CITRICULTURA
Maior demanda por suco de laranja e dólar em alta favorecem produtores brasileiros
Maior produtor e exportador mundial de suco de laranja, o Brasil é responsável por 53% da produção global, a partir do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro, com 492,5 mil hectares em 11,5 mil propriedades rurais. Desse total, 98% são destinados à exportação. Na prática, os números traduzem um negócio que já é considerado muito bom. E pode ser ainda melhor. Entre julho de 2019 e abril deste ano, o Brasil enviou quase 915 mil toneladas de suco de laranja, alta de 17% em relação ao mesmo período do biênio anterior. Só para a Europa, o crescimento foi de 25%, com 635,6 mil toneladas. Pelo porto de Santos, em São Paulo, maior complexo portuário da América Latina, saíram, em abril, 164,4 mil toneladas do produto, aumento de 23% em relação ao mesmo mês do ano passado.
O faturamento também cresceu no período. O aumento foi de 4,5%, com US$ 1,52 bilhão, contra US$ 1,46 bilhão da safra anterior. Houve alta também nas exportações para China e Japão. A exceção ficou para os Estados Unidos, que registraram queda de 14%, provocada, principalmente, pelo aumento da produção local, em recuperação após problemas climáticos. Os EUA registraram os maiores volumes de estoques dos últimos cinco anos e a avaliação é de que o aumento das vendas no varejo tenha consumido partes dessas reservas. A percepção é de que o período de isolamento tem contribuído para a curva ascendente do consumo do produto no momento em que as pessoas estão passando mais tempo em casa. Entre 15 de fevereiro e 13 de março, na semana anterior à quarentena, os americanos consumiram 116 milhões de litros da bebida. Desde então, foi só crescimento. Entre 14 de março e 10 de abril, foram 133 milhões de litros.
grande safra, há uma queda na plantação. Um terço dessa produção, cerca de 100 milhões de caixas, atendem ao mercado brasileiro, onde há maior uso da fruta in natura, tanto para consumo e produção de suco feito na hora, diferentemente de boa parte do mundo.
Hoje mais diversificada, a Coopercitrus conta com cerca de 3,9 mil cooperados. Do faturamento de R$ 4,8 bilhões do ano passado, de 10% a 12% vieram da venda de insumos para os produtores rurais dessa cultura. Para o CEO da empresa, a quarentena decretada no estado de São Paulo não afetou diretamente o trabalho agrícola. “Nos primeiros dias, houve alguma incerteza, mas logo depois a constatação de que o segmento pertence à área de serviços essenciais, o que deu mais segurança para a cooperativa e para o produtor”, diz Degobbi. Com 2,8 mil colaboradores, o dirigente diz que foram adotados todos os protocolos de segurança e que até aqui, não houve registro de casos da Covid-19.
Por causa da grande produção da fruta na temporada passada, os estoques de sucos de laranja cresceram nas empresas processadoras. Auditoria realizada entre as associadas da CitrusBR mostra uma projeção de reserva, em 30 de junho, de 420.782 toneladas, acréscimo de 66% em relação a 253.181 toneladas do ciclo anterior. A estimativa é de que a produção total do suco de laranja na safra 2019/2020 chegue a 1.202.702 toneladas de suco concentrado e congelado, crescimento de 37,4% sobre a última produção.
Ainda que o aumento da exportação seja uma ótima notícia, a rentabilidade não necessariamente representa um ganho para as processadoras e produtores rurais, mesmo com o dólar perto de R$ 6. Isso porque o preço mundial vem caindo ao longo dos anos, também em parte pela grande produção. Na China, a tonelada do produto brasileiro custou, nesta safra, US$ 1.400 (cerca de R$ 7.700). Na anterior, saía por US$ 2 mil. Nos Estados Unidos, a diferença foi menor, mas também significativa. Na atual temporada, os americanos pagaram cerca de US$ 1.600 pela tonelada do suco de laranja brasileiro, contra US$ 1.800 da safra passada. Se o cenário caminha para o Brasil vender mais, também há expectativa para que o retorno seja maior na próxima safra. Do tamanho da importância da laranja brasileira no mundo.