Superespeciais
Um nicho dentro do nicho é assim que são classificados os superpremiuns. Com produções extremamente limitadas, cafés desta categoria superam 90 pontos na escala da Specialty Coffee Association (SCA) e são comercializados sobretudo em leilões. Os preços superam facilmente seis dígitos em dólar. Alguns produtores brasileiros já fazem parte do restrito grupo.
Café Geisha - Fazenda Primavera
Em uma área de 33 hectares, no interior de Minas Gerais, um café com notas de jasmim, bergamota, frutas tropicais e silvestres é o menino dos olhos do produtor Ricardo Tavares. Batizado de geisha, o mesmo nome da cidade de origem na região sul da Etiópia, a subespécie africana 100% arábica percorreu um longo caminho até se consagrar no Panamá onde um lote chegou a ser avaliado em R$ 900 mil. Ao provar o produto, Tavares decidiu produzi-lo no Brasil. “É um café delicado, com notas de jasmim que precisa de altitude e de ambiente sombreado para dar bons grãos e em Minas temos o terroir ideal”, disse o produtor. Em 2018, o geisha da Fazenda Primavera levou o título de campeão e o recorde de café mais caro do Brasil, com 94 pontos e saca comercializada a R$ 72.946,36. No ano passado, ficou na vice-liderança do concurso.
Café Geisha - Fazenda Santuário do Sul
Outro entusiasta do geisha e suas características complexas é o produtor Luiz Paulo Filho, que detém recorde mundial no Cup of Excellence com 95.85 pontos, em 2005. “Em 2002 decidimos sair da zona de conforto, aí peguei as malas e fui ao Japão onde conheci mais sobre os especiais”, disse. Foi quando a Fazenda Santuário do Sul, localizada em Carmo de Minas (MG), tornou-se a primeira a produzir a variedade no Brasil. De acordo com o Luiz Paulo, como a produtividade dos pés é baixa, o valor tem que ser alto, o que o torna um café de relacionamento. “A comercialização é feita no tête-à-tête ou em leilões nos concursos internacionais”, disse. Por essas características, 2020 foi um ano de preços muito abaixo da média. Ainda assim uma saca especial da Santuário do Sul chega a ser comercializado entre R$ 15 mil e R$ 20 mil.
Café Frevo - Daterra Coffee
Há oito anos, Luiz Norberto Pascoal, proprietário da fazenda Daterra Coffee, em Minas Gerais, decidiu voltar parte dos investimentos no campo para a construção de sabores exóticos de café. Hoje são mais de 150 variedades em testes para que a cada ano microlotes de superpremiuns sejam enviados a concursos internacionais. Foi dentro dessa estratégia que, em 2018, a propriedade chegou ao café Frevo. “A bebida trazia notas de morango, abacaxi, champanhe”, afirmou Gabriel Agrelli, gerente de Desenvolvimento de Mercado da fazenda. A saca do Frevo foi adquirida em leilão por R$ 74 mil. Atualmente, o principal masterpiece produzido é também um geisha. “O café tem aromas de vinho branco, amora, bananada e flores, com sabores que também remetem a vinho branco, maçã verde, abacaxi, jasmim e mel” disse. Com pontuação de 94 pontos, a saca vale R$ 27.646,52.
Jacu Bird - Café Comacim
Fundada em 1962 por Olivar Araújo, foi somente em 1996, sob o comando de Henrique Araújo, que a Fazenda Camocim, no Espírito Santo, se concentrou na lavoura cafeeira. E de um jeito diferente: o foco foi utilizar o modelo de agrofloresta já implantado para produzir café biodinâmico. “É um produto de mais qualidade, mais resistente e que segue o ciclo da natureza”, disse Araújo. Foi assim que o grão foi eleito o campeão do Cup of Excellence - Brazil 2017, na categoria Naturals, com 93,6 pontos. A saca do lote vencedor foi leiloada por US$ 13 mil. Hoje, o carro-chefe da fazenda é o Café Jacu Bird. Ave típica da Mata Atlântica, o jacu escolhe os melhores frutos para sua alimentação e, após uma rápida digestão, expele os grãos, que são limpos e tratados. O quilo está à venda por R$ 700. Uma saca de 60 kg, portanto, sairia por R$ 42 mil.