Dinheiro Rural

ALTA PRODUTIVID­ADE

Saiba o que está por trás da corrida pela rentabilid­ade das fazendas

- FáBIO MOITINHO, DE LONDRINA (PR)

Oganho em produtivid­ade nas lavouras é um caminho sem volta”, diz o produtor de soja e agrônomo Maurício De Bortoli, 40 anos, dono da Sementes Aurora, localizada no município de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. “Hoje, temos uma série de ferramenta­s no campo que vão nos ajudar a ser cada vez mais eficientes”, afirma. Satisfeito com o serviço na safra encerrada em junho, Bortoli comemorou a produção média de 7,4 toneladas por hectare colhida em parte de sua lavoura. O resultado é duas vezes superior à média nacional, que é de 3,2 toneladas.

O Brasil é o maior produtor e exportador global de soja, mas poderia produzir ainda mais e com mais eficiência. Não por acaso, a batalha que hoje se trava no campo é pela produtivid­ade. É essa a missão de um setor que, nos últimos 10 anos, saiu de um volume de 68,7 milhões de toneladas para quase 115 milhões na safra 2018/2019, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab). Essa evolução de 67% significou um grandioso negócio para os produtores. O Valor Bruto da Produção (VBP) do grão, dado que leva em conta todos as riquezas que passam pelas propriedad­es, saiu de R$ 76,2 bilhões para R$ 147,7 bilhões em 2018, segundo o Ministério da Agricultur­a. No comércio internacio­nal a fatura triplicou na década. No ano passado foram US$ 33 bilhões.

No caso de Maurício De Bortoli, sua espetacula­r produção é uma mostra do que o Comitê Estratégic­o Soja Brasil (Cesb), com sede em Sorocaba (SP), uma entidade mantida por empresas do setor, tem proposto nos últimos anos: com tecnologia e gestão, a terra responde. A fazenda de Bortoli foi a grande campeã no mais recente Desafio de Máxima Produtivid­ade, com os resultados apresentad­os em Londrina, no Paraná. O projeto, que é realizado há 11 anos, mede a cada safra o potencial de lavouras em todo o Brasil. Bortoli diz que o resultado de sua propriedad­e se deve a uma boa oferta de genética de plantas de maior potencial produtivo, fertilizaç­ão e um controle de pragas e doenças mais preciso. “A agricultur­a de precisão e a digital estão ajudando a revolucion­ar o campo”, afirma o produtor. “Tudo isso, no final das contas, é para lucrarmos ainda mais”. A alta produtivid­ade da Sementes Aurora saiu de uma pequena área de 2,8 hectares, de um total de 8,4 mil cultivados. É essa a métrica para o desafio.

O monitorame­nto do Cesb nas áreas destinadas ao teste de campo – como se fosse uma corrida de Fórmula 1, em que a tecnologia impera – mostra um movimento que deve ganhar ritmo daqui para a frente. Nas fazendas, os investimen­tos têm sido maiores para ganhos de produtivid­ade. Mostra exatamente isso o estudo de Produtivid­ade Total dos Fatores

“Temos uma série de ferramenta­s no campo que vão nos ajudar a ser cada vez mais eficientes” Maurício De Bortoli, da Sementes Aurora

(PTF) sobre produtos agrícolas, elaborado por pesquisado­res do Mapa, Cepea-USP e o Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês). Os dados mais recentes relacionam o resultado obtido em 31 lavouras – e a soja é uma delas – com o custo de mão de obra, os insumos agrícolas e o uso da terra no desenvolvi­mento dessas culturas. Na última década, o índice de uso de capital, ou seja, investimen­tos, passou de 126% para 140%. Já os de mão de obra e de insumos caíram 0,9% e 11,9%, respectiva­mente.

NO CAMPO Os resultados do estudo expressam, basicament­e, o que produtores, como Bortoli, têm buscado para o seu negócio. No desafio proposto pelo Cesb, o custo da área de teste foi de R$ 3,3 mil, por hectare, e gerou um retorno de R$ 2,70 para cada

R$ 1 investido. “O custo é bem próximo do que foi dispendido para o total da lavoura”, afirma ele. “Acho que o manejo proposto é muito factível para qualquer sistema de produção.” A produtivid­ade média para toda a área de soja em sua propriedad­e foi de 4,4 toneladas, por hectare, 37,5% maior do que a média nacional e 32,5% acima da média gaúcha. No desafio promovido pelo Cesb, a média dos 10 principais produtores desta temporada foi de 6,9 toneladas por hectare, ante 4,7 toneladas na safra 2008/2009, a primeira medição do

“O produtor não põe preço na soja.Quem faz isso é o mercado” Leonardo Sologuren, presidente do Cesb

projeto. No atual período, a produção nacional saiu de um patamar de 2,6 toneladas por hectare para 3,2 toneladas.

Com dados de uma década, o Cesb quer, agora, fazer uma correlação entre os ganhos de produtivid­ade do País e aqueles obtidos nas áreas de testes. “Reunimos uma grande massa de dados. Nossa ideia é fazer uma leitura desse big data”, destaca o engenheiro agrônomo Leonardo Sologuren, diretor-presidente do Cesb. “Já estamos conversand­o com pesquisado­res da Embrapa sobre essa ideia”. O plano não é traçar, efetivamen­te, uma receita de bolo para o produtor seguir à risca, mas identifica­r os principais fatores ou a combinação de quais deles estão mais próximos do aumento de produtivid­ade. “É justamente nesse aumento que está a rentabilid­ade da fazenda”, diz Sologuren. “Porque o produtor não põe preço na soja. Quem faz isso é o mercado. Então, ele precisa controlar os custos”, observa o executivo do Cesb. Em 10 anos, o Brasil deve produzir cerca de 340 milhões de toneladas de grãos, dos quais 175 milhões serão de soja. Com as novas tecnologia­s digitais tomando conta das lavouras, a produção a baixo custo, por hectare, será um dos pilares da sustentabi­lidade para se chegar lá. “Os produtores estão buscando novos paradigmas para o seu negócio”, afirma Sologuren. “E isso vai beneficiar muito o campo”, ressalta.

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