MERCOSUL MERCO E UNIÃO EUROPEIA EUROP
O futuro de um acordacordo que representa 25% do PPIB global
Nos próximos dois a três anos, o acordo bilateral entre o Mercosul e a União Europeia (UE), assinado no final de junho, deverá superar inúmeras provações para que esse casamento se torne uma relação de fato. Passada a euforia do anúncio de um pro
cesso de durou duas décadas de negociações, os primeiros documentos sobre os princípios do acordo mostram que o desafio não será pequeno. “Acordo comercial fechado! Um momento histórico. Em meio a tensões comerciais internacionais, nós estamos mandando um sinal forte de que defendemos o comércio regulamentado. É o maior acordo comercial que a UE já negociou”, escreveu em sua conta no Twitter o presidente da Comissão Europeia, JeanClaude Juncker, logo após a assinatura, em Bruxelas. O compromisso entre os blocos cria uma das maiores zonas globais de comércio de produtos agrícolas, industriais e serviços, para uma população de 780 milhões de pessoas. Os dois blocos respondem por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, para uma economia global estimada em cerca de US$ 80 trilhões por ano, de acordo com o Banco Mundial.
No agronegócio, os países do Mercosul podem ser os mais beneficiados. Ele represebta um aceno a uma relação mais harmônica com a Europa, embora não seja de fácil resolução. Ao longo dos anos, os países do Mercosul sempre tiveram um histórico belicoso com os europeus por causa dos altos subsídios do Velho Mundo a seus agricultores. São cerca de US$ 70 bilhões por ano, em um dos sistemas mais gene
rosos do mundo. Não por acaso, está estampada em um grande painel no prédio da direção-geral da União Europeia para Agricultura a frase “Agriculture, je t'aime” (Agricultura, te amo, na tradução do francês).
Um dia depois da declaração do acordo, os produtores irlandeses já se manifestavam contra políticas de abertura de mercado. “Este é um mau negócio para a Irlanda e para os agricultores irlandeses, é um mau negócio para o meio ambiente e é um mau negócio para os padrões e consumidores da UE”, disse Joe Healy, presidente da Irish Farmers Association (IFA), em entrevista ao jornal The Irish Times, o mais influente desse país.
O maior medo desses produtores recai sobre a oferta de carne bovina, um dos setores mais importantes para eles e que movimenta cerca de 3 bilhões por ano. Para Healy, o acordo vai beneficiar apenas a indústria de bens, como carros por exemplo. No caso da França, seu presidente, Emmanuel Macron, afirma que o país tem questionamentos,
Osendo o principal relativo às condições ambientais brasileiras. Segundo tem declarado com insistência, o texto anunciado pela UE, sobre o acordo, não é suficiente para que o Acordo do Clima seja cumprido pelos países do Mercosul. Com a ajuda de autoridades e entidades de classe, os protestos dos agricultores europeus não estão descartados conforme o acordo ganhar corpo. A UE vai eliminar as tarifas de 92% de suas importações vindas do Mercosul em até 10 anos. Deve perder cerca de O 4 bilhões em tarifas alfandegárias anuais sobre as suas exportações.
POLíTICA EM CASA
Lançado em junho do ano passado pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), a Aliança AgroBrazil vai acompanhar os passos do acordo. No início de julho, 19 associações e federações do setor, além do Ministério da Agricultura, debateram o tema. “O acordo aumenta a competitividade do setor agropecuário brasileiro porque a UE é destino de cerca de 18% das nossas exportações”, diz Lígia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da CNA.
Em termos gerais, a UE vai liberar as importações agrícolas do Mercosul através da desgravação tarifária (82%), como é chamado o mecanismo de redução gradual das tarifas. O restante terá acesso via cotas, que também serão liberadas em um período mínimo de seis anos, até o máximo de 10 anos. A carne bovina, por exemplo, terá uma cota de 99 mil toneladas e tarifa reduzida. Já a cota Hilton, que engloba as exportações de cortes finos, terá a sua tarifa atual de 20% zerada.
A indústria frigorífica brasileira é um retrato do que pode ocorrer em outros setores dos países que formam o Mercosul. Um dia após o acordo, as ações das empresas nacionais de capital aberto tiveram uma expressiva alta na bolsa de valores. A JBS, com receita de US$ 50 bilhões no ano passado, dos quais 6% com os países europeus, viu suas ações subir 6%, indo a R$ 22,51. No caso da BRF, a maior exportadora global de carne de aves, o crescimento foi de 8%, saltando para R$ 31,91. No caso de produtos como suco de laranja, frutas (melões, melancias, laranjas, limões, entre outras), café solúvel, peixes, crustáceos e óleos vegetais, terão suas tarifas zeradas.
Para a ministra da Agricultura e Pecuária (Mapa), Teresa Cristina, o acordo entre os blocos vai ao encontro do que o governo brasileiro desejava. “Isso destrava o País e traz modernidade, principalmente para nossa agricultura”, diz a ministra. De acordo com Lígia, da CNA, ele é um passo importante em direção a novas conquistas de mercado, principalmente entre os países asiáticos. “A decisão abre as portas para que outros acordos possam ser concluídos em breve e que outras negociações sejam lançadas para benefício do agro”, diz ela. O Japão e a Coreia do Sul são exemplos de países que já se mostraram dispostos a acordos com o bloco sul-americano. O Japão tem um PIB de cerca de US$ 5 trilhões. A Coreia do Sul, de US$ 1,5 trilhão. No caso da Coreia, o intercâmbio comercial entre o país e o Mercosul foi de cerca de US$ 10 bilhões no ano passado.