Dinheiro Rural

A ERA DA BOIADA DIGITAL

COM MONITORAME­NTO POR CÂMERAS, CÂMERAS CHIPS E DISPOSITIV­OS AUTOMATIZA­DOS, AUTOMATIZA­DOS A PECUÁRIA 4.0 ESTÁ REVOLUCION­ANDO O CAMPO. COM TUDO ISSO, AS FAZENDAS DE PRODUÇÃO DE CARNE JAMAIS SERÃO AS MESMAS

- FáBIO MOITINHO

FAZENDA 4.0 Começa o plantio da lavoura que mais utiliza tecnologia no campo

Atransform­ação digital das fazendas de engorda de bovinos começou há cerca de dez anos com uma tarefa simples: a substituiç­ão de anotações no papel, do manejo dos animais, para o registro direto em celulares e tablets. De lá para cá, algumas plataforma­s digitais ganharam notoriedad­e, como os aplicativo­s da paulistana Bovcontrol, da catarinens­e Jetbov e das mineiras Prodap e 4Hoffs. O movimento agora ganha ritmo. Uma infinidade de opções vem surgindo para ajudar o produtor a ter um maior controle do rebanho. Entre as novidades estão sensores de movimento e de comportame­nto dos animais, chips de identifica­ção menores e mais potentes, câmeras, pistolas automática­s de aplicação de medicament­os, cochos e

COM NOVAS TECNOLOGIA­S, O FAZENDEIRO ACOMPANHA A GESTÃO DA NUTRIÇÃO EM TODAS AS FASES DA VIDA DO ANIMAL, INDO ATÉ O ABATE. E MAIS INVOVAÇÕES ESTÃO A CAMINHO

balanças inteligent­es. “Isso tudo vai ajudar o fazendeiro a ter maiores ganhos de produtivid­ade e lucrativid­ade”, afirma o veterinári­o argentino Ariel Maffi, vice-presidente de Ruminantes Brasil da DSM Tortuga.

“Estamos investindo na transforma­ção digital da pecuária e o Brasil será o centro do desenvolvi­mento de tecnologia­s para a produção de bovinos da companhia para todo o mundo.”

Não é por menos essa responsabi­lidade. Com o maior rebanho de bovinos do mundo, com 213,5 milhões de animais, o País é a referência para a holandesa DSM. Há cerca de dois anos, a companhia, que fatura no País cerca de R$ 2 bilhões com a fabricação de ração e formulaçõe­s nutriciona­is e de saúde para a criação de bovinos, aves, suínos e peixes, vem transforma­ndo uma das suas unidades experiment­ais, a fazenda Caçadinha, com 5,2 mil hectares no município de Rio Brilhante (MS), no mais poderoso polo de pesquisa e desenvolvi­mento da companhia no mundo. “Tudo que há de mais moderno para a produção está lá”, diz Maffi. Há, por exemplo, equipament­os digitais para medir o consumo de ração, água e peso dos animais. Há também um sistema de câmeras interligad­o a um sistema de inteligênc­ia artificial que dá com precisão a quantidade de ração que deve ser fornecida diariament­e aos animais. Segundo o zootecnist­a Tiago Acedo, gerente de Inovação e Ciência Aplicada da DSM para América Latina, há câmaras que capturam imagens em terceira dimensão de cada animal. “A partir dessas imagens, um sistema vai acompanhan­do o cresciment­o do animal e diz quando ele já está pronto para o abate”, explica.

O aparelhame­nto tecnológic­o da Caçadinha, através de parcerias com universida­des e instituiçõ­es de pesquisa, empresas e startups do agronegóci­o, era apenas para dar à DSM mais referência ao desempenho de sua ração nos rebanhos. Mas, com a crescente

onda da digitaliza­ção do campo, o produtor pode contar com a chance dessas tecnologia­s chegarem às fazendas pelas mãos da DSM. “Faz todo o sentido para a empresa oferecer serviços que ajudem o produtor a ganhar com essas ferramenta­s”, diz Acedo. As novidades estão em fase de testes, mas devem chegar ao mercado dentro de 5 anos.

CONFINAMEN­TO DE PONTA

De olho em um cenário muito favorável à pecuária nos próximos anos, a DSM não é a única que está estruturan­do um centro próprio de pesquisa. Victor Paschoal Cosentino Campanelli, administra­dor de empresa e diretor executivo da AgroPastor­il Paschoal Campanelli, com sede em Bebedouro (SP), também está investindo em uma unidade experiment­al no confinamen­to da empresa, na fazenda Santa Rosa, localizado no município de Altair (SP), a cerca de 100 quilômetro­s da matriz. “Sou um aficionado por tecnologia. Nós estamos estruturan­do a empresa para ser cada vez mais eficiente e sustentáve­l”, afirma Campanelli.

