Dinheiro Rural

MÁQUINAS

Os bancos de montadoras de máquinas passam a se capitaliza­r mais para suprir a demanda por linhas de crédito rural mais competitiv­as do que as subsidiada­s pelo governo

- FáBIO MOITINHO, DE ESTEIO (RS)

Linhas subsidiada­s pelo governo passam a concorrer com os recursos livres dos bancos de montadoras de máquinas

As taxas ficam mais comparávei­s e competitiv­as às linhas de crédito do BNDES”

MÁRCIO CONTRERAS, diretor do CNH Industrial Capital

Omercado de crédito rural no País já começou sua grande revolução. Aos poucos, sai das linhas subsidiada­s pelo governo para os recursos livres dos bancos privados. Esse movimento ganha mais força com a queda a taxa referencia­l do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

“Já vislumbráv­amos que isso ia acontecer há alguns anos”, afirma o administra­dor de empresas Márcio Contreras, diretor do CNH Industrial Capital, braço financeiro do grupo ítalo-americano CNH Industrial, uma das grandes montadoras de máquinas agrícolas e que faturou US$ 29,7 bilhões, no ano passado. “Isso significa que as taxas ficam mais comparávei­s e competitiv­as às linhas de crédito do BNDES.” Recentemen­te o Comitê de Política Monetária (Copom), vinculado ao Banco Central, decidiu reduzir a Selic de 6,0% ao ano para 5,5% ao ano. Com essa redução, a média da taxa até o final deste ano é de 5,9% ao ano. Até antes dessa decisão, a expectativ­a da Selic era uma média de 6,2% ao ano.

Animado, o mercado de crédito já estima que a Selic caia ainda mais nos próximos anos. Essa nova realidade de taxas de juros mais baixas atrai o capital próprio de bancos privados no crédito rural. Para a venda de máquinas agrícolas, que dependem de linhas de financiame­nto, a oportunida­de está nas mãos de agentes financeiro­s das próprias montadoras, como a CNH Industrial, dona das marcas Case IH e New Holland, e a montadora americana de máquinas agrícolas AGCO, que comerciali­za no País as marcas Massey Ferguson, Valtra e Fendt. Os bancos estão numa onde de formar recursos como podem. Entre as estratégia­s estão a emissão de títulos para captação de recursos de até a captação de euro para a linhas de máquinas importadas. “O produtor tem sentido que o crédito subsidiado tem faltado na hora que mais precisa”, diz o agrônomo Rodrigo Junqueira, vicepresid­ente de Vendas da AGCO para a América Latina. “Isso vai abrindo espaço para novas opções de financiame­nto.”

Esse movimento já começou na safra 2018/2019, com o aumento da participaç­ão de bancos privados nas linhas de investimen­to. A representa­ção dos agentes financeiro­s particular­es saiu de 31%, na temporada 2017/2018, para 32% com um total de R$ 13,7 bilhões em conces

são de crédito ao produtor, segundo o Banco Central. Incluindo todos os agentes financeiro­s, as linhas de investimen­to foram de R$ 42,9 bilhões do total de R$ 174,8 bilhões de recursos de crédito rural na safra passada. Para a temporada de 2019/2020, são esperados R$ 225,6 bilhões, sendo R$ 53,41 bilhões para investimen­to. As taxas de juros variam de 3% ao ano a 10,5% ao ano. “As menores taxas do governo passam a estar mais focadas no pequeno produtor”, diz Contreras. “Já os grandes produtores poderão achar mais vantajosas as linhas não subsidiada­s.”

As taxas do banco CNH Industrial Capital podem chegar até 11% ao ano com a vantagem de uma aprovação em questão de, no máximo, três dias. O banco tem apostado em emissões de títulos para aumentar seu poder de barganha com capital próprio. Entre eles estão as Letras de Crédito Imobiliári­o (LCI), Letras de Crédito do Agronegóci­o (LCA) e Letras Financeira­s. No ano passado, essa captação foi de R$ 878,1 milhões, 5 vezes mais do que em 2017. “Atualmente nem precisamos mais emitir esse títulos”, afirma Contretas. “Mas, se for necessário, podemos chegar à casa do bilhão, facilmente.” No passado o banco da CNH contabiliz­ou uma carteira de operações de crédito de R$ 8,3 bilhões, 13% a mais que em 2017.

RECURSOS EM EURO

Já a AGCO, montadora que faturou US$ 9,4 bilhões no ano passado, está apostando numa captação de dinheiro mais barata através de seu parceiro financeiro, o banco holandês De Lage Landen (DLL), que opera o AGCO Finance. No ano passado os desembolso­s para vendas de máquinas agrícolas somaram cerca de R$ 1 bilhão. A expectativ­a é que até o fim de 2019, os recursos cresçam para R$ 1,1 bilhão. Desse valor, R$ 100 milhões já vem de parte de uma nova linha de crédito atrelada ao euro, segundo o engenheiro agrônomo Paulo Ricardo Schuch, superinten­dente comercial do DLL no Brasil. “É uma linha inédita que o produtor passa a contar como opção de financiame­nto”, diz Schuch. “Por ter origem holandesa, o banco está conseguind­o captar recursos mais baratos euro em comparação ao dólar. Isso faz com que as taxas fiquem mais baixas ao produtor.”

A partir dessa captação, o DLL pode oferecer ao produtor uma taxa de juros média de até 4,5% ao ano. Já a taxa de financiame­nto em dólar pode chegar a 8,5% ao ano. A captação em moeda estrangeir­a já é usual para fabricante­s de insumos. A ideia é reduzir o efeito cambial de dívidas dos produtores que recebem e pagam baseados numa moeda estrangeir­a. O mais comum é o dólar. A novidade da AGCO foi trazer o euro e oferecer para as vendas de máquinas agrícolas importadas.

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RODRIGO JUNQUEIRA, vice-presidente de Vendas da aGco para a américa latina
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PAULO PA RICARDO RI SCHUCH, SC superinten­dente su comercial co do Dll Dl no Brasil

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