Bem-vindo à “disrupção vegana”
Em 1798, quando o economista britânico Thomas Malthus publicou a primeira parte de sua polêmica teoria sobre a necessidade de um controle sobre o crescimento populacional humano, a grande fonte de preocupação que o afligia era a produção de alimentos. Filho de um rico proprietário de terras, ele supunha que, no futuro, não haveria áreas cultiváveis em proporção suficiente para enfrentar o desafio de abastecer toda a humanidade. A única solução, segundo Malthus, seria conter o aumento das populações para que todos tivessem o que comer. A teoria malthusiana reflete a visão de um homem, da era em que viveu, e sua moral (mais tarde ele se tornaria pastor da Igreja Anglicana). Passados mais de dois séculos de questionamentos, porém, essa teoria se mostrou equivocada – e por várias razões. A mais importante delas talvez seja ignorar o fato de que o aumento da produtividade no setor agropecuário não depende exclusivamente da ocupação de mais terras disponíveis para a lavoura e para a criação de animais para abate. Ela depende de encontrar as melhores maneiras de produzir alimentos. Em seu olhar para o futuro, Malthus levou em conta as técnicas do passado. Hoje sabemos que, desde a revolução industrial, a tecnologia avançou de forma espantosa em todos os setores, da irrigação ao melhoramento genético, do uso de máquinas que realizam no campo o trabalho de centenas de homens ao processamento dos alimentos indústria. Tudo isso nos permite fazer mais com menos – e assim alimentar um número maior de pessoas. A capa desta edição da DINHEIRO RURAL é uma prova de como pesquisa e inovação transformam rapidamente o setor de alimentos. Assim como tem ocorrido com tantos outros negócios, a indústria alimentícia tem sido obrigada a se adaptar às novas realidades de demanda e aos anseios do consumidor. Para cumprir essa missão, ela busca negócios disruptivos (ou seja, que provocam a ruptura do padrão vigente). É nesse contexto que nascem empresas como a Fazenda Futuro, que produz carne vegetal criada em laboratório com características capazes de simular o sabor e textura da mais autêntica carne bovina. A ideia de produzir esse tipo de alimento deriva de uma pressão cada vez maior da sociedade. A adesão ao veganismo, muito mais que uma moda, é uma onda que cresce por razões tanto ambientais quanto de preocupação com a saúde. Até pouco tempo, a decisão de reduzir (ou eliminar totalmente) o consumo de proteína animal esbarrava em grandes dificuldades. Isso mudou, graças à evolução da indústria, que criou os alimentos conhecidos como “plant-based” (literamente, “baseados em planta”). O termo em si é mais uma dessas invenções que supostamente agregam valor aos produtos, mas o que importa é o que ele simboliza: um avanço da indústria de alimentos no sentido de torná-la mais sustentável para o planeta e saudável para cada indivíduo. E assim vamos, passo a passo, nos afastando do cenário catastrófico imaginado por Malthus.