CAROLINA HERNÁNDEZ TASCÓN, DIRETORA COMERCIAL DA COFCO
Do Brasil, a executiva colombiana Carolina Tascón comanda uma subsidiária da chinesa Cofco, numa operação que movimenta 10 milhões de toneladas de grãos por ano e gera mais de 1 mil empregos
Em 2016, a economista colombiana Carolina Hernández Tascón era gerente-geral da divisão de processamento da Noble Agri, companhia com sede em Hong Kong. Em março daquele ano, a empresa foi comprada pela gigante de alimentos China Oil and Foodstuffs Corporation (Cofco), estatal chinesa que pagou cerca de US$ 2,3 bilhões pelo negócio. Na mesma época, o Grupo Cofco, que é o maior processador, fabricante e comerciante de alimentos da China, também adquiriu a Nidera, empresa de commodities holandesa, por um valor na casa dos US$ 2 bilhões. Um ano depois, a gigante chinesa integrou as duas companhias, criando, assim, a Cofco International, uma subsidiária da matriz. Foi quanto a executiva colombiana se viu diante do maior desafio da sua carreira, até então.
“Fui convidada a assumir a Diretoria Comercial da Cofco”, lembra Carolina, que até hoje ocupa a posição, em São Paulo.
Aos 36 anos, casada e mãe de um menino de 3 anos – nascido no Brasil –, ela comanda seis unidades de negócio, que somam mais de 1 mil funcionários indiretos e movimentam cerca de 10 milhões de toneladas de grãos por ano, exportados para o próprio mercado chinês e para outros países da Ásia, Europa e Oriente Médio. Carolina também é responsável pela operação de biocombustíveis da Cofco, bem como da comercialização de produtos de valor agregado. Papel de peso e destaque numa companhia com receita global acima dos US$ 30 bilhões e cerca de 11 mil funcionários em 35 países, sendo cerca de 6,5 mil no Brasil. Em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, a executiva fala do atual momento do setor, da importância do País para o negócio e dos desafios e aprendizados que a crise global do coronavírus tem trazido.
RURAL – Qual a importância do Brasil na operação global da companhia Cofco?
CAROLINA – A importância é altíssima. Apenas para colocar essa questão em perspectiva, vale destacar que a plataforma internacional da nossa companhia possui 28 milhões de toneladas de capacidade, entre processamento e armazenagem doméstica, e 33 milhões de toneladas de capacidade portuária, isso distribuído em 94 ativos espalhados pelo mundo. O Brasil responde por 40% desses investimentos.
RURAL – Quais os produtos de maior peso nas relações comerciais da empresa com o Brasil?
CAROLINA – Dentro da plataforma de grãos e oleaginosas, nosso carro chefe é a soja, que representa cerca de 70% do negócio. Temos duas grandes plataformas. Numa, ficam açúcar, algodão e café. Na outra, ficam outros grãos e oleaginosas, como soja, milho e trigo. Cada um tem produtos de valor agregado. O biodiesel é um deles. A Cofco China tem uma capacidade instalada de processamento de mais de 20 milhões de toneladas por ano, sendo que a originação brasileira é estratégica para manter o pipeline rodando. Mas, por sermos também o braço de trading do grupo, nossas atividades comerciais não se limitam exclusivamente à estratégia de abastecimento de alimentos da nossa matriz. Temos também uma participação ativa na originação de milho e trigo no mercado brasileiro para abastecer fluxos globais a países de alto consumo, como nações da Europa, do Sudeste Asiático e do Oriente Médio, além do consumo doméstico brasileiro.
RURAL – De que outros países a Cofco mais compra e que produtos?
CAROLINA – A Cofco International faz um handling de mais de 114 milhões de toneladas, entre todas as commodities de seu portfolio (soja, milho, trigo, sorgo, proteínas, óleos vegetais, açúcar, café e algodão, entre outros). Estamos presentes em 35 países. Em todos eles, nossa relação com os produtores locais é muito importante.
RURAL – A companhia realiza algum tipo de programa para fortalecer as relações com os produtores brasileiros?
CAROLINA – Nossa missão é ser a primeira escolha do produtor brasileiro. Nossos esforços estão voltados em identificar os gaps que existem hoje na cadeia do produtor e tentar solucioná-los. Queremos usar nossa principal vantagem competitiva a favor deles, aproximá-los do principal comprador de soja do mundo: a China. Queremos que tenham acesso direto ao consumidor final. Pensando nisso, levamos, em 2018, dez produtores brasileiros de soja, milho e algodão para a China. Eles conheceram a estrutura da empresa, nossos portos, a sede, observaram como tudo funciona. Esse tipo de atividade é importante para que os produtores conheçam a Cofco de perto e entendam todo o processo.
RURAL – Em que áreas e etapas do processo o Brasil precisa melhorar para ser mais competitivo no mercado global?
CAROLINA – Ainda vejo grandes deficiências na área de infraestrutura e logística interna no Brasil. Nossa estrutura de custos domésticos precisa melhorar bastante,
“Ainda há grandes deficiências no Brasil. Temos períodos em que o frete do Mato Grosso para Santos (SP) custa mais do que de Santos para a China”