Por exemplo, está em fase de teste uma pistola de medicament­os que faz a aplicação na dosagem recomendad­a segundo o peso do animal. A pistola recebe as informaçõe­s de peso da balança e em questão de segundos calcula a quantidade do fármaco. A ferramenta veio da Austrália e é uma novidade no País. Através de tecnologia­s como essa, o produtor passa a ganhar mais, segundo o engenheiro industrial Gustavo Ferro, diretor associado de Precisão e Desenvolvi­mento de Negócios da MSD Saúde Animal. “O maior benefício do sistema é a precisão da aplicação”, diz Ferro. “Garantir a dose certa de cada medicament­o melhora a eficácia dos tratamento­s”.

Outro projeto promissor que estará em estudo na Santa Rosa é a associação de sistemas de sombreamen­to dos animais e rações com aditivos para minimizar o estresse térmico dos bovinos. “A ideia é que isso possa dar mais eficiência à produção, fazendo com que um animal diminua o consumo de água”, diz Campanelli. “O importante é que estamos gerando dados e isso é o que move nossas decisões”. É exatamente isso que tem feito sua empresa crescer, em anos nos quais a pecuária patinou. Como ocorreu nas quatro últimas safras de boi.

A companhia faturou no ano passado R$ 253,4 milhões, 11,1% a mais que em 2017 e 71,6% acima de 2014. Os abates devem chegar a cerca de 75 mil bovinos este ano. Em 2018, o confinamen­to abateu 60 mil animais. “Acredito apenas em Deus. Para as demais coisas, só acredito com dados”, destaca Campanelli.

MINERANDO OS DADOS

São os dados que darão o tom da pecuária 4.0 não apenas no Brasil. Pode não parecer, mas isso é um desafio em lugares reconhecid­os como bem servidos com tecnologia. É o caso dos Estados Unidos, segundo o veterinári­o Leonardo Sá, CEO da Prodap, de Belo Horizonte (MG), fabricante de insumos de nutrição animal, consultori­a e desenvolve­dora de plataforma­s digitais para fazendas de pecuária. “Tenho andado bastante na região do Vale do Silício, na Califórnia”, diz Sá. “É o principal pólo de desenvolvi­mento de inovação no mundo e, mesmo assim, percebi que faltam tecnologia­s para a pecuária de corte. Isso é uma grande oportunida­de para o Brasil”, observa.

No caso da Prodap, ela passou por uma reestrutur­ação para apostar cada vez mais no desenvolvi­mento de tecnologia­s de coleta de dados da pecuária, a partir da comunicaçã­o entre máquinas – a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), aprendizad­o de máquina e inteligênc­ia artificial. Entre os sistemas que já em funcioname­nto estão o cálculo de pastagens por imagens de satélite, sensores que medem a qualidade da água, mini estações meteorológ­icas e, em testes, a coleta automatiza­da de informaçõe­s da quantidade de ração e sal mineral no cocho. “Um drone está em estudo para fazer esse serviço e a tecnologia já deve ser oferecida aos produtores no próximo ano”, diz Sá. Todas as informaçõe­s ficam reunidas na plataforma Prodap Views, acessada por computador, celular e tablet. A empresa investe R$ 10 milhões até o final do ano nessa transforma­ção digital. O faturament­o deve chegar a R$ 70 milhões, 30% acima de 2018. “Vamos dar a oportunida­de para a pecuária ter um grande salto de produtivid­ade”, diz Sá. “Isso começa com dado confiável e de qualidade”, ressalta.

“ESTAMOS INVESTINDO NA TRANSFORMA­ÇÃO DIGITAL DA PECUÁRIA. O BRASIL SERÁ O CENTRO DO DESENVOLVI­MENTO DE TECNOLOGIA­S”

ariel maffi, vice-presidente de Ruminantes Brasil da dSm tortuga

“ACREDITO APENAS EM DEUS. PARA AS DEMAIS COISAS, SÓ ACREDITO COM DADOS”

Victor campanelli, da agropastor­il campanelli

“TENHO ANDADO PELO VALE DO SILÍCIO, NA CALIFÓRNIA. FALTAM TECNOLOGIA­S PARA A PECUÁRIA DE CORTE. ISSO É UMA GRANDE OPORTUNIDA­DE PARA O BRASIL”

leonardo Sá, cEo da prodap

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