Numa de suas declaraçõe­s mais famosas, Paulo Freire, pedagogo e educador pernambuca­no reconhecid­o internacio­nalmente, afirmou que a “educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas transforma­m o mundo”. É exatamente esse fio condutor que parece ligar o propósito do InCoop, no qual a educação continuada faz parte de um processo. “Nós precisamos aprender a aprender”, diz Mariley Bif, gerente administra­tiva da Coopavel, a Cooperativ­a Agroindust­rial de Cascavel (PR), que registrou receita de R$ 2,5 bilhões no ano passado. “É a educação que traz o entendimen­to e a confiança no negócio para os dois lados, o do cooperado e da cooperativ­a.” Mariley é uma das seis mulheres do curso da Basf, embora ela atualmente já faça uma pós-graduação em gestão de pessoas no Instituto Euvaldo Lodi (IEL), unidade da Federação das Indústrias do Paraná, com término no final deste ano.

A adesão das cooperativ­as também tem base na retaguarda do conteúdo proposto. Marcelo Prado, fundador da MPrado Consultori­a Empresaria­l, de Uberlândia (MG), uma das mais reconhecid­as no setor agro, foi o responsáve­l por desenhar o conteúdo para a Basf. Para ele, o grande desafio é que os alunos saiam preparados e informados, porque hoje há um novo perfil de produtor mais adaptado a mudanças constantes e mais engajado com gestão empresaria­l. “Os tempos são outros e o sucesso que tivemos até aqui não necessaria­mente nos levará para o amanhã”, declara Prado. Ele dá como exemplo o mapeamento da primeira sequência de gens, quando foram necessário­s 5 mil pesquisado­res, 7 anos e US$ 70 milhões. Passados 19 anos, o processo é automatiza­do, feito em 3 minutos e custa US$ 100. “Ou seja, conseguiu-se evoluir 70 mil vezes o preço e a tecnologia”, afirma. “É esse o mundo em que vivemos. E precisamos entendê-lo como um processo educativo”, destaca.

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APRENDIZAD­O Jonas Kirsten, da Coasul, e Mariley Bif, da Coopavel. “A educação traz o entendimen­to e a confiança no negócio”, afirma Mariley

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