Os frutos que nascem da adversidade
Édiante das maiores dificuldades que algumas plantas produzem o seu melhor. Quem já visitou um vinhedo na companhia do produtor com certeza ouviu a afirmação de que a videira gosta de sofrer. Quando a falta de água anuncia que seu fim pode estar próximo, ela reage nutrindo os cachos com maior concetração de açúcar e polifenóis — uma solução encontrada pela natureza para gerar sementes mais fortes e assim perenizar a espécie. Na prática, essa condição, conhecida como “estresse hídrico” (que pode também ser induzido pelo produtor), permite colher frutos mais sadios e capazes de dar origem a uvas, sucos e vinhos de qualidade superior. Foi o que ocorreu na safra 2020 em todas as regiões produtoras do País, já aclamada por especialistas como “a safra das safras”. Durante a vindima, a reportagem da Dinheiro Rural visitou a Serra Gaúcha para colher as impressões e expectativas quanto aos resultados para o setor. É unânime a convicção de que a mãe natureza fez sua parte, assim como o homem que vive das uvas e vinhos está fazendo o que lhe cabe, aprimorando suas práticas desde o maneho do vinhedo até as técnicas de vinificação. Contar apenas com os caprichos do clima não é o bastante. Se ele ajuda, ótimo; senão, tudo pode se perder.
Da mesma forma que a adversidade pode gerar bons frutos, é nas crises que se escondem grandes oportunidades. Prova disso é a maneira como o agronegócio brasileiro está lidando com a pandemia do novo coronavírus. Até o dia 26 de maio, a Covid19 havia causado 350 mil mortes no mundo, das quais 24 mil no Brasil. Enquanto a tragédia avança a galope, seus efeitos sobre o campo aparecem de formas variadas. Como revela a reportagem de capa desta edição, há setores afetados de forma brutal, enquanto outros vivem um momento de expansão, com aumento da demanda interna e/ou das exportações.
Ainda que os impactos econômicos do isolamento social adotado como estratégia da maioria dos países para conter o contágio traga como consequência nefasta o encolhimento do PIB, a redução da massa salarial e o aumento do desemprego (o que significa menos dinheiro para consumir), o mundo vai continuar precisar de alimentos ainda mais seguros e saudáveis, como o Brasil é capaz de fornecer. Evidentemente, não basta que sejamos bons naquilo que fazemos. É preciso convencer os mercados de que as nossas atividades sobre a natureza são as melhores para a sustentabilidade do planeta. E é aí que reside um desafio imenso. As notícias que o mundo recebe em relação às políticas de meio ambiente adotadas pelo governo brasileiro tendem a funcionar como antipropaganda do nosso agronegócio, com dados alarmantes sobre o desmatamento da Amazônia e outras ameaças à preservação dos nossos biomas.
Em um mundo mais preocupado com a saúde e a biodiversidade, é muito importante estar atento às exigências de quem pode escolher se compra ou não do Brasil. Por enquanto, a pandemia tem acenado com oportunidades para o agronegócio brasileiro — e nossa esperança é que continue assim. Mas, como mostra o coronavírus, um mero espirro pode ser fatal.