Em busca da xícara perfeita
Maior produtor e exportador de café, o Brasil é também um dos recordistas no consumo da bebida, com mais de 20,5 milhões de sacas no ano passado, atrás apenas dos Estados Unidos, que consomem anualmente 24 milhões de sacas de 60 quilos. Ainda que o consumo per capita no Brasil não o coloque entre os campeões mundiais (ocupamos a 14ª posição no quesito), o café está presente em 97% dos lares do País. E a história do Brasil seria outra, caso o café não tivesse florescido por aqui. Como se aprende na escola, a primeira muda da variedade Arábica foi oficialmente plantada no Pará, em 1727, por Francisco de Melo Palheta, que a teria conseguido na Guiana Francesa, depois de se aproximar de Madame D'Orvilliers, esposa do governador local. Desde a origem, portando, o café deve sua história no Brasil a uma mulher.
Responsável por gerar grandes fortunas nacionais e estimular o desenvolvimento de uma infraestrutura que incluiu a ousadia de implementar linhas férreas cruzando a Mata Atlântica em plena Serra do Mar, o café chega a este ano de 2020 conciliando uma realidade e uma promessa. A realidade é a expansão dos negócios que envolvem a bebida, seja por iniciativa de produtores empenhados em melhorar a qualidade do que plantam e colhem, seja pelo interesse de grandes empresas do setor alimentício, cuja atuação junto aos produtores tem redefinido conceitos arraigados por décadas em sucessivas gerações de cafeicultores. Como demonstra a reportagem de capa desta edição da DINHEIRO RURAL, assinada pela editora Lana Pinheiro, a união de produtores e grandes empresas está ajudando a melhorar o que bebemos a cada xícara e também o que exportamos para o mundo. É aí que entra a promessa mencionada acima.
Assim como ocorreu com a uva, que teve em 2020 sua melhor safra no Brasil, as condições climáticas que se combinaram ao longo deste ano podem permitir aos produtores de café um salto inédito nos atributos dos grãos que serão colhidos no próximo ciclo. A busca incessante de melhores resultados na lavoura tem sido um desafio para produtores e produtoras em diversas regiões do Brasil. Mercados cada vez mais exigentes têm pago verdadeiras fortunas por microlotes de padrão superior e o resultado é o aprimoramento das práticas no campo, no beneficiamento e na torrefação. Toda a cadeia produtiva sai ganhando com esse esforço pela melhoria, mas é sem dúvida o consumidor final quem mais tem a ganhar. Ainda que as melhores sacas continuem tendo exterior como destino final, foi-se o tempo em que o café bebido no Brasil era desproporcional ao fato de sermos o País número 1 do mundo em produção. É um orgulho poder testemunhar a trajetória de quem acorda cedo todo dia para fazer com que o Brasil, além de maior, dê também origem aos melhores cafés do mundo.